terça-feira, 31 de agosto de 2010

Bocage: Sonetos. «Dos sócios o pior silvou qual cobra, desatou-se em trovões, desfez-se em raios, dando ao triste Bocage o que lhe sobra»

Cortesia de suumcuiquetribuerenuno

Soneto Ditado na Agonia
Já Bocage não sou!... À cova escura
Meu estro vai parar desfeito em vento...
Eu aos Céus ultrajei! O meu tormento
Leve me torne sempre a terra dura;

Conheço agora já quão vã figura,
Em prosa e verso fez meu louco intento:
Musa!... Tivera algum merecimento
Se um raio da razão seguisse pura.

Eu me arrependo; a língua quasi fria
Brade em alto pregão à mocidade,
Que atrás do som fantástico corria:

Outro Aretino fui... a santidade
Manchei!... Oh! Se me creste, gente ímpia,
Rasga meus versos, crê na eternidade!
Bocage, in «Rimas»
 
Aos Mesmos
De insípida sessão no inútil dia
Juntou-se do Parnaso a galegage;
Em frase hirsuta, em gótica linguage,
Belmiro um ditirambo principia.

Taful que o português não lhe entendia,
Nem ao resto da cômica salsage,
Saca o soneto que lhe fez Bocage,
E conheceu-se nele a Academia.

Dos sócios o pior silvou qual cobra,
Desatou-se em trovões, desfez-se em raios,
Dando ao triste Bocage o que lhe sobra.

Fez na calúnia vil cruéis ensaios,
E jaz com grandes créditos a obra
Entre mãos de marujos e lacaios.
Bocage, in «Rimas» 
 
Cortesia o Citador/JDACT 

Luís de Camões: Sonetos. «Cá, neste labirinto, onde a Nobreza, o Valor e o Saber pedindo vão às portas da Cobiça e da Vileza»

Cortesia de purl

Cá nesta Babilónia
Cá nesta Babilónia, donde mana
Matéria a quanto mal o mundo cria;
Cá, onde o puro Amor não tem valia,
Que a Mãe, que manda mais, tudo profana;

Cá, onde o mal se afina, o bem se dana,
E pode mais que a honra a tirania;
Cá, onde a errada e cega Monarquia
Cuida que um nome vão a Deus engana;

Cá, neste labirinto, onde a Nobreza,
O Valor e o Saber pedindo vão
Às portas da Cobiça e da Vileza;

Cá, neste escuro caos de confusão,
Cumprindo o curso estou da natureza.
Vê se me esquecerei de ti, Sião!
Luís Vaz de Camões, in «Sonetos»
 
Erros Meus, Má Fortuna, Amor Ardente
Erros meus, má Fortuna, Amor ardente
Em minha perdição se conjuraram;
Os erros e a Fortuna sobejaram,
Que para mim bastava Amor somente.

Tudo passei; mas tenho tão presente
A grande dor das cousas que passaram,
Que já as frequências suas me ensinaram
A desejos deixar de ser contente.

Errei todo o discurso de meus anos;
Dei causa a que a Fortuna castigasse
As minhas mal fundadas esperanças.

De Amor não vi senão breves enganos.
Oh! Quem tanto pudesse, que fartasse
Este meu duro Génio de vinganças!
Luís Vaz de Camões, in «Sonetos»
 
Cortesia o Citador/JDACT

O Diálogo de duas Jovens Mulheres: O Primeiro Dia. LUÍSA SIGEIA. Sobre os príncipes, como deveriam ser e como realmente são

Cortesia de ubedu

Diálogo de duas Jovens sobre a Vida na Corte e a Vida Particular


Com a devida vénia à Fundação Calouste Gulbenkian na pessoa de Isabel Allegro de Magalhães.

«Na literatura do século XVI surgem também, embora em número muito reduzido, alguns escritos de mulheres. Sabemos que o círculo que se constitui à volta da Infanta D. Maria, círculo notável pela sua qualidade intelectual e cultural, era quase exclusivamente de mulheres. Destas, ficaram para a história nomes como os de Joanna Vaz, Luísa Sigeia, Angela Sigeia (irmã de Luísa), Paula Vicente, Hortênsia de Castro, D. Leonor Coutinho e várias outras. Esta informação é-nos dada por D. Carolina Michäelis de Vasconcelos em A Infanta D. Maria de Portugal (1521-1577) e as suas Damas. Américo da Costa Ramalho, porém, no Prefácio à 2.ª edição (fac-similada) deste livro refere outro conjunto de nomes femininos ligados à cultura em Portugal nos finais do século XV (por volta de 1485), entre os quais distingue o de D. Leonor de Noronha – que D. Carolina de Michäelis também refere, como pertencendo a outra geração – que escreveu e publicou.
Há, por conseguinte, cerca de 50 anos antes da Infanta D. Maria, um grupo de mulheres, quase todas da nobreza, que estão activamente ligadas ao movimento cultural acontecido na corte portuguesa de então.
A obra de Luísa Sigeia, de 1552, está publicada em edição bilingue: em latim, a língua original, Duarum virginum colloquium de vita aulica et privata e em francês – tradução de Odette Sauvage – Dialogue de deux jeunes filles sur la vie de cour et la vie de retraite.
Foi escrita em Lisboa, por esta jovem nascida em Espanha, Toledo, que veio para a corte portuguesa a convite da Infanta D. Maria, devido ao renome que já então conquistara entre os humanistas do tempo, como humanista e «poliglota » conforme ela própria o escreve na Dedicatória à Infanta D. Maria que consta do início do livro. As línguas que Luísa Sigeia conhece e domina são, para além do grego e latim, o sírio, o árabe e o hebraico. Esta informação é-nos dada num curioso livro de 1790, escrito «Por Hum Amigo da Razão», e no qual se elogia o «merecimento das mulheres» – Tractado sobre a Igualdade dos Sexos ou Elogio do Merecimento das Mulheres». Isabel Allegro de Magalhães, In Tempo das Mulheres. Lisboa: INCM, 1987, p. 131-139

