terça-feira, 23 de maio de 2023

O Último Cabalista de Lisboa. Richard Zimler. «É esta maldita barba!, resmungou meu tio. Não consigo chegar à ferida. O Doutor Montesinhos vai ter de te cortar a barba, disse ele para o ferido. Diego, que pertencia à casta sacerdotal de Levi, ao ouvir isto, deu-nos um empurrão…»

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A descoberta do manuscrito de Berequias Zarco

«(…) O impressor Diego foi o primeiro a contribuir para o rio de sangue que durante os dias que se seguiram haveria de nos conduzir à paisagem de um deserto apenas rodeado de mágoa. Mas por enquanto essa geografia de morte era ainda um segredo para nós. Pela sua fronte corriam torrentes de suor e as faces estavam sujas das marcas da eterna poeira da cidade. O sangue do corte no queixo fluía pelo pescoço. Por entre ataques de tosse, procurava recuperar o fôlego. Andava a passear por aqui... só um passeio, disse ele em português. Parei perto do rio, no Chafariz d’El-Rei a lavar as mãos.

Tia Ester desapertou-lhe a gola do gibão enodoado e limpou-lhe o peito com um farrapo que rasgou da sua blusa. Reparei no traço escuro de uma cicatriz antiga que tinha no peito, por baixo da clavícula, que parecia ter sido escavada por algum bicho. Em torno a nós, começaram a juntar-se vizinhos, a bisbilhotar entre si. Dois rapazes..., continuou Diego. Começaram aos berros que eu estava a envenenar o poço com essência de peste. Desataram a correr atrás de mim. Caí. Atiraram-me pedras. Apanhem o rabino de rabicho! Apanhem o rabino... Quem me salvou foi um homem moreno com um gorro azul. Era alto, forte... No seu desespero, as últimas palavras procuravam o socorro do hebraico. Fala português, murmurei-lhe, enquanto o deitávamos no empedrado da rua.

O turbante de Diego tombou e reparei então pela primeira vez, por entre os tufos de cabelo que lhe cobriam as orelhas e que começava a rarear e a ficar grisalho, os sinais que cobriam a sua cabeça. Tinha-lhe caído um papel dobrado. Pensando que podia ser alguma mensagem ou alguma fórmula de orações que o poderiam incriminar como judeu praticante, apanhei-o e enfiei-o na grande bolsa que sempre trazia pendurada ao pescoço e me servia como uma espécie de bornal. Judas encostava-se a mim, gelado de medo, e tive de o sacudir para que fosse chamar o Doutor Montesinhos. Meu tio reuniu-se a nós e, depois de uma breve oração, disse: Vou lá dentro ver se posso arranjar algum remédio.

Ainda tentei manter fechado o lanho, com os dedos apertados em torno da ligadura improvisada de minha tia, mas o tecido depressa ficou tinto de sangue. Tia Ester foi a correr buscar água limpa, enquanto eu rasgava tiras da minha camisa para substituir as ligaduras. Meu tio chegou com Farid. Traziam extractos de consolda, bagas de loureiro, gerânio, goma e argila, goma arábica e água sulfurosa. Mas apesar de todas estas substâncias adstringentes, o sangue não coagulava.

É esta maldita barba!, resmungou meu tio. Não consigo chegar à ferida. O Doutor Montesinhos vai ter de te cortar a barba, disse ele para o ferido. Diego, que pertencia à casta sacerdotal de Levi, ao ouvir isto, deu-nos um empurrão. Não o permitirei!, gritou em hebraico. Tenho de ter barba. É proibido...» In Richard Zimler, O Último Cabalista de Lisboa, 1996, Quetzal Editores, Lisboa, ISBN 978-972-004-491-4.

