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«(…)
Isso é irrelevante, respondeu o Secretário, desde que tenhas cumprido a tua
missão. Com excepcão da fonte, de quem irás encarregar-te em breve, era o
último homem com acesso à lista. A fuga dessa lista havia sido um erro imperdoável.
Uma coisa tão simples como uma lista de nomes punha em risco tudo o que tinham conseguido
reunir. Uma lista que incluía nomes que ninguém devia conhecer. O plano
dependia desse secretismo, desse anonimato, porém, sem saber bem como, a lista
de nomes fora comprometida. A única resposta possível havia sido a eliminação
daqueles que a tinham visto. O Guardião e o seu Ajudante eram homens cujas vidas
possuíam um valor inegável, todavia esse valor era ultrapassado pelos riscos. O
Secretário ficara tão absorto nos seus pensamentos que, num primeiro momento,
nem sequer notou o silêncio do outro lado da linha. Mas não tardou a que um
alarme interno soasse. Esqueceu os devaneios e inclinou-se para a frente. O que
se passa? O que correu mal? O facto de estar à nossa espera..., pode ser mais
relevante do que pensa. O Secretário estremeceu. Não lhe agradavam as
surpresas. Inclinou-se um pouco mais e pressionou o auscultador contra a cara. Conta-me
tudo.
Chegou
ao gabinete antes de eu conseguir acabar com ele. Na altura fiquei com a
impressão de que algo não estava bem, mas não podia demorar-me. A minha suspeita
confirmou-se esta manhã quando regressei para acompanhar o desenvolvimento
desse assunto. Continua, ordenou o Secretário com uma calma estudada. Contava
com décadas de experiência a receber más notícias. Sabia como era importante
manter a compostura nos momentos mais difíceis. Um bom líder tornava-se mais
feroz e temível quando sabia manter a calma. Havia um livro no gabinete dele.
Faltavam-lhe três folhas. Tinham sido arrancadas, explicou o Amigo. Encontrei-as
queimadas no cesto dos papéis ao lado da cadeira. Fez uma pausa para que o
Secretário pudesse digerir os pormenores. Não estava à espera de uma resposta
ou de uma reacção. Não era assim que funcionava a relação entre eles.
Esperava-se apenas que respondesse ao que lhe perguntavam. O Secretário pediria
mais informações se as desejasse. O homem mais velho reflectiu sobre o estranho
relatório. Então, havia qualquer coisa que o Guardião não queria que o seu
assassino visse. Estava decidido a complicar-lhes a vida mesmo depois de morto.
O Secretário pronunciou as seguintes palavras mais como uma ameaça do que como
uma pergunta: conseguiste saber pormenores desse livro? Claro, senhor. Fez um
esforço para relaxar os músculos dos ombros. O Amigo estava bem treinado. Quero
esses pormenores em cima da minha mesa dentro de meia hora. Envia-os enquanto
regressas a Washington. A caça não ia terminar daquela maneira. E consegue-me
urna cópia desse livro.
Washington,
D. C. 10h 45 EST (9h 45 CST)
As
notícias contidas na pasta de arquivo vermelha que segurava nas mãos eram
inquietantes, mas dificilmente mais exaustivas do que as proporcionadas pela CNN,
no seu televisor, ligado do outro lado da sala, e apresentadas por uma mulher
loira sentada a uma mesa. Tirara o som ao televisor há uns minutos, quando o
assistente entrou no gabinete. A locutora dera a notícia de uma explosão no Reino
Unido, e um helicóptero sobrevoava a cena para oferecer imagens em directo. Todavia,
para além da hora da explosão e de uma panorâmica geral do alcance dos danos, pouco
mais se sabia naquele momento. Uma célebre igreja antiga, uma das mais importantes
do património inglês, fora destruída numa explosão às primeiras horas da manhã.
Não havia baixas, salvo o dano sentimental e os estragos causados ao património
histórico. Já alguém reivindicou a autoria da explosão?, quis saber. Ainda não,
senhor Hines, replicou o seu assistente. Jefferson cerrou os dentes com força
perante a falta de deferência do jovem. Não se dirigir a ele pelo cargo era
algo que o outro fazia propositadamente. A CIA está a acompanhar o SIS britânico
na procura de suspeitos, contudo, até agora, nem os loucos do costume quiseram ficar
com os créditos». In AM Dean, O Bibliotecário, 2012, Clube do Autor, Lisboa, 2014, ISBN
978-989-724-124-6.
Cortesia de
CdoAutor/JDACT