Cortesia de librosaulamagna
LUÍSA SIGEIA
(Tradução de excertos, realizada por Maria do Rosário Laureano Santos, a partir do original em latim: Colloquium duorum virginum de vita aulica et privata, de 1552. Não existe nenhuma versão portuguesa, apenas uma tradução francesa publicada em edição bilingue: Louise Sigéé. Dialogue de deux jeunes filles sur la vie de cour et la vie privée. Introdução, trad. e notas por Odette Sauvage. Paris, PUF, 1970.

Cortesia de amigosdobotanico
Proémio
I
Flamínia: Vês, porventura, minha cara Blesila, o encanto desta casa de campo? Se eu fosse livre e tu quisesses anuir aos meus votos, demorar-nos-íamos com certeza aqui mais alguns dias, porque qualquer uma de nós teria muito interesse em adiar a partida para a cidade, tanto para descansar o espírito, como para tolerar depois mais facilmente as fadigas e os inconvenientes da corte. E assim, tal como diz aquele cómico, deste nosso campo próximo retiraremos esta comodidade, para que nunca nos atinja nem a aversão ao campo, nem a aversão à cidade.

Logo que sintas que começou a tornar-se cansativo, mudaremos de lugar.

Blesila: Principalmente quando o próprio local é ameno, com as nascentes muito límpidas e murmurando suavemente, com as árvores frondosas mostrando, com as flores e frutos, o maravilhoso artífice do universo, com as aves, de canto diverso, dando graças incessantemente ao seu criador; todas estas coisas nos movem e nos aproximam da afeição para com o que é elevado e eterno, afastando-nos, pelo contrário, do tédio, do fútil e do vazio. Olha! A vicissitude está em todas as coisas.

Cortesia de dragonbooks
II
Flamínia: Certamente, é verdade o que dizes. Mas eu ainda não aspiro demasiado a esta vida; e mais, a corte e a vida do paço agradam-me. De facto, ainda que eu quisesse curar algumas contrariedades que existem na convivência do paço com este ócio campestre e, por esta razão, me agrade demorar-me aqui mais um pouco, é-me contudo agradável voltar à corte todas as vezes que quiser, enquanto for livre. Para falar verdade, não louvo a filosofia nem essa tua afeição pela vida monástica, nem me decido por elas.

Blesila: Se sentes da forma como dizes, não te apercebes da qualidade deste local para nós, nem quanta comodidade é possível retirar dele; de facto, as coisas humanas e perecíveis deslumbram de tal modo que não te lembras que todas elas são vaidade e tormento do espírito, tal como diz o Sábio, do mesmo modo que a condição feliz e orgulhosa dos poderosos é humilde e vil; porque o medo de a perder ameaça o homem feliz e o desespero cruel de nunca prosperar intimida o infeliz. Existem os que sofrem por elas – são muitos – e são destruídos segundo estas palavras de Job, bastante experiente numa e noutra condição: “Os meus passaram mais rápidos do que um atleta de corrida; fugiram e não viram a felicidade.”

Flamínia: Já te disse, minha cara Blesila, não me preocupo nem alguma vez me hei-de preocupar dessa maneira. Seguramente, essas preocupações serão para ti. Se lamentas que o que desejavas não tenha acontecido segundo os teus votos (muitas vezes daí provem o desgosto do século), com razão preferes uma vida obscura e retirada.
Louvas esse tipo de vida, porque tu o escolheste e dás-lhe preferência sempre que te sentes constrangida a aconselhar o que adoptaste. De facto, ainda não vi o que se deve reprovar na vida pública de modo a que lhe tenha ódio; especialmente, na nossa vida da corte, na qual, se alguma coisa deve ser desejada pelos imortais, esta é, sem dúvida, abundante para todos os mortais, por exemplo, o aspecto harmonioso do corpo no uso da conversação e na convivência benévola, alguma nobreza no modo de ser, e também a audácia livre de dizer o que é agradável. Os que quiserem aspirar a todas estas coisas, embora seja difícil e sobre-humano atingi-las, podem consegui-lo se, com todo o ânimo, a elas se dedicarem definitivamente. E se tu me respondes que é difícil e penoso o serviço dos príncipes, lembra-te que a parte principal da felicidade do paço é esta: os espíritos corajosos são submissos aos ilustres e célebres, benignos e poderosos pela sua própria natureza, os quais só eles são capazes de fazer felizes os súbditos, até mesmo os desafortunados; e consiste também em admirá-los, contemplá-los, em usufruir do divino aspecto daqueles em todas as horas, concedido somente aos príncipes pelo supremo artífice do universo, aspecto mais elegante e mais distinto em comparação com outros. Consiste ainda em usufruir dos espíritos muito vivos destes, habituados desde o começo da vida a atribuir recompensas dignas aos bons e, inversamente, a castigar os crimes nefandos dos maus com o terror ou com suplícios, como é conveniente. Têm por costume elevar ao cume a dignidade os espíritos incansáveis nos seus trabalhos e os súbditos merecedores quer de honras quer de grandes benefícios, e costumam apresentá-los de tal forma à nação que os descendentes destes ilustres e notáveis brilham entre todo o povo. Por fim, embora os corações dos reis estejam nas mãos de Deus, como testemunha a Escritura, é preciso acreditar inteiramente que os bens que os príncipes atribuem são muito melhores do que todos os outros. Na verdade, os males pelos quais decidem punir estão completamente justificados e é muito necessário, quer para regrar os costumes, quer para que, passada a tormenta dos males, quando um estado de vida mais tranquilo brilhar, eles possam tornar esta vida mais doce e mais suave, tal como disse o poeta de Mântua:

