sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

2011: Amanhã entramos num novo Ano. Irão repetir-se os mesmos erros, porventura?... Erros da natureza dos homens e poucos da própria Natureza.

Cortesia de acucaramarelo




Cortesia de abananadaterra




Cortesia de andreiaandreiavieira




Cortesia de sherpas2





Como disse Jean-Jacques Rousseau,  para todos um 2011 pleno de Liberté, Egalité, Fraternité, i.e. Liberdade, Igualdade, Fraternidade neste país depois de Abril.

JDACT

Vermeer: Os seus quadros são admirados pelas suas cores transparentes, composições inteligentes e brilhantes com o uso da luz. Quem recorda o filme «Rapariga com Brinco de Pérola?»

(1632-1675)
Delft
Cortesia de entretulipas

Johannes Vermeer foi um pintor holandês, também conhecido como Vermeer de Delft ou Johannes van der Meer. Este pintor viveu toda a vida na sua terra natal, onde está sepultado na Igreja Velha de Delft.

Considerado o segundo pintor holandês mais famoso e importante do século XVII (período que é conhecido por Idade de Ouro Holandesa), depois de Rembrandt. Os seus quadros são admirados pelas suas cores transparentes, composições inteligentes e brilhante com o uso da luz.

Recordo o filme, Rapariga com Brinco de Pérola, 2003, realizado por Peter Webber, onde se retrata de modo fictício, o modo como o pintor Vermeer produziu este famoso quadro.


 Griet, Girl with a Pearl Earring
Cortesia de portalcinema


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Cortesia de várias Galerias de Arte/JDACT

O Pensamento e as Interpretações: Parte XVII. «O homem procura formar para si, de qualquer modo adequado, uma imagem simples e clara do Mundo e vencer assim o mundo da vida banal tentando substituí-lo, até certo grau, por essa mesma imagem»

Cortesia de navefisica

Vencer o Mundo da Vida Banal
«De início creio, como Schopenhauer, que um dos motivos mais fortes conduzindo à arte e à ciência é o desejo de evasão da existência terra a terra com a sua aspereza dolorosa e o seu desolado vazio, de libertação das peias dos próprios desejos eternamente volúveis. É uma força impelindo os que a ela são sensíveis a sair da existência pessoal para o mundo da contemplação e da compreensão objectiva; esse motivo é semelhante à atracção, que leva o habitante da cidade irresistivelmente a sair do seu ambiente barulhento e confuso e procurar a paisagem calma dos altos montes, onde o olhar se espraia pelo ar tranquilo e puro e acaricia as linhas calmas, que parecem ter sido criadas para a eternidade. A esse motivo negativo, porém, alia-se outro positivo. O homem procura formar para si, de qualquer modo adequado, uma imagem simples e clara do Mundo e vencer assim o mundo da vida banal tentando substituí-lo, até certo grau, por essa mesma imagem. É o que faz o pintor, o poeta, o filósofo especulativo e o cientista da natureza, cada um à sua maneira. É dessa imagem e da sua conformação que ele faz o centro da sua vida afectiva, para procurar aquela tranquilidade e segurança que não consegue encontrar no turbilhão demasiado estreito da experiência pessoal». In Albert Einstein.

Cortesia de haumdemonioatrasdaporta

Os Grandes Homens
«Daqueles que comandaram batalhões e esquadrões só resta o nome. O género humano nada tem para mostrar duma centena de batalhas travadas. Mas os grandes homens de que vos falo prepararam puros e perenes prazeres para os homens que ainda hão-de nascer. Uma eclusa a ligar dois mares, um quadro de Poussin, uma bela tragédia, uma nova verdade - são coisas mil vezes mais preciosas do que todos os anais da corte ou todos os relatos de campanhas militares. Sabeis que, comigo, os grandes homens são os primeiros e os heróis os últimos. Chamo «grandes homens» a todos aqueles que se distinguiram na criação daquilo que é útil ou agradável. Os saqueadores de províncias são meros heróis». In Voltaire.

Cortesia de becreesct

A Maior Parte do que Sabemos é a Menor do que Ignoramos
«A maior parte do que sabemos, é a menor do que ignoramos. Não se achou varão tão perfeito no Mundo, que conhecesse o que tinha de sábio, senão sabendo o que lhe faltava para perfeito. Não se viu ninguém tanto nos últimos remates da perfeição, em quem não bruxoleassem sempre alguns desaires de humano. (...) Não necessitando de nada os grandes, só de verdades necessitam; porque, como custam caro, todo o cabedal da fortuna é preço limitado para elas; por isso nos grandes são mais avultados os erros, porque erram com grandeza e ignoram com presunção. Mais gravemente enferma o que logra melhor disposição, que o que nunca deixou de ter achaques: e a razão é porque a enfermidade que pôde vencer disposição tão boa, teve muito de poderosa; ignorância a que não alumiou o discurso mais desperto, tirou as esperanças ao remédio». In Padre António Vieira.

JDACT

A Bela Poesia: Miguel Torga. «Até que um dia, corajosamente, olhei noutro sentido, e pude, deslumbrado, saborear, enfim, o pão da minha fome»

Cortesia de etnografiacircunstancia

Liberdade
— Liberdade, que estais no céu...
Rezava o padre-nosso que sabia,
A pedir-te, humildemente,
O pio de cada dia.
Mas a tua bondade omnipotente
Nem me ouvia.

— Liberdade, que estais na terra...
E a minha voz crescia
De emoção.
Mas um silêncio triste sepultava
A fé que ressumava
Da oração.