 Cortesia de QuetzalE/JDACT

JDACT, Richard Zimler, Judeus, História Local, Conhecimentos,

segunda-feira, 15 de maio de 2023

O Santo Graal e a Linhagem Sagrada. Michael Baigent, Richard Leigh e Henry Lincolin. «.Nos anos que se seguiram o rei procurou obstinadamente obter o original de Les Bergers d'Arcadie, de Poussin. Quando finalmente conseguiu, guardou o quadro em seus apartamentos privados, em Versalhes»

 

Cortesia de wikipedia e jdact

O Mistério. A Intriga

«(…) Como talvez fosse de se esperar, após a exibição do filme recebemos um dilúvio de cartas, elogiosas ou excêntricas. Algumas ofereciam  intrigantes sugestões. Uma delas, que o autor não desejava ver publicada, parecia merecer especial atenção. O missivista era um padre anglicano aposentado que parecia ser um curioso e provocador non sequitur. Escreveu com certeza e autoridade categóricas, com asserções claras e objectivas, sem titubeios, e com aparente descaso por acreditarmos ou não no que dizia. O tesouro, declarou sem escândalo, não envolvia ouro ou pedras preciosas. Era, ao contrário, uma prova irrefutável de que a crucificação havia sido uma fraude e que Jesus vivera até 45 d.C.

Isso soou, evidentemente, absurdo. O que seria, mesmo para um ateu convicto, uma  prova irrefutável da sobrevivência de Cristo à crucificação? Éramos incapazes de imaginar algo crível que pudesse constituir não somente prova, mas, além disso, fosse irrefutável. Ao mesmo tempo, a abrupta extravagância da afirmação pedia esclarecimentos.

Como o autor da carta havia fornecido endereço para retorno, na primeira oportunidade fomos vê-lo para tentar uma entrevista. Ele foi muito mais reticente no contacto pessoal. Aparentou arrependimento por nos haver escrito. Recusou-se a desenvolver sua referência à prova irrefutável e só ofereceu um fragmento adicional de informação. A prova, ou sua existência, havia sido revelada a ele por outro clérigo anglicano, Alfred Leslie Lilley.

Lilley, que morreu em 1940, havia publicado muito e não era desconhecido. Durante a maior parte de sua vida, mantivera contatos com  o Movimento Modernista Católico, baseado principalmente em Saint Sulpice, em Paris, e conhecia Emile Hoffet.

A trilha tornou-se circular, mas a conexão entre Lilley e Hoffet nos impedia de rejeitar sumariamente as afirmações do nosso missivista. Evidências similares de um segredo monumental haviam surgido durante nossa pesquisa sobre a vida de Nicolas Poussin, o grande pintor do século XVII, cujo nome reaparecia ao longo da história de Saunière. Em 1656, Poussin, que vivia em Roma, teria recebido uma visita do abade Louis Fouquet, irmão de Nicolas Fouquet, superintendente de finanças de Luís XIV da França. De Roma, o abade despachara uma carta a seu irmão, descrevendo sua visita a Poussin. Parte desta carta merece menção. Nós discutimos certas coisas que devo sem óbice ser capaz de explicar-lhe em detalhes,  coisas que lhe darão, através do Senhor Poussin, vantagens que mesmo reis teriam dificuldades em obter e que, segundo ele, é possível que ninguém mais venha a redescobrir nos próximos séculos. São coisas tão difíceis de descobrir que nada sobre a Terra, hoje, pode significar melhor ou igual fortuna.

Nenhum historiador ou biógrafo de Poussin ou Fouquet explica esta carta, que se refere claramente a um assunto misterioso de imensa importância. Logo depois de recebê-la, Nicolas Fouquet foi detido e encarcerado por toda a vida. Segundo alguns relatos, foi mantido incomunicável,  alguns historiadores o vêem como o provável Homem da Máscara de Ferro. Toda sua correspondência foi confiscada por Luís XIV, que a  inspecionou pessoalmente. Nos anos que se seguiram o rei procurou obstinadamente obter o original de Les Bergers d'Arcadie, de Poussin. Quando finalmente conseguiu, guardou o quadro em seus apartamentos privados, em Versalhes.