«Talvez a lembrança destas provações seja um dia agradável».

Além disso, na corte o tempo passa sem tédio, o que penso que não é de pouca importância. Na verdade, embora julguem ociosa a vida na corte os que nela não participam, estão completamente enganados, estão enganados. Nas escolhas do vestuário, na disposição dos ornamentos, no polir as palavras elegantes e espirituosas, com as quais quer as mulheres agradam aos homens quer, por sua vez, os homens às mulheres, quer ainda com as palavras que possam criticar aqueles que não saibam responder de improviso e espirituosamente às graças a eles dirigidas, consome-se, de facto, um tão longo espaço de tempo que o início e o fim de um ano são quase a mesma coisa. Deixo de lado o esforço contínuo para agradar aos príncipes e o esforço de solicitar junto deles com admirável habilidade o favor ou a consideração, pois isto não só restitui anos mas também a vida, quase toda tão efémera que apenas se sente enquanto passa naturalmente; aquilo que aconselho não deve ser de modo nenhum desprezado, porque os dias são maus, como diz Paulo.

Cortesia de zefgfuberlin
III
Blesila: Tu, minha cara, causas-me uma grande alegria porque me dás uma ampla matéria de debate através das tuas opiniões falaciosas, com o qual eu poderei libertar-te a ti, tristemente enredada, e demonstrarei de forma mais clara do que o dia que os fins e os resultados são vãos, visto que Deus me ama tanto que me faz ter pena da tua sorte, receando eu que caias, precipitada, em danos irreparáveis, provenientes habitualmente desta afeição pelas coisas humanas. Contudo, consola-me uma certa natureza inata no teu espírito, onde, se não me engano, a verdade invencível encontrará para si o seu lugar (todas as vezes que for conveniente). Portanto, tenho intenção de tratar todos os assuntos que tu aprovas com todo o alento. E embora pareça muito difícil, tomei a decisão de refutar as tuas opiniões por meio de argumentos muito fortes, conquanto tu estejas disposta a mantê-las, e de discutir se todas as partes da felicidade da corte são dignas desse nome, felicidade. Em primeiro lugar, pergunto se o serviço dos príncipes, como tu asseguras, é mais suave, se o favor é doce, se a convivência é melíflua, se as dádivas são vantajosas e as honras de grande preço, e se são idóneos os motivos pelos quais se deve eleger a vida da corte e pelos quais se deve acreditar que esta é muito melhor do que todas as outras. Se puder, não omitirei todas as outras obrigações do paço, de tal modo agradáveis ao teu gosto que sentes e asseguras que as restantes devem ser de pouco valor. Voltemos ao assunto; portanto, é conveniente que me mostres que estes príncipes, aos quais serves (como é preciso que os espíritos corajosos a eles se submetam), são dotados por todas as qualidades que aquele divino Platão, Pitágoras e um grande número de filósofos desejavam para o verdadeiro príncipe; depois, que proves que é necessário que aqueles, mesmo que sejam tais quais os sábios os descrevem, não estão sujeitos a esta máxima de David:

«O espírito dele sai e voltará para a sua terra; naquele dia, perecerão todos os pensamentos deles».

De onde não só são falsos todos os bens dos príncipes, porque são efémeros, mas também sem encanto, porque falsos, e ainda os males que infligem não devem ser temidos, porque são muitas vezes injustos.

Cortesia de uned
IV
Flamínia: Louvo a tua opinião, Blesila, e o modo de refutar. De facto, quando tiveres demonstrado que qualidades são necessárias aos príncipes segundo as palavras dos filósofos (tal como prometes), louvarás de passagem os meus príncipes, que anteriormente já mostrei que (como dizem) foram feitos perfeitos e foram aperfeiçoados por uma indestrutível cadeia de virtudes. Depois, acontecerá que te convencerei com os teus próprios raciocínios, visto que tu própria mostras que é muito justo esforçarmo-nos para agradar aos príncipes, e, se for preciso, dedicar a vida ao serviço deles. Com efeito, este limite da felicidade que tu ameaças nada acrescenta ao assunto, porque nós, tal como todas as nossas coisas, estamos subordinados aos limites; entretanto, que o teu Salomão nos permita usufruir destes bens e que sinta que isso é um dom de Deus. Existem ainda outras vantagens que tornam a vida da corte mais agradável, se delas tratares livremente reconhecerás que elas devem ser procuradas por todos sem receio.