Até que um dia, corajosamente,
Olhei noutro sentido, e pude, deslumbrado,
Saborear, enfim,
O pão da minha fome.
— Liberdade, que estais em mim,
Santificado seja o vosso nome.
Miguel Torga, in «Diário XII»

Cortesia de eli364aa

Portugal
Avivo no teu rosto o rosto que me deste,
E torno mais real o rosto que te dou.
Mostro aos olhos que não te desfigura
Quem te desfigurou.
Criatura da tua criatura,
Serás sempre o que sou.

E eu sou a liberdade dum perfil
Desenhado no mar.
Ondulo e permaneço.
Cavo, remo, imagino,
E descubro na bruma o meu destino
Que de antemão conheço:

Teimoso aventureiro da ilusão,
Surdo às razões do tempo e da fortuna,
Achar sem nunca achar o que procuro,
Exilado
Na gávea do futuro,
Mais alta ainda do que no passado.
Miguel Torga, in «'Diário X»


Cortesia de O Citador/JDACT

Évora: O Convento de Santa Helena do Monte Calvário, conhecido popularmente por Convento do Calvário. Fundado pela Infanta D. Maria, filha mais nova de D. Manuel

Convento do Monte Calvário
Cortesia de uplasma
«Fundado pela Infanta D. Maria, filha de D. Manuel e D. Leonor, o convento de Santa Helena do Monte Calvário foi uma das casas mais pobres da Ordem Franciscana existentes em Évora (ESPANCA, Túlio, 1993, p. 92). Consagrada inicialmente à Vera Cruz, por neste local existir uma ermida com a mesma invocação, a casa conventual do Monte do Calvário começou a ser construída em 1569, segundo projecto de Afonso Alvares (arquitecto-mor da comarca do Alentejo), e sob a direcção do mestre de obras Mateus Neto. O processo de obras revelou-se bastante célere, sendo o convento consagrado em 23 de Outubro de 1574 (ainda que esta campanha tenha sido, com certeza, prolongada).

Ao longo dos séculos, o convento foi sofrendo vicissitudes várias que, mau grado os estragos provocados, permitem ainda hoje uma correcta leitura da estrutura dos espaços conventuais, construídos no decorrer da primeira campanha de obras. Uma campanha que imprimiu ao edifício uma severa unidade arquitectónica, conforme às imposições do barroco tridentino, e que podem ser observadas na solidez e na severidade das cantarias dos cunhais e botaréus, na alvura das vastas superfícies de alvenaria (ESPANCA, Túlio, 1993, p. 92).

Cortesia de uplasma
A planta da igreja, rectangular e alongada, com abóbada em caixotões geométricos (outrora pintados) e paredes reforçadas por pilastras formeiras revestidas de azulejaria de tipos diferenciados, reflecte naturalmente o gosto maneirista contemporâneo vigente. Os azulejos policromos ou azuis e brancos, com decoração naturalista ou de figura avulsa, são obra de oficina lisboeta, oferecida pelo Arcebispo D. Frei Luís da Silva, em 1700 aproximadamente.
Na igreja, encontra-se ainda um importante núcleo de pintura representando a Vida da Virgem Maria, de São Francisco de Assis e de São Domingos de Gusmão, considerado por muitos como trabalho na órbita da oficina de Bento Coelho da Silveira (ESPANCA, Túlio, 1993, p.93). Duas outras pinturas, atribuídas a Simão Rodrigues (c. 1590), encontram-se nos altares laterais (GUSMÃO, Adriano de, 1954). Por sua vez, o altar-mor exibe um retábulo barroco de talha dourada (construído em 1697 por Francisco da Silva, entalhador eborense), com brasão de armas da Infanta D. Maria (que veio substituir o primitivo retábulo quinhentista, com pinturas representando cenas da Paixão de Cristo e de Santa Helena, executadas por Francisco João nos anos de 1593-94, e que ainda subsistem). Por sua vez, o cadeiral do coro, esculpido na época de D. José e D. Maria, veio substituir o original realizado com as doações de D. João IV.

Cortesia de Rafael Martins
O claustro, de planta rectangular, de dois andares com arcarias e colunas dóricas, foi concebido de acordo com a austeridade que imperava no convento e nas imposições do Concílio de Trento, privilegiando a simplicidade das linhas simples e a serenidade das proporções.
O refeitório, é composto por duas naves separadas por colunas dóricas com emblemas da Ordem, e exibe um tríptico de pintura maneirista representando a Última Ceia, S. Francisco, e Santa Clara. Permanecem ainda intactas a antiga portaria e respectiva roda, com azulejaria seiscentista de tipo tapete e pinturas manieristas de oficina local. A porta da enfermaria, datada de 1687, ostenta uma interessante decoração em baixo relevo, com símbolos franciscanos.
Uma última referência para a Sala do Capítulo, de planta rectangular dividida em dois tramos por coluna toscana de capitel renascentista com volutas pintadas, ao gosto de Chanterene, e que de acordo com Túlio Espanca, foram executadas segundo modelo das pilastras do antigo refeitório do Convento do Paraíso (ESPANCA, Túlio, 1966)». In Rosário Carvalho, IGESPAR

Cortesia de uplasma
NOTA:
É de referir que o famoso Pão de Rala, os condutos de azeitona e o bolo rolão são provenientes deste Convento. A origem do pão de rala está associada a uma lenda. Esta conta que corria o terceiro quartel do séc. XVI e reinava o jovem D. Sebastião. A tranquilidade das freiras do Convento de Santa Helena do Calvário, na cidade de Évora, quebrou-se com a notícia da visita real. Um valido real encarregado do protocolo, lembrou a Madre Abadessa da necessidade de oferecer um conforto ao real hóspede. A monja retorquiu que só havia uns “pães ralos”, azeitonas e água. Era o que havia e foi o que veio. O monarca comeu e apreciou. De volta a Lisboa, despachou uma tença compensadora em benefício do convento e em agradecimento, a criatividade monástica retribuiu com esta doce alegoria conhecida por Pão de Rala.