Embora de grande qualidade artística, o quadro é aparentemente ingénuo. Três pastores e uma pastora, em primeiro plano, estão reunidos em volta de uma grande e antiga tumba, contemplando a inscrição na pedra envelhecida: ET IN ARCADlA EGO. No fundo vislumbra-se uma paisagem montanhosa, irregular, do tipo geralmente associado com Poussin. Segundo Anthony Blunt e outros especialistas em Poussin, essa paisagem é totalmente mística, produto da imaginação do pintor. Entretanto, no início dos anos 70, uma tumba real foi localizada, idêntica àquela do quadro,  idêntica em cenário, dimensões, proporções, forma, vegetação e até mesmo» In Michael Baigent, Richard Leigh e Henry Lincolin, O Santo Graal e a Linhagem Sagrada, Editora Nova Fronteira, 2015, ISBN 978-852-090-474-9.

Cortesia de ENFronteira/JDACT

JDACT, Michael Baigent, Richard Leigh, Henry Lincolin, Literatura, Religião, Conhecimento,

domingo, 14 de maio de 2023

O Santo Graal e a Linhagem Sagrada. Michael Baigent, Richard Leigh e Henry Lincolin. «Não houve qualquer especulação sobre a existência de um segredo explosivo ou de chantagem em altas esferas. Vale mencionar que o filme não citava o nome de Emile Hoffet, o jovem seminarista…»

 

Cortesia de wikipedia e jdact

O Mistério. Os Possíveis Tesouros

«(…) Mais de três séculos depois, em 410 d.C., Roma foi por sua vez saqueada. Invasores visigodos, liderados por Alaric, o Grande, pilharam toda a riqueza da Cidade Eterna. Segundo o historiador Procopius, Alaric escapou  com os tesouros de Salomão, rei dos hebreus, maravilhas aos olhos, pois eram em sua maioria enfeitados de esmeraldas e haviam  sido roubados de Jerusalém  pelos romanos. Um tesouro poderia então ser a fonte da inexplicável fortuna de Saunière. O padre poderia ter descoberto um dos vários tesouros, ou um único que mudara de mãos repetidamente através dos séculos, passando talvez do Templo de Jerusalém aos romanos, depois aos visigodos e finalmente aos cátaros e/ou  aos templários.

Estaria explicado o facto de o tesouro pertencer a Dagobert II e a Sion. Até aí nossa história parecia ser essencialmente uma história de tesouros. Como tal - mesmo envolvendo o Templo de Jerusalém, seria de relevância limitada. Pessoas estão constantemente descobrindo tesouros de um tipo ou de outro. São, com frequência, descobertas excitantes, dramáticas e misteriosas, e muitas delas lançam  importantes luzes sobre o passado. Poucas, no entanto, exercem  alguma influência directa, de ordem política ou não, sobre o presente,  a menos, é claro, que o tesouro em questão inclua um segredo de algum tipo, possivelmente explosivo.  Nós não eliminamos a possibilidade de Saunière haver descoberto um tesouro. Ao mesmo tempo, parecia claro que, além de qualquer outra coisa, ele descobrira também um segredo histórico de imensa importância no seu tempo, e talvez no nosso. Dinheiro, ouro ou jóias  não explicariam, por si mesmos, muitas facetas de sua história. Não levariam  à sua introdução no círculo de Hoffet, por exemplo, à sua associação com Debussy ou à sua relação com Emma Calvé. Não explicariam o imenso interesse da Igreja  no assunto, a impunidade com a qual Saunière desafiara o bispo ou sua subsequente exoneração pelo Vaticano, que pareceu mostrar uma preocupação urgente com o caso. Não explicariam a recusa de um padre em ministrar a extrema-unção a um moribundo, ou a visita de um arquiduque de Habsburgo a uma longínqua cidadezinha dos Pirinéus, especialmente numa ocasião, em 1916, em que seu país estava em guerra com  a França. Dinheiro, ouro ou jóias tampouco explicariam a poderosa aura de mistificação que envolveu todo o caso, desde os códigos sofisticados até a queima, por Marie Denarnaud, de sua herança em dinheiro. E a própria Marie prometera divulgar um segredo que conferia não só fortuna, mas poder .

Na medida em que as informações se acumulavam, ficávamos cada vez mais convencidos de que a história de Saunière envolvia, além de riqueza, um segredo polémico. Por outras palavras, pareceu-nos que o mistério não estava confinado a um remoto e isolado vilarejo e a um padre do século XIX. Algo irradiava de Rennes-le-Château e produzia ondas, talvez mesmo uma enchente, no mundo exterior.

