domingo, 14 de março de 2010

Luís de Camões: Líricas, parte I

Luís Vaz de Camões (c.1524-10/6/1580), poeta português e considerado como o maior de língua portuguesa e dos maiores da Humanidade. O seu génio é comparável ao de Virgílio, Dante, Cervantes ou Shakespeare; das suas obras, a epopeia Os Lusíadas é a mais significativa. Desconhece-se a data e o local onde terá nascido Camões. Mas vamos considerar que nasceu em Coimbra e no ano de 1524. Na lírica camoniana coexistem a poética tradicional, herdada da poesia trovadoresca e do Cancioneiro Geral e o estilo renascentista, introduzido em Portugal por Sá de Miranda.

Relativamente à poesia da medida velha, poder-se-á referir que as formas predominantes são as redondilhas e as composições poéticas o vilancete e a cantiga. Ao nível do conteúdo, encontram-se temas tradicionais e populares: a menina que vai à fonte; o verde dos campos e dos olhos; o amor simples e natural, a saudade e o sofrimento; a dor e a mágoa; a exaltação da beleza de uma mulher de condição servil, de olhos pretos e tez morena; o amor platónico. Algumas das composições poéticas que sustentam as afirmações enunciadas são Descalça vai para a fonte, Se Helena apartar, Aquela cativa, entre outras.
No que diz respeito à poesia da medida nova ou corrente renascentista, poder-se-á aludir ao facto de a forma predominante ser o verso decassilábico e a composição poética, o soneto. Ao nível do conteúdo, encontram-se variados temas ligados não só ao amor e à mulher, como também à mudança e ao desconcerto do mundo. Considerando a temática do amor, dever-se-á sublinhar que esta surge quase sempre associada à da mulher; o amor segue um ideal platónico e petrarquista, é o amor sensível e espiritual, mas, por vezes, com a tortura do desejo (aqui Camões afasta-se de Petrarca); a mulher é ausente e surge divinizada e inacessível, dona de uma beleza estereotipada, de onde sobressaem os cabelos de ouro; o olhar indefinido, mas doce; o gesto suave; o sorriso honesto, doce e vago. É uma mulher que se pauta pela perfeição e pureza, cuja beleza se reflecte na natureza. Algumas das composições poéticas que patenteiam as temáticas enunciadas são Ondados fios de ouro reluzente e Um mover d’ olhos, brando e piedoso.
Por último, a poesia de Camões refere a mudança, sempre para pior, do mundo, evidenciando, desta forma, o desconcerto do mundo, com os valores morais a inverterem-se e a perderem-se, visível no soneto Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades.

Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Em suma, a poesia de Camões é riquíssima não só quanto às formas utilizadas, como também às temáticas abordadas. É uma poesia humanista, preocupada com os grandes problemas do ser humano, apresentando-se dentro dos princípios do classicismo renascentista.
pt.shvoong.com/JDACT

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