Cortesia de CMÉvora/IGESPAR/JDACT

Painel de São Vicente de Fora: O livro «São Vicente de Fora dos Painéis». Introdução. A tentativa de formular alguns porquês

Cortesia de guardiaesdosegredo

Com a devida vénia a António Salvador Marques, publico algumas frases do seu pensamento.

«Este livro não partiu de qualquer pressuposto dogmático, mas de uma redescoberta progressiva e surpreendente que nos conduziu a formular uma teoria sobre a abordagem aos Painéis de S. Vicente de Fora ao longo do séc. XX. Essa teoria admite que a par da veneração de S. Vicente, tranquila e bem comportada, existem duas outras tradições, ambas esotéricas, uma delas inofensiva, feita de geometrias piramidais e proporções de ouro por toda a parte, mas a outra mortífera e com um inconveniente grave: o de corresponder à verdade. A verdade, neste caso, arrasta o fim do grande chapéu negro do infante D. Henrique e da sua sombra protectora, e o desaparecimento da paleta do maior pintor português. Implica ainda a conclusão de que as estátuas estão todas trocadas e valem muito pouco, mas deixa-nos em troca o tesouro da esperança colectiva no futuro.

A coisa pode funcionar assim: alguém escreve um livro ou artigo extremamente inverosímil, mas com a virtude de ser veemente e de fazer pensar. O ponto de vista oficial não aceita o combate, mas fornece algumas lições paternalistas. O furor do ponto de vista excluído aumenta, e suscita o aparecimento de novas heresias, cada uma mais arrevesada que a anterior. O resultado, para o observador atento e com alguma inclinação céptica, é a constatação surpreendente de que os pontos de vista oficiais ou semi-oficiais não são menos absurdos que os outros: têm apenas atrás de si o peso de algumas autoridades, mas autoridades que costumam recusar a discussão do principal documento em nome da Ciência, e alertar com alguma estridência para os «perigos das polémicas», sem todavia os discriminar.

Cortesia de paineis
A pergunta crucial «onde estão os atributos de S. Vicente?» é evitada a todo o transe, e o observador atónito apercebe-se de que mesmo os pontos de vista com maior aceitação conduzem a admitir discretamente a disposição dos painéis na vertical, ou a execução dos seis em tempos bastante diferentes, para evitar a simples e cristalina dúvida sobre a identidade de Sto. Incógnito-Sem-Atributos. As tentativas de discussão tendem, de resto, a centrar-se quase exclusivamente sobre a dupla figura principal, ignorando as outras cinquenta e oito e o mundo que as rodeia, e este foi, desde sempre, o maior obstáculo à compreensão do políptico.

Finalmente, alguém se apercebe da sua verdadeira natureza global, e resolve a charada de uma forma que torna a inevitabilidade da solução evidente aos poucos que acompanham a discussão com reproduções do políptico à frente dos olhos. A grande maioria, no entanto, não se apercebe sequer de que a discussão baseada nos «testemunhos» (as escassas e duvidosas referências históricas) e a discussão baseada no «documento» (as pinturas em si) são radicalmente distintas. Segue-se uma pausa embaraçada por parte dos que começam a compreender, e finalmente um muro de silêncio que pode durar algumas décadas, até que alguém escreva um novo livro inverosímil mas com a virtude de fazer pensar, iniciando um novo ciclo.

Esta pode ser, em linhas gerais, a história da charada das Janelas Verdes, e as razões que nos levam a reconstituí-la desta forma cíclica têm a ver com as nossas próprias memórias de infância. Dizem respeito a cavaleiros verdes, rainhas vermelhas e chapeleiros loucos, capacetes luminosos e coroas de pérolas, que varriam do campo de batalha as hostes do chapéu negro e os seus santos torturados com as suas camas de faquir.

Cortesia de paineis

Como sempre nestes casos de heresia, era um só contra muitos, e mesmo assim a luta era desigual em seu favor, porque o cavaleiro solitário usava armas muito superiores: nem espadas censórias, nem escudos académicos, mas uma simples balança com que pesava o acaso, infundindo o terror e desbaratando o inimigo. Sem orgulhos patrióticos lesados, sem censuras protectoras a defender a colectividade das ameaças indizíveis, a mensagem do Políptico da Esperança teria surgido à luz do dia e a sua pedra verde teria finalmente brilhado sobre este país.
Em vez disso, desapareceram da face da Terra os vestígios desse combate triunfal: não está referido nas enciclopédias, nem nas bibliografias das numerosas publicações sobre o problema dos painéis que consultámos; é desconhecido para os que conhecem os arquivos do Museu Nacional de Arte Antiga, de onde constam as principais polémicas jornalísticas; e não conseguimos sequer localizar qualquer eco na Biblioteca Nacional sob forma de livros ou artigos de revista.