Teria a fortuna de Saunière vindo não de algo com valor intrinsecamente financeiro, mas do conhecimento de alguma coisa?

Se este era o caso, poderia tal conhecimento ter-se traduzido em bens materiais? Poderia ter sido utilizado em chantagem, por exemplo? Seria a fortuna de Saunière oriunda do pagamento pelo seu silêncio?

Nós soubemos que ele recebera dinheiro de Johann Von Habsburgo.

Ao mesmo tempo, o segredo do padre, qualquer que fosse, parecia ser de natureza mais religiosa que política. Além disso, suas relações com o arquiduque austríaco, segundo todos os relatos, era marcadamente cordial. Por outro lado, no final de sua carreira o Vaticano ameaçava-o com  luvas de veludo e parecia bastante temeroso dele. Estaria Saunière chantageando o Vaticano? Tal chantagem  seria tarefa presunçosa e arriscada para um homem, qualquer que fossem suas precauções. E se ele estivesse sendo ajudado e apoiado por outros, cuja importância os tornasse invioláveis, tais como os Habsburgo? E se o arquiduque Johann fosse apenas um intermediário, e o dinheiro fornecido por ele a Saunière proviesse, na realidade, dos cofres de Roma?

O Mistério. A Intriga

O primeiro de nossos três filmes sobre Saunière e o mistério de Rennes-Ie-Château, O tesouro perdido de Jerusalém,  foi exibido em Fevereiro de 1972. Não usava argumentos polémicos.

Simplesmente, narrava a história básica, tal como foi contada nas páginas anteriores. Não houve qualquer especulação sobre a existência de um segredo explosivo ou de chantagem em altas esferas. Vale mencionar que o filme não citava o nome de Emile Hoffet, o jovem  seminarista parisiense a quem Saunière confidenciou  seus pergaminhos».  In Michael Baigent, Richard Leigh e Henry Lincolin, O Santo Graal e a Linhagem Sagrada, Editora Nova Fronteira, 2015, ISBN 978-852-090-474-9.

Cortesia de ENFronteira/JDACT

JDACT, Michael Baigent, Richard Leigh, Henry Lincolin, Literatura, Religião, Conhecimento, 

sábado, 13 de maio de 2023

O Santo Graal e a Linhagem Sagrada. Michael Baigent, Richard Leigh e Henry Lincolin. «Outros tesouros existiram. Entre os séculos V e VIII, grande parte da França foi governada pela dinastia merovíngia, que incluía o rei Dagobert II. Rennes-le-Château, no tempo de Dagobert, era um baluarte visigodo…»

Cortesia de wikipedia e jdact

O Mistério. Os Possíveis Tesouros

«(…) Nos tempos pré-históricos, por exemplo, a área ao redor de Rennes-Ie-Château era considerada sítio sagrado pelas tribos celtas que viviam por perto. A cidade em si, antes chamada Rhédae, deriva seu nome de uma  dessas tribos. Nos tempos modernos, uma comunidade grande e promissora ocupara a área, importante por suas minas e fontes termais terapêuticas. Os romanos também  consideravam sagrado o local. Mais tarde, pesquisadores ali encontraram  traços de templos pagãos.

Durante o século VI, o pequeno vilarejo pendurado no topo da montanha possuía presumivelmente 30 mil habitantes. Ele parece ter sido, em determinada época, a capital nortista do império dos visigodos, o povo teutónico que varreu a Europa de centro a oeste, saqueou Roma, derrubou o Império Romano e estabeleceu  seu  próprio domínio cavalgando sobre os Pirinéus.

A cidade permaneceu  como sede de uma importante região, ou condado, o Condado de Razès, por mais quinhentos anos. No início do século XIII, uma armada de cavaleiros do norte desceu  pelo Languedoc para exterminar as heresias cátaras e albigenses e requisitar  para si os ricos espólios da região. Durante as atrocidades da chamada Cruzada Albigense, Rennes-le-Château foi  tomada e transferida de mão em mão, como um domínio. Após pouco mais de um século, por volta de 1360, a população local foi dizimada por uma peste; logo depois, Rennes-le-Château foi destruída por bandos catalães.