Blesila: Sem dúvida, eu vou tentar a experiência e encadear bem as ideias, ainda que empreenda uma dura prova, fá-la-ei de bom grado, porque espero obter certamente a palma da vitória depois do debate. Porém, porque havemos de conversar sobre vários pontos, penso que não estará fora de questão dividir o nosso diálogo por alguns dias e durante algumas horas, não só para que possamos tratar melhor e mais detalhadamente cada um dos pontos, mas também para que, tendo sido feita uma pequena interrupção, o espírito recupere as forças, com as quais possa avançar para mais longe; além disso, porque em nenhuma outra situação nos é dado usufruir deste ócio do campo e repousar dos inconvenientes do paço, sobretudo por meio de um debate deste tipo. Assim, hoje trataremos somente dos príncipes, se achares bem; amanhã e depois de amanhã, conforme houver ocasião, conversaremos sobre os outros deveres da corte.
Primeiro dia, isto é, primeira parte do Diálogo:
sobre os príncipes, como deveriam ser e como realmente são.

Cortesia de misteriospublicos
 
Cortesia de Fundação Calouste Gulbenkian/Isabel Allegro de Magalhães/HALP_27/JDACT

Luisa Sigea de Velasco (Toletana): Uma das principais companheiras e mestre de estudo de entre as eruditas que «cercaram» a Infanta D. Maria. Uma mulher de grande beleza e com excelentes dotes sociais

(1522-1560)
Tarancón, Toledo
Cortesia de wikipédia

Luisa Sigea de Velasco, também conhecida por Luísa Sigeia, Luísa Sigea Toledana ou pela versão latinizada Aloysia Sygaea Toletana, foi uma poetisa e intelectual do século XVI, um dos expoentes do humanismo ibérico, que viveu boa parte da sua vida na corte portuguesa ao serviço da infanta D. Maria de Portugal (1521-1577), como dama latina.
Dela disse André de Resende: Hic sita SIGAEA est: satis hoc: qui cetera nescit Rusticus est: artes nec colit ille bonas, ou seja Aqui jaz Sigea. Isto basta. Quem ignora o resto, necessitando explicação, é bárbaro, avesso às artes.
Era filha de Diego Sigeo e foi a mais nova de quatro irmãos. Seu pai era um homem culto, humanista versado na cultura clássica, que foi professor de línguas dos filhos de D. Jaime de Bragança (1479-1532), o 4.º duque de Bragança, e foi com ele que Luísa aprendeu latim e grego clássico. A partir da reunificação da família em Portugal, Diego Sigeo deu particular atenção à educação das suas duas filhas. Luísa, sobretudo, mostrou propensão para aprender línguas. Falava fluentemente castelhano, francês e italiano e escrevia em latim, grego, hebraico, árabe e siríaco.

Cortesia de ubedu
Senhora de uma invulgar cultura, que a distinguia sobremaneira das mulheres suas contemporâneas, Luísa Sigea não foi tímida a mostrar as suas habilidades. Logo em 1540, teria 18 anos de idade, através de um amigo de seu pai, o italiano Girolamo Britonio, enviou uma carta em latim ao papa Paulo III, juntando o que mais tarde chamou quosdam ingenioli mei flosculos,  em português, algumas florinhas do meu jovem talento. A julgar pelos elogios que lhe foram dedicados, além do seu talento e cultura, Luísa Sigea deverá ter sido mulher de grande beleza e com excelentes dotes sociais.
No início de 1542, quando seu pai foi «convidado» a enviá-la, com a irmã, para a corte da rainha D. Catarina, como moças de câmara. Ângela e Luísa juntaram-se então às cultas senhoras que serviam a infanta D. Maria de Portugal, irmã do rei D. João III, nomeadamente Paula Vicente, filha de Gil Vicente, e Joana Vaz. Na corte, Ângela Sigea e Paula Vicente dedicavam-se mais à música e Joana Vaz e Luísa Sigea, notáveis humanistas, eram as damas latinas.

Livro de Carolina Michaelis de Vasconcelos
Cortesia de wook
Por esta altura, Luísa Sigea inicia a escrita de numerosas cartas e poemas, revelando-se senhora de notável cultura clássica e demonstrando que tinha acesso, provavelmente na biblioteca real, a um extenso acervo de obras dos clássicos latinos e gregos, os quais cita extensamente. Interessante é a sua correspondência com o papa Paulo III, a quem, numa pouco modesta demonstração de erudição, chega a escrever uma missiva em cinco idiomas.