A conclusão de que o combate ocorreu nos jornais diários, durante o fim dos anos cinquenta ou princípio dos sessenta, impõe-se-nos, e a razão por que não procurámos mais é esta: uma nova leitura teria tornado impossível a escrita deste livro, porque nada do que aqui se diz é inédito e, no entanto, tudo está esquecido. 
Quantos ciclos se cumpriram para além deste, não o sabemos nós, mas julgamos saber que existe uma tradição política à volta dos painéis e que a ideia da Esperança Futura data pelo menos da geração republicana. Um nome ligado à sua redescoberta moderna no Mosteiro de S. Vicente de Fora, nos anos oitenta do século XIX, é o do pintor Columbano Bordalo Pinheiro que certamente terá reflectido sobre o seu significado e foi autor, décadas mais tarde, do projecto de bandeira da República que a comissão de cinco membros a que ele próprio presidiu veio a adoptar em 1910. O significado esotérico dos painéis é persistente de uma forma difusa que parece ser antiga e dificulta a investigação rigorosa. Não existem muitos registos sobre o que podem ter sido as discussões iniciais acerca do significado da obra, até ao restauro de Luciano Freire em 1909-10, e a primeira exposição pública, feita em 6 de Maio de 1910, coincide de forma apropriada com a tradição que lhe atribuiu um valor político. As coincidências existem, as profecias que se auto-cumprem existem igualmente, e a única coisa que se pode afirmar é que, independentemente das várias tradições, o políptico é o seu melhor documento. A melhor explicação da aura de mistério que o rodeia reside na dificuldade em fazer entender a sua mensagem: seria necessário compreender por completo onde começa e acaba o domínio do contingente para poder provar tudo a todos, e essa é uma empresa sobre-humana. É, no entanto, possível o uso do senso comum para fixar alguns limites ao acaso, e isso é suficiente.

Cortesia de wikipedia
Divide-se em três partes e a mais importante é a primeira, onde se trata dos problemas de composição geral e das anomalias locais que cobrem a superfície dos seis painéis. A nossa própria solução para a charada não é o que mais importa, embora ela se nos afigure como inevitável. O que importa é que qualquer discussão sobre os verdadeiros painéis refira o que lá está, em vez de os trocar pelas versões inócuas ou involuntariamente falseadas que permitem discutir uma pintura de olhos fechados ou na ausência da mesma. Porquê o espaço obscuro do painel dos Frades? Porquê as duas varas que parecem uma? Porquê as mangas desiguais da dama vermelha? Porquê o barrete fendido em duas metades? Porquê a cruz partida ao pescoço do cavaleiro roxo? Porquê tantos disparates concentrados num só políptico? Porquê tantas anomalias sem paralelos iconográficos? Existe mais algum S. Vicente como este? É este o tipo de perguntas que conduz à verdade, e é este o tipo de debate que deve ser retomado, até que a luz se faça.

Posto isto, interessa referir o que o livro não pretende ser, uma vez que não traz nenhuma descoberta documental, nem nenhuma interpretação histórica formulada em novos moldes. Dispensámos, em grande parte, o aparelho de referências e anotações que remete para as fontes, porque o leitor interessado poderá facilmente encontrar as passagens citadas nas edições correntes de Fernão Lopes, Zurara ou Rui de Pina, e partir daí para a leitura do restante, única forma de absorver o espírito de uma época que não é a nossa. Na bibliografia juntámos algumas obras que contribuíram para o nosso próprio entendimento dos acontecimentos históricos que explicam o políptico e, em especial, os relativos ao estado medieval de Borgonha e à duquesa Isabel, filha do rei de Portugal.

A tese, hoje esquecida ou ignorada, que progressivamente redescobrimos para nossa própria surpresa e procuramos ressuscitar conforme podemos, tem passado por diversas tentativas de divulgação, entre as quais artigos esparsos no Diário de Notícias, desde 5 de Maio de 1994 (1), e uma série de conferências em 1995 para o grupo interdisciplinar Principia, orientado por Henrique Leitão. Formulamos o voto de que a sua acessibilidade electrónica possa contribuir para a recuperação das memórias desaparecidas e nos conduza ao conhecimento do elo anterior de uma cadeia cuja extensão ignoramos». In António Salvador Marques.

http://paineis.org/INDICE.htm
(1) Artigos no Diário de Notícias, abordando, directa ou indirectamente, o tema dos Painéis: «O Enigma dos Painéis: A luz nasce do espelho», 5 de Maio de 1994; «Dois votos e dois cintos», 19 de Maio de 1994; «Regresso ao Espelho», 2 de Junho de 1994; «As duas faces do Infante», 1 de Agosto de 1994; «Crónica da reconquista dos Painéis», 9 de Dezembro de 1994; «Crónica da batalha silenciosa», 19 de Dezembro de 1995; «O políptico das duas assinaturas», 9 de Março de 2003.


Cortesia de Painéis/JDACT

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Música Clássica. A Trompa: Um instrumento de sopro da família dos metais. Muito antigo, os primitivos egípcios já o conheciam. O seu timbre é o mais harmónico e assemelha-se à voz humana. A mão dentro do «pavilhão» permite uma enorme variedade de timbres

Cortesia de andrerieu







Cortesia de mbinstrumental







As trompas aparecem nas 10 últimas sinfonias de Haydn e Mozart, em todas as 9 de Beethoven, nas 4 de Schumann, nas 4 de Brahms, nas 6 de Tchaikovsky, nas 9 completas de Mahler. A partitura da 2ª Sinfonia de Mahler exige 10 trompas.
JDACT

A Bela Poesia: António Ferreira. «Ó olhos, cujo fogo a neve fria acende e queima; ó olhos poderosos de dar à noite luz, e vida à morte!»

(1528-1569)
Cortesia de rmmv

Livro I dos Sonetos
14

Ó olhos, donde Amor suas frechas tira
contra mim, cuja luz m'espanta e cega;
ó olhos, onde Amor s'esconde, e prega
as almas e, em pregando-as, se retira!

Ó olhos, onde Amor amor inspira,
e amor promete a todos, e amor nega;
ó olhos, onde Amor tão bem s'emprega
por quem tão bem se chora, e se suspira!

Ó olhos, cujo fogo a neve fria
acende e queima; ó olhos poderosos
de dar à noite luz, e vida à morte!

