Cortesia A Cidade
Nº 1 (Nova Série)/Janeiro a Junho de 1988
Com a devida vénia para a revista A Cidade (Jan-Jun de 1988). Homenagem a José Fraústo Basso.
«Este artigo foi-nos confiado por Fernando Portugal, através do Dr. Brás de Oliveira, Director da Área de Espólios da Biblioteca Nacional, algumas semanas antes do falecimento do autor. A sua inserção nas páginas desta revista é, ao mesmo tempo, uma homenagem ao Dr. José Fraústo Basso, que foi um amigo e colaborador de A Cidade na sua 1." série.
José Augusto Fraústo Basso nasceu em Nisa a 22 de Agosto de 1901, e ali morreu a 7 de Setembro de 1987. Era filho de Júlìo da Graça Marques Basso e de Maria Augusta Fraústo Basso. Licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra, exerceu advocacia na sua terra natal onde foi também notário. Ocupou diversos cargos públicos de relevo, com destaque para o de Procurador à Câmara Corporativa (1934), Presidente da câmara Municipal de Nisa (de 1932 a 1942, e novamente a partir de 1948), e Presidente do Grémio da Lavoura da mesma vila. Grande amigo das misericórdias, foi, durante 50 anos, Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Nisa. Desempenhou ainda os cargos de Presidente da União Geral das Misericórdias Portuguesas e Vice-secretário da Confederação Internacional das Santas Casas da Misericórdia (Portugal e Brasil). Era Comendador da Ordem de Benemerência. Estudioso da história e da arqueologia local, trabalhou com José Leite de Vasconcelos, Rui de Azevedo, Manuel Heleno, D. Fernando de Almeida, Vera e George Leìsner, publicando alguns trabalhos sobre temática regional em diversos jornais e revistas como O Distrito de Portalegre e A Cidade». In A Revista
Ao ler o livro de Carlos Tomás Cebola «Nisa, A outra História», edições Colibri/CM de Nisa, (2005, Julho) fiquei desejoso de conhecer todo o trabalho realizado pelo Dr. Basso. Apoiado pelas conversas amenas de JCM de Alpalhão e MP (exerceu medicina em Nisa) aqui apresento a minha singela homenagem ao notável nisense. Em breve, falarei sobre o Prof. Carlos Cebola e a investigação que desenvolveu sobre a Outra História de Nisa, que considero muito relevante. Estamos a falar de cidadãos nascidos numa vila que é Mui Notável desde o tempo de D. João I.
Em trabalho que, sob o pseudónimo de Zé Nisorro, publicámos em Agosto de 1981, abordámos ligeiramente os problemas da fundação de Nisa e da doação da Herdade de Açafa, efectuada em 1198, segundo uns, ou em 1199 segundo outros, pelo nosso rei D. Sancho I, em favor dos Templários e em troca das igrejas de Mogadouro e de Pedras Rubras. E nesse mesmo trabalho manifestámos o desejo e o propósito de tratar, com maior e com o devido desenvolvimento, em futura oportunidade, o magno e polémico problema dos limites da referida doação da Açafa.
É isso que, volvidos mais de cinco anos, vamos agora tentar realizar, no propósito, porventura imodesto, de contribuir com o resultado do nosso estudo e das nossas investigações, para o esclarecimento e rectificação de um problema sobre o qual se têm debruçado eminentes mestres e historiadores. É que, na realidade, «não basta dizer uma coisa, nem que muitos a digam: é necessário ver os fundamentos com que escrevem», como disse Frei António Brandão na Crónica de D, Sancho I e de D. Afonso II.
Em boa verdade, vamos tentar remar contra a maré dos tempos e contra conclusões, historicamente consideradas incontroversas e irreversíveis, perfilhadas ou admitidas por gentes de muito saber. De resto, já no nosso anterior e aludido trabalho anunciámos, muito claramente, as conclusões que sobre a matéria perfilhamos e que, aliás, já são aceites por diversas entidades que, ultimamente, se têm debruçado sobre o mesmo problema. E para que, logo de início, fique bem expresso o nosso pensamento, repetiremos o que, naquele trabalho, dissemos; julgamos servir a verdade, sem deixar de admitir, evidentemente, que possamos estar errados e de, consequentemente, submeter à apreciação alheia a rectificação dos nossos pontos de vista.
Assim, em 1981., escrevemos:
«É que, segundo nos parece agora, em desacordo frontal com a hipótese que Alexandre Herculano admite e que a generalidade dos autores tem seguido, o tão falado castelo de Terrom (e não Ferron), em tais limites referido (alusão aos limites da doação da Açafa) não se situava nas cercanias da vila de Nisa, nem tampouco o mosteiro de Alpalante, a que na doação também se alude, se situava nas proximidades da actual povoação de Alpalhão, nem ainda Moha de Salor tem qualquer ligação com a ribeira de Nisa».
Não vamos aqui repetir tudo o que escrevemos em 1981,mas é certo que, para bem se compreender o assunto, convém relembrar alguns pontos essenciais já focados. E assim, recordamos o que o grande historiador Alexandre Herculano nos ensina: «Não é possível, apenas à luz dos documentos escritos, atribuir às modernas vilas do Alto Alentejo, uma origem anterior à fundação da Monarquia Portuguesa. No século XII eram contínuas, nessa região, as lutas entre cristãos e Sarracenos e eram constantes as incursões cristãs da Beira nas zonas situadas a sul do Tejo, como também o eram as penetrações dos mouros a norte desse rio. É, por isso, de concluir que, nesses tempos remotos, o Alto Alentejo se encontrava, em geral, despovoaclo e a ninguém, de facto pertencia o respectivo território».
Cortesia A Revista, 1988, nº 1 (Nova Série)/Carlos T. Cebola/José Fraústo Basso/JDACT