As lendas de tesouros fantásticos são entremeadas por essas vicissitudes históricas. Os hereges cátaros, por exemplo, eram considerados possuidores de alguma coisa de valor fabuloso e mesmo sagrado que, segundo várias lendas, era o cálice sagrado.

Estas lendas, segundo relatos, teriam  impelido Richard Wagner a peregrinar até Rennes-le-Château antes de compor sua última ópera, Parsifal; durante a ocupação de 1940-1945, época em que Wagner foi muito popular, as tropas alemãs teriam  realizado inúmeras escavações infrutíferas nas vizinhanças. Havia também o tesouro desaparecido dos templários, cujo grão-mestre, Bertrand de Blanchefort, teria organizado misteriosas escavações nas vizinhanças. Segundo todos os relatos, essas escavações eram de natureza marcadamente clandestina, realizadas por contingentes de mineiros alemães trazidos especialmente para este fim. Algum tipo de tesouro de templários, guardado ao redor de Rennes-le-Château, explicaria a referência a Sion no pergaminho descoberto por Saunière.

Outros tesouros existiram. Entre os séculos V e VIII, grande parte da França foi governada pela dinastia  merovíngia, que incluía o rei Dagobert II. Rennes-le-Château, no tempo de Dagobert, era um baluarte visigodo, e o próprio Dagobert foi casado com uma princesa visigoda. A cidade poderia ter constituído algum tipo de tesouro. Há documentos que falam da grande riqueza acumulada por Dagobert e guardada nos arredores de Rennes-le-Château, visando conquistas militares. A descoberta de algum desses depósitos por Saunière explicaria a referência a Dagobert nos códigos.

Os cátaros. Os templários. Dagobert lI. E ainda um tesouro, produto de saques acumulados pelos visigodos durante seus avanços tempestuosos pela Europa. Tal tesouro poderia incluir mais que o resultado de saques convencionais,  possivelmente, artigos de relevância, tanto simbólica quanto literal, para a tradição religiosa ocidental. Em resumo, o legendário tesouro do Templo de Jerusalém poderia estar aí incluído,  o qual, ainda mais que os templários, explicaria a referência a Sinai.

Em 66 d.C., a Palestina ergueu-se em revolta contra o jugo romano. Quatro anos depois, em 70 d. C., Jerusalém foi arrasada pelas legiões do imperador, sob o comando de seu filho Titus. O Templo foi saqueado, e o conteúdo do lugar mais sagrado dos sacros foi levado para Roma. Conforme descrição no arco triunfal de Titus, este conteúdo incluía o imenso candelabro de sete braços, tão sagrado ao judaísmo, e possivelmente a Arca da Aliança». In Michael Baigent, Richard Leigh e Henry Lincolin, O Santo Graal e a Linhagem Sagrada, Editora Nova Fronteira, 2015, ISBN 978-852-090-474-9.

Cortesia de ENFronteira/JDACT

JDACT, Michael Baigent, Richard Leigh, Henry Lincolin, Literatura, Religião, Conhecimento, 

O Santo Graal e a Linhagem Sagrada. Michael Baigent, Richard Leigh e Henry Lincolin. «Haveria uma explicação banal? Ou envolveria alguma coisa mais excitante? Esta segunda possibilidade deixava entrever um aspecto fascinante do mistério, e nós não podíamos resistir ao impulso de brincar de detectives»

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O Mistério. Rennes-le-Chateau e Berenger Saunière

«(…) No dia 17 de Janeiro de 1917, Saunière, então com 65 anos, sofreu um derrame cerebral. A data de 17 de Janeiro talvez seja suspeita, pois também aparecia na tumba da marquesa de Hautpoul de Blanchefort, a tumba que Saunière havia erradicado. E 17 de Janeiro é também a festa de Saint Sulpice, que reapareceria através de toda a nossa história. Foi no seminário de Saint Sulpice que ele confiou seus pergaminhos ao abade Bieil e a Emile Hoffet. O que torna o derrame de Saunière em 17 de Janeiro mais suspeito é o facto de, cinco dias antes, em 12 de Janeiro, seus paroquianos terem declarado que ele parecia estar gozando de uma saúde invejável para um homem de sua idade. Entretanto, em 12 de Janeiro, segundo um recibo que está connosco, Marie Denarnaud encomendou um caixão para seu mestre.