Olhos por quem mais claro nasce o dia,
por quem são os meus olhos tão ditosos,
que de chorar por vós lhes coube em sorte.
António Ferreira

Cortesia de tertuliabibliofila

Livro II dos Sonetos
9

Co'a alma nos céus pronta, o espírito inteiro,
leve o sembrante, a vista graciosa,
aquela, antes da morte já gloriosa,
esperava o combate derradeiro.

de santa fé armada e verdadeiro
amor divino, venceu a espantosa
morte, que nela pareceu fermosa,
e nova estrela a fez no céu terceiro.

E tomando-me a mão leda, e risonha
- Meu doce amigo -diz - vinda é minh'hora.
Quem nos assi cá atou soltou o nó.

Quem mais cuida que vive, esse mais sonha.
Lá onde se não geme, nem se chora,
t'amará mais est'alma, o corpo é pó.
António Ferreira

JDACT

TEMÁTICA, a Maçonaria: Parte I. Fernando Pessoa sobre a Maçonaria. «Pois o mal é esse - não sabe. Nesse ponto, se não sabe, terá de continuar a não saber. De mim, pelo menos, não receberá a luz. Forneço-lhe, em todo o caso, uma espécie de meia-luz, qualquer coisa como a "treva visível" de certo grande ritual»

Cortesia de jairwpr.wordpress 

Fernando Pessoa sobre a Maçonaria
Extracto do artigo que Fernando Pessoa publicou no Diário de Lisboa, (4.388) de 4/2/1935, contra o projecto de lei do deputado José Cabral, proibindo o funcionamento das associações secretas, sejam quais forem os seus fins e organização.

«Começo por uma referência pessoal, que cuido, por necessária, não dever evitar. Não sou maçon, nem pertenço a qualquer outra ordem semelhante ou diferente. Não sou, porém, antimaçon, pois o que sei do assunto me leva a ter uma ideia absolutamente favorável da Ordem Maçónica. A estas duas circunstâncias que em certo modo me habilitam a poder ser imparcial na matéria, acresce a de que, por virtude de certos estudos meus, cuja natureza confina com a parte oculta da Maçonaria - parte que nada tem de político ou social -, fui necessariamente levado a estudar também esse assunto - assunto muito belo, mas muito difícil, sobretudo para quem o estuda de fora».
«Começo a valer. Creio não errar ao presumir que o sr. José Cabral supõe que a Maçonaria é uma associação secreta. Não é. A Maçonaria é uma Ordem secreta, ou, com plena propriedade, uma Ordem iniciática. O sr. José Cabral não sabe, provavelmente, em que consiste a diferença. Pois o mal é esse - não sabe. Nesse ponto, se não sabe, terá de continuar a não saber. De mim, pelo menos, não receberá a luz. Forneço-lhe, em todo o caso, uma espécie de meia-luz, qualquer coisa como a «treva visível» de certo grande ritual. Vou insinuar-lhe o que é essa diferença por o que em linguagem maçónica se chama «termos de substituição». A Ordem Maçónica é secreta por uma razão indirecta e derivada - a mesma razão por que eram secretos os Mistérios antigos, incluindo os dos primitivos cristãos, que se reuniam em segredo, para louvar a Deus, em que o que hoje se chamariam Lojas ou Capítulos, e que, para se distinguir dos profanos, tinham fórmulas de reconhecimento - toques, ou palavras de passe, ou o que quer que fosse. Por esse motivo os romanos lhes chamavam ateus, inimigos da sociedade e inimigos do Império - precisamente os mesmos termos com que hoje os maçons são brindados pelos sequazes da Igreja Romana, filha, talvez ilegítima, daquela maçonaria remota. Feito assim o meu pequeno presente de meia-luz, entro directamente no que verdadeiramente».
interessa - as consequências que adviriam, para o País, da aprovação do projecto de lei do sr. José Cabral. Tratarei primeiro das consequências internas.
A primeira consequência seria esta - coisa nenhuma. Se o sr. José Cabral cuida que ele, ou a Asembleia Nacional, ou o Governo, ou quem quer que seja, pode extinguir o Grande Oriente Lusitano, fique desde já desenganado. As Ordens Iniciáticas estão defendidas, ab origine symboli, por condições e forças muito especiais que as tornam indestrutíveis de fora. Não me proponho explicar o que sejam essas forças e condições: basta que indique a sua existência
«A Maçonaria compõe-se de três elementos: o elemento iniciático, pelo qual é secreta; o elemento fraternal; e o elemento a que chamarei humano – isto é, o que resulta de ela ser composta por diversas espécies de homens, de diferentes graus de inteligência e cultura, e o que resulta de ela existir em muitos países, sujeita portanto a diversas circunstâncias de meio e de momento histórico, perante as quais, de país para país e de época para época reage, quanto à atitude social, diferentemente.

Cortesia de anunciadordasfeirasnovas

«Nos primeiros dois elementos, onde reside essencialmente o espírito maçónico, a Ordem é a mesma sempre e em todo o mundo. No terceiro, a Maçonaria – como aliás qualquer instituição humana, secreta ou não – apresenta diferentes aspectos, conforme a mentalidade de Maçons individuais, e conforme circunstâncias de meio e momento histórico, de que ela não tem culpa. Neste terceiro ponto de vista, toda a Maçonaria gira, porém, em torno de uma só ideia – a "tolerância"; isto é, o não impor a alguém dogma nenhum, deixando-o pensar como entender. Por isso a Maçonaria não tem uma doutrina. Tudo quanto se chama "doutrina maçónica" são opiniões individuais de Maçons, quer sobre a Ordem em si mesma, quer sobre as suas relações com o mundo profano. São divertidíssimas: vão desde o panteísmo naturalista de Oswald Wirth até ao misticismo cristão de Arthur Edward Waite, ambos tentando converter em doutrina o espírito da Ordem. As suas afirmações, porém, são simplesmente suas; a Maçonaria nada tem com elas. Ora o primeiro erro dos Antimaçons consiste em tentar definir o espírito maçónico em geral pelas afirmações de Maçons particulares, escolhidas ordinariamente com grande má fé.