A sua principal obra conhecida é o Duarum Virginum Colloquium de vita aulica et privata Loysa Sigea Toletana auctore, editum Vlyssiponae, anno salutis MDLII (Diálogo de duas jovens sobre a vida pública e privada), editado em Lisboa, em latim no ano de 1552. A obra foi muito apreciada pela intelectualidade da altura, mas caiu no esquecimento até quase ao século XX. A obra ficou em manuscrito até 1905, data em que Manuel Serrano y Sanz a incluiu no seu livro Apuntes para una biblioteca de escritoras españolas desde el año 1401 al 1833. Foi traduzida para francês por Odette Sauvage em 1967, mas ainda não foi traduzida por inteiro para português.
O Duarum Virginum Colloquium de vita aulica et privata serviu, embora de forma ínvia, de inspiração a um apócrifo de carácter erótico, escrito por Nicolas Chorier, o qual acabou por celebrizar o nome de Luísa Sigea. Hoje o nome da escritora é bem mais conhecido através da obra de Chorier do que da sua própria.

Cortesia da cm-sintra
Outra obra que também merece destaque é o poema Sintra, escrito em 1546 e impresso em Paris no ano de 1566. A obra, dedicada à infanta D. Maria de Portugal, a sempre-noiva, foi publicada por diligências desenvolvidas por Jean Nicot, que fora embaixador de França em Portugal e mantinha com Diego Sigeo uma relação de amizade. Foi este último quem enviou cópia do poema solicitando que Nicot o mandasse imprimir em Paris. A obra mereceu de imediato o elogio dos humanistas contemporâneos, entre os quais Jorge Coelho e Gaspar Barreiros, que escreveram epigramas elogiosos ao poema. Está publicado em tradução portuguesa na obra O Paço de Cintra, apontamentos historicos e archeologicos de António César e Meneses.

Em Setembro de 1552, Luísa casou com Francisco de Cuevas, um fidalgo de Burgos. Depois de casada, Luísa ficou ainda algum tempo na Corte, que abandonou de vez em 1555, partindo para residir na citada cidade espanhola.

«Depois de me puxar levemente uma e outra orelha, disse-me Calíope: - Vate, bem rústico és, da Pátria ignaro e de suas glórias. Levanta os olhos, eia, ergue os olhos, reconhece a descendente dos teus reis, Maria, aquela que o mui poderoso D. Manuel gerou e o seu magnânimo irmão destina para o Império do Universo, tendo-a criado, não sem intervenção dos deuses, para a mais alta dignidade. Não vês como caminha, rainha de rosto formosíssimo, entre as ninfas Hiampeias? Porém, das suas damas, a que é mais velha, Joana Vaz, já foi celebrada em teus versos. Para não falar dos seus costumes e da sua juventude, até agora vivida sem mácula, merece grandes louvores, pois na corte brilhou, como mestra insigne das donzelas, na gramática latina. A outra é Sigea, donzela admirável, a quem a natureza poderosa de tal forma fez nascer, que é uma mulher que pode aos homens exprobar a sua vida indolente, e fazer corar profundamente os ociosos. Na verdade, não contando ainda vinte e um anos, incansável, dia e noite, não cessa de folhear as obras latinas, aqueias e moisaicas e diligente, estuda a fundo os poetas de Jerusalém. Além disso, avança, sem receio, pelos escolhos aqueménios e asperezas árabes, versada em cinco línguas, quando, entretanto, aqueles que se atrevem a declarar-se sábios, não se envergonham, ao menos, de ignorar o latim. Basta teres sabido isto. Quanto ao resto, porém, ficará ao teu encargo. Assim disse». In André de Resende na Epístola à Infanta D. Maria, a «patroa» de Luísa Sigea.

(SYNTRA_Luisa Sigea de Velasco)

Conde de Sabugosa, O Paço de Sintra, Câmara Municipal de Sintra, 1989-1990, edição facsimilada da da IN de 1903.
Carolina Michaelis de Vasconcelos, A Infanta D. Maria de Portugal (1521-1577) e as suas damas, prefácio de Américo da C. Ramalho, Lisboa, ILBN, Lisboa 1994, edição facsimilada da edição do Porto de 1902.

http://www.leitura.gulbenkian.pt/boletim_cultural/files/HALP_27.pdf

Cortesia wikipédia/Dicionário Histórico/JDACT

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Furacão, Categoria 3 (Hurricane) EARL: Centrado a 18,7N 63,6W às 15UTC de hoje (30 de Agosto de 2010)

Cortesia da UnisysWeather

Furacão EARL, Categoria 3 (25-30 AUG)
Storm - Max Winds: 110 Kt (nós); Min Pres: 955 hPa; Category: 3
Current - Max Winds: 110 Kt (nós); Min Pres: 955 hPa.