Quando Saunière estava em seu leito de morte, o padre de uma paróquia vizinha foi chamado para ouvir sua última confissão e administrar a extrema-unção. O padre chegou e confinou-se no quarto do doente. De acordo com testemunhas oculares, ele saiu logo depois, visivelmente chocado. Nas palavras de algumas testemunhas, nunca mais sorriu. Nas palavras de outras, caiu numa depressão profunda que durou vários meses. Se são afirmações exageradas não sabemos, mas o padre, presumivelmente com base na confissão de Saunière, recusou-se a administrar-lhe o último sacramento.

Em 22 de Janeiro Saunière morreu sem o perdão da confissão.

Na manhã seguinte seu corpo foi colocado verticalmente numa poltrona no terraço da Torre Magdala, envolto numa indumentária enfeitadas de pingentes com franjas escarlate. Certas pessoas compadecidas e não identificadas desfilaram, uma a uma, muitas delas arrancando franjas dos pingentes como lembrança do morto.

Nunca houve qualquer explicação para tal cerimónia. Confrontados com ela, residentes actuais de Rennes-Ie-Château ficam tão aturdidos como qualquer outra pessoa.

A leitura do testamento de Saunière foi esperada com grande ansiedade. Para surpresa geral, contudo, ela revelou que não tinha nenhum  tostão. Algum tempo antes de sua morte, aparentemente, transferira sua fortuna para Marie Denarnaud, que compartilhara de sua vida e de seus segredos por 32 anos. Ou talvez a maior parte daquela fortuna tenha estado em seu nome desde o início. Depois da morte de seu mestre, Marie continuou a viver confortavelmente em VilIa Bethania até 1946. Depois da Segunda Guerra Mundial, entretanto, o governo francês recém-instalado estabeleceu uma nova moeda. Como meio de apreender sonegadores de impostos, colaboradores e especuladores do tempo da guerra, os cidadãos franceses eram obrigados a declarar seus rendimentos quando trocavam francos velhos por novos.

Confrontada com a perspectiva de ser obrigada a dar explicações, Marie escolheu a pobreza. Foi vista no jardim da mansão, queimando maços de notas de francos velhos.

Durante os sete anos seguintes, Marie viveu de forma austera, mantendo-se com o dinheiro obtido da venda de ViIla Bethania. Prometeu confiar ao comprador, Noel Corbu, antes de morrer, um segredo que o faria não só rico mas também poderoso.

Em 29 de Janeiro de 1953, entretanto, Marie, como seu mestre antes dela, sofreu um súbito e inesperado derrame cerebral que a deixou prostrada em seu leito, incapaz de falar. Para grande frustração do senhor Corbu, ela morreu logo depois, carregando consigo o segredo.

Os Possíveis Tesouros

Em linhas gerais, esta é a história na forma em que foi publicada na França nos anos 60. Foi a forma sob a qual a descobrimos. E foi para as perguntas levantadas por ela que dirigimos nossa pesquisa, do mesmo modo que outros pesquisadores o fizeram.

A primeira pergunta é bastante óbvia. Qual era a fonte do dinheiro de Saunière? De onde poderia vir tão súbita e enorme fortuna?

Haveria uma explicação banal? Ou envolveria alguma coisa mais excitante? Esta segunda possibilidade deixava entrever um aspecto fascinante do mistério, e nós não podíamos resistir ao impulso de brincar de detectives.

Começamos por considerar as explicações fornecidas por outros pesquisadores. Segundo vários deles, Saunière tinha encontrado, na realidade, alguma espécie de tesouro. Uma conclusão plausível, pois a história da cidade e de seus arredores incluía muitas possíveis fontes de ouro e de jóias escondidos». In Michael Baigent, Richard Leigh e Henry Lincolin, O Santo Graal e a Linhagem Sagrada, Editora Nova Fronteira, 2015, ISBN 978-852-090-474-9.