Cortesia de sedentario

O segundo erro dos anti-maçons consiste em não querer ver que a Maçonaria, unida espiritualmente, está materialmente dividida, como já expliquei. A sua acção social varia de país para país, de momento histórico para momento histórico, em função das circunstâncias do meio e da época, que afectam a Maçonaria como afectam toda a gente. A sua acção social varia, dentro do mesmo país, de Obediência para Obediência, onde houver mais que uma, em virtude de divergências doutrinárias – as que provocaram a formação dessas Obediências distintas, pois, a haver entre elas acordo em tudo, estariam unidas. Segue daqui que nenhum ato político ocasional de nenhuma Obediência pode ser levado à conta da Maçonaria em geral, ou até dessa Obediência particular, pois pode provir, como em geral provém, de circunstâncias políticas de momento, que a Maçonaria não criou.

Cortesia de submarino 


Resulta de tudo isto que todas as campanhas anti-maçónicas – baseadas nesta dupla confusão do particular com o geral e do ocasional com o permanente – estão absolutamente erradas, e que nada até hoje se provou em desabono da Maçonaria. Por esse critério – o de avaliar uma instituição pelos seus actos ocasionais porventura infelizes, ou um homem por seus lapsos ou erros ocasionais – que haveria neste mundo senão abominação? Quer o Sr. José Cabral que se avaliem os papas por Rodrigo Bórgia, assassino e incestuoso? Quer que se considere a Igreja de Roma perfeitamente definida em seu íntimo espírito pelas torturas dos Inquisidores (provenientes de um uso profano do tempo) ou pelos massacres dos albigenses e dos piemonteses? E contudo com muito mais razão se o poderia fazer, pois essas crueldades foram feitas com ordem ou com consentimento dos papas, obrigando assim, espiritualmente, a Igreja inteira.

Cortesia de hermanubis 


Sejamos, ao menos, justos. Se debitamos à Maçonaria em geral todos aqueles casos particulares, ponhamos-lhe a crédito, em contrapartida, os benefícios que dela temos recebido em iguais condições. Beijem-lhe os jesuítas as mãos, por lhes ter sido dado acolhimento e liberdade na Prússia, no século dezoito – quando expulsos de toda a parte, os repudiava o próprio Papa – pelo Maçom Frederico II. Agradeçamos-lhe a vitória de Waterloo, pois que Wellington e Blucher eram ambos Maçons. Sejamos-lhe gratos por ter sido ela quem criou a base onde veio a assentar a futura vitória dos Aliados – a "Entente Cordiale", obra do Maçom Eduardo VII. Nem esqueçamos, finalmente, que devemos à Maçonaria a maior obra da literatura moderna – o "Fausto" do Maçom Goeth.
Acabei de vez. Deixe o Sr. José Cabral a Maçonaria aos Maçons e aos que, embora o não sejam, viram, ainda que noutro Templo, a mesma Luz. Deixe a anti-maçonaria àqueles anti-maçons que são os legítimos descendentes intelectuais do célebre pregador que descobriu que Herodes e Pilatos eram Vigilantes de uma Loja de Jerusalém». In Fernando Pessoa, Diário de Lisboa, (4.388) de 4/2/1935.

(…)
(E) foi então que, para te vingar
E à maneira de santo, os arreliar
Desceste mansamente à terra
Perfeitamente disfarçado
E fizeste entre os homens da razão
Um milagre assignado,
mas cuja assignatura se erra
Quando em teu dia, S. João do Verão,
Fundaste a Grande Loja de Inglaterra.

Isto agora é que é bom,
Se bem que vagamente rocambolico.
Eu a julgar-te até catholico,
E tu sahes-me maçon.

Bem, ahi é que ha espaço para tudo,
Para o bem temporal do mundo vario.
Que o teu sorriso doure quanto estudo
E o teu Cordeiro
Me faça sempre justo e verdadeiro,
Prompto a fazer fallar o coração
Alto e bom som
Contra todas as fórmulas do mal,
Contra tudo que torna o homem precario.
Se és maçon,
Sou mais do que maçon – eu sou templarío.

Esqueço-te santo
Deslembro o teu indefinido encanto.

Meu Irmão, dou-te o abraço fraternal.
Fernando Pessoa, últimas estrofes do poema S. João (1935)

Cortesia de A. H. Oliveira Marques/Gremio Lusitano/JDACT

Carmen Balesteros: Marcas de Simbologia Religiosa Judaica e Cristã.

Cortesia de callipole
Marcas de Simbologia Religiosa Judaica e Cristã. Para o levantamento prévio em povoações da raia portuguesa e espanhola. Carmen Balesteros, Callipole, revista cultural, nº 3/4, 1995/1996

«Começámos por nos debruçar sobre esta questão aquando do estudo desenvolvido sobre a Judiaria e a Sinagoga de Castelo de Vide, e não pudemos ficar-lhe indiferentes quando estudámos a Sinagoga de Valência de Alcântara-Cáceres.
No decorrer do estudo sobre a Sinagoga Medieval de Évora, verificámos existirem no núcleo urbano medieval da cidade algumas constantes identificadas nos casos anteriores, no que diz respeito entre outras coisas, à existência de marcas de simbologia religiosa com um discurso simbólico e estético muito semelhante. Assim sendo, consideramos justificar-se um estudo específico do assunto.