Furacão (HURRICANE) EARL FORECAST/ADVISORY NUMBER 21

Comunicado das 15:00 UTC, MON AUG 30, 2010

Cortesia de AFP
Furacão EARL localizava-se a 265 km a leste de San Juan, Porto Rico, onde as autoridades emitiram um alerta para as ilhas de Culebra e Vieques. As autoridades de Antígua e Barbuda emitiram avisos para salvaguarda de vidas humanas e bens materiais. As autoridades das Bahamas emitiram avisos para as ilhas Turks e Caicos.
Os alertas de furacão estão em vigor para:

  • Anguilla;

  • Saint Martin e Saint Barthelemy;

  • St. Maarten, Saba e St. Eustáquio;

  • Ilhas Virgens Britânicas;

  • Ilhas Virgens dos USA;

  • Ilhas de Culebra e Vieques (Porto Rico).
Um alerta de Tempestade Tropical, o Furacão EARL, significa condições meteorológicas adversas num período de tempo até 48 horas.
HURRICANE CENTER LOCATED NEAR 18.7N 63.6W AT 30/1500Z

O Furacão EARL apresenta um movimento para Oeste-Noroeste, aproximadamente, 285º, com uma velocidade de 13 Kt (nós). A pressão mínima estimada no seu centro é de 960 hPa ou mb. Os ventos máximos são de 105 Kt com vento máximo instantâneo (rajadas) de 130 Kt.
64 KT....... 50NE 40SE 25SW 35NW.
50 KT....... 90NE 90SE 50SW 70NW.
34 KT.......160NE 150SE 100SW 140NW.
12 FT SEAS..320NE 170SE 100SW 160NW.
WINDS AND SEAS VARY GREATLY IN EACH QUADRANT. RADII IN NAUTICAL MILES ARE THE LARGEST RADII EXPECTED ANYWHERE IN THAT QUADRANT.

Cortesia de NOAA

A previsão da sua localização e os ventos máximos prováveis:
INITIAL 30/1500Z 18.7N 63.6W 105 KT
12HR VT 31/0000Z 19.5N 65.1W 115 KT, Categoria 4
24HR VT 31/1200Z 21.0N 67.0W 125 KT, Categoria 4
36HR VT 01/0000Z 22.8N 68.7W 125 KT, Categoria 4
48HR VT 01/1200Z 25.2N 70.6W 120 KT, Categoria 4
72HR VT 02/1200Z 31.0N 73.5W 110 KT
96HR VT 03/1200Z 37.5N 71.5W 100 KT
120HR VT 04/1200Z 45.5N 63.0W 75 KT...INLAND

Cortesia de NOAA
 
Cortesia de NOAA
 
Cortesia de UNISYS/NWS TPC/NOAA/NATIONAL HURRICANE CENTER MIAMI/JDACT

domingo, 29 de agosto de 2010

O Museu Internacional da Reforma Protestante, Genebra: A chamada «Roma do Protestantismo» ou ainda «a Cidade de Calvino», é um dos berços da Reforma. O Museu propõe a visita a vários locais em Genebra relacionados com Farel e Calvin

Cortesia de wikipédia
O Museu Internacional da Reforma Protestante situa-se na rue du Cloître número 4 em Genebra e é um espaço de divulgação cultural que enfoca a história da Reforma Protestante e particularmente os capítulos dessa história que se desenrolaram na própria cidade de Genebra, a cidade de João Calvino. O local escolhido para albergar o museu é simbólico, a Maison Mallet, o edifício onde se situa o museu, foi construído em 1723 precisamente no mesmo local onde se situava o convento de Saint-Pierre, local onde em 21 de Maio de 1536 os habitantes de Genebra decidem adoptar a Reforma. Ao lado da Maison Mallet, fica a Catedral Saint-Pierre. O museu foi inaugurado em 15 de Abril de 2005.

Cortesia do MIRP
A história dos conflitos religiosos é também objecto de atenção. A própria cidade de Genebra foi o palco de uma parte dos principais acontecimentos na história da Reforma. Estão aqui expostos alguns documentos históricos que relatam as Guerras de religião em França, incluindo o Massacre da noite de São Bartolomeu.

Cortesia do MIRP
Com a revogação do Édito de Nantes pelo Édito de Fontainebleau em 1685, os huguenotes voltaram a ser perseguidos em França. Muitos fugiram para outros países. O museu mostra também alguns aspectos da vida desses calvinistas refugiados em seus países adoptivos. Por Meio De Edito De Nantes (1598), o monarca concedeu aos huguenotes a liberdade religiosa e o direito de exercerem cargos políticos.

Cortesia do MIRP

As 12 salas retratam de forma atractiva a história do protestantismo, da sua origem aos dias de hoje, graças a peças únicas como a primeira Bíblia em francês, datada de 1535. Uma impressora da época foi reconstruída para lembrar o papel importante da invenção para a propagação do movimento religioso criado pelo religioso alemão Martinho Lutero, em 1517. Genebra adoptou a Reforma em 21 de Maio de 1536, sob impulso de Guillaume Farel. Dois meses mais tarde, o teólogo João Calvino chegou à cidade para apoiar o movimento. Farel e Calvin sofreram resistência e foram da cidade em 1538. Calvino apenas regressou em 1541, onde permaneceu até à sua morte em 1564, aos 55 anos de idade.

A partir de 1550, a cidade de Genebra tornou-se refúgio para protestantes perseguidos em toda a Europa. Em 10 anos, o número de habitantes cresceu de 12 a 20 mil.