Cortesia de ENFronteira/JDACT

 JDACT, Michael Baigent, Richard Leigh, Henry Lincolin, Literatura, Religião, Conhecimento,

O Santo Graal e a Linhagem Sagrada. Michael Baigent, Richard Leigh e Henry Lincolin. «Seus paroquianos tampouco foram negligenciados. Saunière lhes presenteava com banquetes sumptuosos e outras generosidades, mantendo assim o estilo de vida de um potentado»

Cortesia de wikipedia e jdact

O Mistério. Rennes-le-Chateau e Berenger Saunière

«(…) Uma parte dessa inexplicada riqueza foi empregada em excelentes obras públicas, a construção de uma rodovia moderna até a cidade, por exemplo, e a introdução de facilidades para água corrente.

Outras despesas foram mais quixotescas. Uma torre foi levantada, a Torre Magdala, com vista para a montanha. Uma opulenta casa de campo foi construída, chamada Villa Bethania, que Saunière pessoalmente nunca ocupou. E a igreja não só foi decorada de novo, como o foi de um modo muito bizarro. No pórtico, acima da entrada, a seguinte inscrição foi gravada:

TERRIBILlS EST LOCUS ISTE. (Este local é terrível). No interior, logo na entrada, foi erigida uma estátua horrenda, uma representação do demónio Asmodeus, detentor de segredos, guardião de tesouros escondidos e, segundo antiga lenda judaica, construtor do Templo de Salomão. Nas paredes da igreja, placas ostensivamente pintadas representavam as estações da Via Sacra.

Cada uma delas era caracterizada por alguma estranha inconsistência, algum detalhe inexplicável, algum desvio, flagrante ou subtil, da narrativa oficial das Escrituras. Na estação VIII, por exemplo, havia uma criança envolta numa capa escocesa. Na estação XIV, que retrata o corpo de Jesus sendo levado à tumba, aparecia um fundo de céu nocturno, escuro, dominado por uma lua cheia. Como se Saunière estivesse tentando dizer algo. Mas o quê? Que o enterro de Jesus ocorreu após o início da noite, várias horas depois do que diz a Bíblia? Ou que o corpo estaria sendo levado para fora da tumba e não para dentro dela?

Enquanto realizava esses adornos curiosos, Saunière continuou a gastar de maneira extravagante, coleccionando porcelana rara, tecidos preciosos e mármores antigos, criando um jardim e um zoológico e reunindo uma biblioteca magnífica. Pouco antes de sua morte ele estava, supostamente, planeando a construção de uma torre como a de BabeI, forrada de livros, de onde pretendia pregar.

Seus paroquianos tampouco foram negligenciados. Saunière lhes presenteava com banquetes sumptuosos e outras generosidades, mantendo assim o estilo de vida de um potentado. No seu remoto e ao mesmo tempo próximo e inacessível ninho de águia, recebia inúmeros hóspedes ilustres. Um deles, é claro, era Emma Calvé.

Outro era o ministro da Cultura do governo francês. Talvez o mais augusto visitante do desconhecido padre provinciano tenha sido o arquiduque Johann Von Habsburgo, um primo de Franz Josef, imperador da Áustria. Extratos bancários revelaram depois que Saunière e o arquiduque haviam aberto contas no mesmo dia, e que este último havia transferido para a conta do primeiro uma soma substancial.

As autoridades eclesiásticas fizeram, no início, olhos de mercador sobre o assunto. Contudo, quando o superior de Saunière morreu, em Carcassonne, o novo bispo tentou chamar o padre à ordem. Saunière respondeu com uma desobediência inesperada e insolente. Recusou-se a explicar sua riqueza e a aceitar a transferência que o bispo ordenava. Na falta de uma acusação mais substancial, o bispo acusou-o de vender missas ilicitamente, e um tribunal local o suspendeu. Saunière apelou para o Vaticano, que o exonerou e depois o reinvestiu». In Michael Baigent, Richard Leigh e Henry Lincolin, O Santo Graal e a Linhagem Sagrada, Editora Nova Fronteira, 2015, ISBN 978-852-090-474-9.

Cortesia de ENFronteira/JDACT

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