Sobre a questão específica das Marcas de Simbologia Religiosa Judaica e Cristão importa agora juntar os dados obtidos pelo alargamento da área de investigação às povoações de Vila Viçosa, Elvas, Monsaraz, Redondo, Borba, Alandroal.

Cortesia de callipole

As marcas de simbologia religiosa judaica e cristã sobre as quais nos debruçámos, ocorrem sobretudo em ombreiras de porta ou de janela, permitindo-nos os levantamentos até agora realizados, a elaboração de uma tipologia genérica mas que aponta para uma divisão das marcas identificadas em quatro grupos:
  • As marcas nas mezuzot;
  • As marcas longitudinais;
  • As cruzes cristãs;
  • As abreviaturas católicas.
Até agora, as marcas menos frequentes são as marcas nas mezuzot e as abreviaturas católicas, estas ainda menos que aquelas. As marcas que nos parecem resultar da prática judaica de marcar as ombreiras das portas, ou marcas nas mezuzot, foram localizadas, até agora, em Évora, Monsaraz, Castelo de Vide e Albuquerque (Espanha), ao passo que as marcas longitudinais e as cruzes cristãs revelam, em contrapartida, uma frequência e uma dispersão geográfica significativamente maiores. As marcas identificáveis nas quatro localidades referidas são bastante semelhantes entre si, tratando-se de concavidades de cerca de 10 cm de altura por 2 cm de largura e o mesmo de espessura, abertas todas elas em portadas graníticas a uma altura do chão que varia naturalmente, em função das dimensões da respectiva porta. Em qualquer dos casos, a localização da concavidade possibilita(va) que uma pessoa de estatura média a pudesse tocar ao ultrapassar a porta.

Cortesia de callipole

As concavidades destinavam-se a guardar um pequeno estojo que continha no seu interior um rolo de pergaminho ou papel no qual se inscreviam as palavras do Shemá, oração fundamental o culto judaico, elaborada a partir das palavras de Deuteronómio ou de Êxodo.
Para além da total adesão íntima e pessoal à fé monoteísta, e da necessidade do esforço de transmissão no espaço do núcleo familiar do credo religioso monoteísta, pressupostos pelo texto sagrado, apela-se ainda à utilização de sinais exteriores no corpo humano mas também nos umbrais da casa, que marquem e lembrem constantemente aos seus utilizadores a fé que os identifica.
( … )
Um outro género de marcas é constituído pelas cruzes cristãs e abreviaturas católicas, cujo significado simbólico se torna de mais fácil e rápida identificação. Até agora, os núcleos urbanos antigos onde encontrámos as maiores frequências deste género de marcas foram os de Valência de Alcântara-Cáceres, Alpalhão e Trancoso, ainda que nesta e noutras localidades tenhamos também identificado alguns dos outros géneros de marcas já referidos. Se bem que a informação disponível não aponte para uma significativa presença judaica medieval em Alpalhão, o mesmo não podemos dizer de Trancoso, terra do sapateiro Bandarra, ou de Valência de Alcântara, onde se casaram D. Manuel I e a infanta D. Isabel, filha de Fernando e Isabel, os Reis Católicos, existido em ambas as localidades comunas judaicas que possuíram as suas sinagogas.


Cortesia de callipole

A preocupação de cristianizar os espaços encontra-se nas casas, nas fortificações, ou mesmo noutros espaços públicos vitais como as fontes, como é o caso da fonte da praça Martim Afonso em Vila Viçosa, onde a base quadrangular de três das colunas marmóreas, apresenta a marcação de várias cruzes». In Carmen Balesteros, Callipole, revista cultural, nº 3/4, 1995/1996.

Cortesia de callipole
Cortesia de Callipole/Vila Viçosa

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Leituras. Parte VIII: O Último Catão. «O enredo situa-se nos últimos tempos do Pontificado de João Paulo II, época conturbada e especialmente propícia aos jogos de interesses e poder que se desenrolam no Vaticano. Os conflitos pessoais dos personagens vão pondo em questão alguns dos dogmas mais teimosamente defendidos pela Igreja, como o celibato e a castidade»


Cortesia de matildeasensi

O Último Catão
El Último Caton 
Autor: Matilde Asenci
(Espanha)
Editora: Dom Quixote
Género: Romance
Ano de Publicação da 1ª Edição: 2001
Páginas: 623
ISBN: 978-972-20-3360-2

Com a devida vénia ao CITADOR
Opinião:
«Mais um sucedâneo do Código da Vinci? Garantidamente, não! “O último Catão” prima pela originalidade, rigor, criatividade e aquela “leveza” cativante que se sorve do género policial, associada ao encanto do romance histórico. Matilde Asenci é nada menos que a escritora espanhola mais lida na actualidade. Este livro vendeu mais de um milhão de exemplares em Espanha. Estes dois factos são suficientes para tornar incompreensível o ter passado quase desapercebido nas nossas montras.
Trata-se de uma obra de romance histórico puro, com um enredo simplesmente entusiasmante e, na linha do melhor policial, com um final absolutamente inesperado. Um dos melhores desfechos que li nos últimos anos.