Documento inédito assinado por Calvino
Cortesia de swissinfo

Cortesia do Museu Internacional da Reforma Protestante/JDACT

O Museu do Prado: A Arte de Educar. O programa contempla modalidades de visitas às colecções do Museu. Oferece um completo material de apoio vinculado aos diferentes recursos de multimédia

Cortesia do MuseudoPrado
O Museu do Prado é o mais importante museu de Espanha e um dos mais importantes do Mundo. Apresenta belas e preciosas obras de arte e localiza-se na cidade de Madrid. Foi mandado construir por Carlos III. As obras de construção prolongaram-se por muitos anos, tendo sido inaugurado somente no reinado de Fernando VII. Encarregou Juan de Villanueva, arquitecto real, de projectar um edifício destinado às Ciências e que pudesse albergar o Gabinete de História Natural. Foi o culminar da carreira artística de Juan de Villanueva, sendo esta a maior e mais ambiciosa obra do neoclassicismo espanhol.

Pintura de Antonello da Messina
Cortesia de wikipédia
Com a construção deste edifício, concebido como uma operação urbanística de elevados custos, o rei Carlos III pretendia dotar a capital do seu reino com um espaço urbano e monumental, como os que abundavam nas restantes capitais europeias. As obras de construção do museu prolongaram-se por muitos anos, ao largo de todo o reinado de Carlos IV. Porém, a chegada dos franceses a Espanha e a Guerra da Independência, interromperam-nas. Foi utilizado para fins militares, tendo-se aqui estabelecido um quartel militar. Neste momento começou a deterioração do edifício, que se notava cada vez mais, à medida que os anos avançavam. Fernando VII e a sua esposa, Maria Isabel de Bragança, puseram fim a tal situação, impedindo que o museu chegasse à ruína total. Isabel de Bragança foi a grande impulsionadora deste projecto e é a ela que se deve o êxito final, mesmo que não tenha vivido para saboreá-lo, pois morreu um ano antes da grande inauguração do museu, a 19 de Novembro de 1819.


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No final do século XIX, mais precisamente em 1872, todo o acervo do Museu da Trindade foi doado ao Museu do Prado. As obras, de temática religiosa, eram na maioria expropriações dos bens eclesiásticos, como forma de amortização das dívidas do clero para com o reino. Desde a fusão dos dois museus, o acervo foi ampliado com muitas outras obras de arte, por doações, heranças e novas aquisições.

Pintura de Artemisia Gentileschi
Cortesia de wikipédia

Cortesia do Museu do Prado/wikipédia/JDACT

O Museu da Ciência, Universidade de Coimbra: «Parar a perda de biodiversidade é uma absoluta prioridade para a União Europeia e um objectivo essencial para a Humanidade»

Cortesia do MC da UC

Segredos da Luz e da Matéria
A exposição explora o tema da luz e da matéria, a partir dos objectos e instrumentos científicos das colecções da Universidade de Coimbra. O nosso conhecimento sobre a luz e a matéria está directamente relacionado com o desenvolvimento da ciência nos últimos quatro séculos. Um conjunto de experiências e módulos interactivos possibilitam a observação de fenómenos, desde a experiência de decomposição da luz de Newton até à neurobiologia da visão.
A luz está presente nas nossas vidas, das mais diversas formas. A luz é afinal o meio mais importante de que dispomos para conhecer o mundo. Os fenómenos da luz e da sua interacção com a matéria podem ser explorados em vários sentidos, como as propriedades da luz, a emissão e absorção da luz pela matéria, o Sol e a luz solar, a visão e a cor das coisas.

A luz pode ter origem ou fim nos átomos que constituem a matéria. A luz e a matéria são duas entidades indissociáveis. Esta relação é tão íntima que boa parte da história do Universo é conhecida pela radiação que foi emitida pela matéria e que chegou até nós. Quando a luz incide numa substância gasosa atomizada, uma parte dessa luz é absorvida, observando-se no espectro de luz decomposta um conjunto de barras verticais negras. Essas riscas funcionam como uma espécie de «impressões digitais» dos elementos: trata-se de um código identificador, semelhante, de algum modo, aos códigos de barras dos produtos que consumimos. A técnica chama-se espectroscopia.
 
Cortesia doMC da UC
A espectroscopia serve para conhecer a composição do Sol, para estudar a composição da atmosfera de planetas e satélites, como a de Titã, lua de Saturno, constituída principalmente por azoto e metano. Titã foi visitada pela sonda Cassini-Huyghens, um projecto conjunto das agências espaciais norte-americanas e europeia, NASA e ESA, cuja réplica pode ser observada no Museu.

A notável experiência de decomposição da luz realizada pelo físico inglês Isaac Newton em 1666 mostrou que a luz branca se podia decompor num conjunto de luzes de várias cores. Ficou assim explicado o fenómeno natural do arco-íris. Alguns dos belíssimos instrumentos de óptica do gabinete de física pombalino, ajudam a conhecer o estudo da luz ao longo dos séculos. A luz visível é apenas uma pequena parte de um conjunto bastante mais vasto formado pelas ondas da radiação electromagnética, o chamado «espectro electromagnético».
É bem conhecida a utilidade das radiações do espectro electromagnético: as ondas de rádio e televisão assim como as microondas têm aplicações nas telecomunicações, ao passo que os raios X e raios gama têm aplicações médicas tanto em diagnóstico como em terapia. Em 1800, o físico William Herschel descobriu a luz infravermelha. Ao colocar um termómetro na zona invisível perto da zona vermelha do espectro visível revelou uma nova radiação. Esta e outras experiências podem ser realizadas no Museu da Ciência.