Cortesia de joseferrandiz

Tudo se inicia com o assassinato de um etíope que exibe estranhas tatuagens no corpo: sete letras gregas e sete cruzes. Junto ao corpo foram encontrados três pedaços que tudo indica pertencerem à Vera Cruz, a verdadeira cruz de Cristo. A irmã Ottavia Salina, dedicada profissional do arquivo secreto do Vaticano, acompanhada por um arqueólogo de Alexandria, e pelo capitão da Guarda Suíça do Vaticano, recebe o encargo de decifrar as estranhas tatuagens aparecidas no cadáver. Ao mesmo tempo, iam desaparecendo das mais diversas igrejas, um pouco por todo o mundo, as relíquias da cruz de Cristo. Cabe aos nossos três heróis, guiados pela “Divina Comédia” de Dante, descobrir o paradeiro das relíquias e identificar a seita “criminosa”. Numa tentativa de chegarem até aos culpados, o grupo terá de superar sete desafios, associados aos sete pecados mortais, em sete cidades diferentes: Roma pela soberba, Ravena pela inveja, Jerusalém pela ira, Atenas pela preguiça, Constantinopla pela avareza, Alexandria pela gula e Antioch pela luxúria. A viagem por estas cidades é deveras fascinante.

Cortesia de flickr
A imaginação de Asensi é assombrosa: o livro está cheio de peripécias que prendem o leitor de forma avassaladora, de tal maneira que as mais de seiscentas páginas desta edição são devoradas a um ritmo alucinante. Por outro lado, este riquíssimo enredo envolve o melhor de um romance histórico: a fidelidade à verdade histórica; aquilo que não é imaginação, é perfeitamente fiel e autêntico. Ao contrário do que acontece noutras obras do género, é fácil ao leitor distinguir a fantasia do fundo histórico. Sendo uma obra de ficção, este livro permite ao leitor enriquecer o seu conhecimento sobre a história da igreja católica e dos vários conflitos com outras religiões ou seitas divergentes.

Por fim, o aspecto mais polémico da obra: a impiedosa crítica da autora à Igreja Católica, ao seu conservadorismo e aos desvios relativamente à doutrina pura do Cristianismo. O enredo situa-se nos últimos tempos do Pontificado de João Paulo II, época conturbada e especialmente propícia aos jogos de interesses e poder que se desenrolam no Vaticano e que Asenci aborda com coragem e desassombro. Por outro lado, os conflitos pessoais dos personagens vão pondo em questão alguns dos dogmas mais teimosamente defendidos pela Igreja, como o celibato e a castidade.
Em suma, um livro sem grandes ambições estilísticas ou de inovação literária mas que funciona como um maravilhoso exercício para usufruir do prazer de ler: leve, corajoso, divertido, interventivo, crítico e, acima de tudo, apaixonante».
Utilizador, Manuel Cardoso Gomes.

Cortesia de O Citador/JDACT

Braga. Falperra: Parte II. Igreja de Santa Maria Madalena. Obra-prima do barroco final português

Cortesia de caminhos romanos 

Igreja de Santa Maria Madalena
Situada igualmente na Falperra, para o lado norte da alameda e do hotel, a Igreja de Santa Maria Madalena data do século XVIII (1753-1755). É uma obra-prima do barroco final português - o rocaille - atribuída ao arquitecto bracarense André Soares Ribeiro da Silva (1720-1769). A decoração da fachada é sumptuosa e tem forte dinamismo. É flanqueada por duas torres que mostram bem o génio de André Soares, ao conseguir conjugar de modo muito feliz a estrutura e a decoração. No centro, uma grande estátua de Santa Maria Madalena parece protegida pelas duas torres, com dois óculos cegos, sob cornijas, onde figuram os bustos de Santa Marta e São Lázaro.



Cortesia de caminhos romanos


A igreja foi edificada por ordem do Arcebispo D. Rodrigo de Moura Teles. Ao que tudo indica, já existia naquele local um outro espaço de culto, que remontaria ao século XVI, entre 1505-1532, altura em que D. Diogo de Sousa era Arcebispo de Braga (Os registos referentes a este facto desapareceram). Possui uma ampla escadaria de seis lanços com desenho particularmente harmonioso.
A originalidade do corpo desta igreja está no facto de estar traçada, não em cruz, mas em forma de corpo crucificado - uma nave longitudinal, de onde partem dois braços oblíquos. Esta disposição da igreja permite apreciar, logo a partir do vestíbulo, de três perspectivas distintas, com uma unidade espacial de rara beleza. A iluminação natural do interior, captada de forma muito inteligente, realça os valores decorativos do interior.
A nave central é rematada por um belo retábulo de André Soares, onde se destacam as imagens do Crucificado e de Santa Maria Madalena. Também se atribuem a este ilustre arquitecto bracarense os desenhos dos dois retábulos laterais e do púlpito. No lado esquerdo da igreja, pode ver-se uma imagem muito expressiva de Santa Maria Madalena, obra do escultor Cândido Pinto, também ele de Braga.



Cortesia de caminhos romanos


Ao centro do altar-mor, sobressai a imagem de Cristo crucificado, no momento da agonia. Esta escultura em madeira, obra de João Evangelista de Araújo Vieira, possui rara beleza formal, mesmo quando alguém lhe tenha desejado ainda maior vigor expressivo. Foi esta imagem que inspirou Antero de Figueiredo na sua obra-prima: «O último olhar de Jesus». «Jesus - escreve o grande autor português - deve ter morrido serenamente, na doçura sublime do humano-divinizado. Jesus sofrerá fisicamente, mas a sua alma heróica fá-l'O triunfar de Si próprio. ( ... ) Ela derrama paz entre os desesperados; e, Felicidade absoluta, entremostra a luz do Bem e da Beleza eternos. A agonia de Jesus deve ter sido uma agonia de Amor: um sofrer amando, um amar sofrendo. Na majestade da Dor, a majestade do Amor».

Antero de Figueiredo
Cortesia de caminhos romanos


Cortesia de Caminhos Romanos/JDACT