Cortesia do MC da UC
 
Cortesia do Museu da Ciência da Universidade de Coimbra/JDACT

O Museu do Carro Eléctrico: Assume preservar, conservar e interpretar, em benefício do público, espécies e artefactos ilustrativos e representativos da história e desenvolvimento dos transportes públicos urbanos sobre carris da cidade do Porto

Cortesia do MCE
Inaugurado em 1992, o Museu do Carro Eléctrico nasceu da dedicação e voluntarismo de um pequeno grupo de entusiastas e apaixonados por este meio de transporte colectivo, impulsionados por um propósito comum, preservar e dinamizar uma colecção de carros eléctricos de grande valor histórico e patrimonial.

Infraestruturado quanto à sua essência museológica (constituir, preservar e conservar uma colecção de carros eléctricos representativos da história e desenvolvimento técnico deste meio de transporte na cidade do Porto), quanto aos serviços de apoio ao visitante, quanto aos programas de interpretação das colecções (criação de serviços educativos e de animação) e quanto à sua animação e gestão sustentada dos espaços (desfile, eventos e exposições temporárias, alugueres de espaços e de carros eléctricos) surge, então, a necessidade de aproximar o museu dos seus públicos actuais e potenciais, requalificando a sua estrutura museológica e aproveitando as suas potencialidades como centro de educação informal dedicado à problemática dos transportes urbanos e da história do Porto.

Cortesia do MCE
Nos Domingos de Verão, o Museu do Carro Eléctrico leva-o num desses veículos históricos e conta-lhe as curiosidades desses trajectos. Conheça as igrejas, monumentos e cantos pitorescos da cidade do Porto. Saiba as suas histórias e descubra os seus encantos. Assim comentada, a viagem vai ganhar um gosto especial.
 
Cortesia do MCE
 
Cortesia do Museu do Carro Eléctrico/JDACT

O Museu da Cidade: Projecto Integrado de Estudo e Valorização da «Cerca Velha» de Lisboa

Cortesia do Museu da Cidade

«Cerca Velha» de Lisboa
Localização: Vertente Sul da colina do Castelo.

Cortesia do MdaC

As descrições mais antigas deste importante sistema defensivo datam do séc. XI, altura em que a cidade de Lisboa se encontrava sob o domínio muçulmano. Os recentes trabalhos arqueológicos desenvolvidos ao longo do seu traçado comprovaram, no entanto, que alguns dos seus alinhamentos remontam ao período romano. Com uma extensão aproximada de 2 km, em parte demolida ou camuflada pelas construções, conserva ainda visíveis troços e torres de grande monumentalidade, sobretudo nos lanços oriental e ribeirinho. Durante séculos foi a única estrutura defensiva da cidade, moldando e condicionando a malha urbana que chegou até aos nossos dias. Continua a ser um elemento marcante na paisagem urbana actual, não só como um importante testemunho do passado mas também como um organismo vivo em constante interacção com as vivências daqueles que hoje habitam a cidade (por exemplo, o local das antigas portas continua a servir de ligação entre o espaço intra-muros e a área exterior).

Arco de Jesus, antiga porta do Furadouro
Cortesia do MdaC
Foi classificada como Monumento Nacional por Decreto de 16 de Junho de 1910, com a designação de Castelo de S. Jorge e restos das cercas de Lisboa.

Este projecto multidisciplinar, coordenado pelo Museu da Cidade e no qual participam diversos serviços da autarquia de Lisboa e outras entidades externas, apresenta uma base de investigação científica cujos resultados constituirão uma mais valia para a valorização/divulgação do monumento. Deste modo, de entre outros objectivos, pretende-se:
  • Estabelecimento de um programa de valorização da muralha que consistirá na criação de um percurso pedonal devidamente identificado com sinalética orientadora e informativa; instalação de suportes informativos complementares nos locais de maior complexidade interpretativa; encaminhamento do público para pontos estratégicos – Observatórios – onde poderão percepcionar o traçado da muralha muitas vezes apenas fossilizado na malha urbana actual; disponibilização de material de divulgação diverso;
  • Confirmar ou infirmar o traçado proposto na obra do Olisipógrafo Augusto Vieira da Silva; esclarecer a origem e cronologia dos traçados conhecidos e sua evolução; confirmar a origem e localização de algumas portas e a orientação dos principais eixos viários; contribuir para o conhecimento da estruturação e evolução da malha urbana;
  • Dar continuidade aos trabalhos multidisciplinares que o Museu da Cidade tem vindo a desenvolver desde 2001, alguns inseridos em obras municipais, outros realizados já no âmbito do estudo, conservação e integração da muralha para fruição pública. De salientar as acções conseguidas através do apoio de entidades privadas, cuja sensibilização e interesse por esta temática, tem vindo a crescer.
  Rua da Judiaria, troço de muralha com cubelo.
Modelação 3D da «Cerca Velha»
 reconstituição paleotopográfica da colina do castelo
Cortesia do MdaC
 
Cortesia do Museu da Cidade/JDACT