Não longe da confluência do ribeiroOcresa com o rio Tejo, situa-se na margem esquerda deste rio e a uns três quilómetros a vila da Amieira, assente em suave declive de modesta colina. Dominando-a, ergue-se um castelo de linhas sóbrias, no imponente geometrismo da sua traça, constituída por larga barbacã praticamente quadrada, dentro da qual se levanta a muralha do castelo, de configuração rectangular, reforçada nos ângulos por torres, uma das quais a de menagem, muito naturalmente mais ampla e mais altaneira do que as outras três.
Não pertence a remotas eras, pois a sua construção foi promovida nos meados do século XIV pelo Prior do Hospital, D. Afonso Gonçalves Pereira, que em 1336 assumira esse cargo de Chefe dos Hospitalários Portugueses, e em 1340 tomara parte na batalha do Salado, incorporando-se com a sua gente no corpo de tropas que D. Afonso IV levou em auxilio do seu genro, Afonso XI, contra os muçulmanos. Nesse castelo viveu por várias vezes o valoroso monge-cavaleiro, e aí estava em 1375, quando, já muito idoso, faleceu.
Anos depois, nos começos de 1384, sendo Prior do Hospital D. Pedro Alvares Pereira, filho e sucessor de D. Álvaro Gonçalves Pereira, reconheceu ele a autoridade legal de D. Beatriz, filha de D. Fernando, e, como tal, herdeira legitima do trono português. O castelo da Amieira, com outros da Ordem, ficou então em obediência à Rainha, situação modificada, porém, poucos meses depois, por influência do Condestável D. Nuno Alvares Pereira, irmão do Prior, e tendo este partido para Castela.
Desde esse momento enfileirou o castelo da Amieira no número dos que cedo apoiaram a revolução nacional que se movimentava sob a égide do Mestre de Avis, D. João. Mas nenhuma das vicissitudes da Guerra da Independência o atingiu, a não ser quanto ao estado de alarme em que a sua guarnição decerto por várias vezes se manteve.
Meio século depois, em 1440, ainda que por outros motivos, esteve o castelo da Amieira em «pé de guerra». Tinha-se suscitado discórdia entre a rainha D. Leonor, viúva de D. Duarte, e o infante D. Pedro, que a substituíra na Regência resultante da menoridade de D. Afonso V. Um dos partidários da Rainha era D. Nuno de Góis, Prior do Crato. Este atacou D. Pedro o castelo da Amieira e os demais a seu mando. Mas o Regente fez face à ameaça. A campanha foi curta. Tratava-se duma discórdia de política interna que talvez não interessasse muito os defensores, e assim o castelo da Amieira, como os outros, rendeu-se sem demora, tudo acabando com a retirada de D. Leonor para Espanha, em companhia do Prior D. Nuno de Góis e de outros seu partidários.
Desde então, durante séculos, mesmo quando ardências de guerra rondaram a região, nunca o castelo da Amieira foi directamente afectado. Afectaram-no, sim, a acção do tempo, o abandono, e também o terramoto de 1755. Após restauro, o castelo da Amieira sarou as feridas, reintegrando-se no património naciona. Um belo exemplar da velha arquitectura militar portuguesa, que, erguido na raia fronteiriça teve a gloriosa missão de acautelar Portugal.
Três quilómetros a nordeste da vila de Nisa, sobre o modesto morro onde assenta a capela de Nossa Senhora da Graça e se vêem alguns restos dum velho castelo, existe uma modesta povoação denominada Nisa-a-Velha, cujo passado remonta a tempos muito antigos, anteriores mesmo aos da conquista romana.
Tendo atravessado com certa importância, segundo se crê, os séculos de domínio romano, essa povoação sofreu depois, em circunstâncias igualmente mal conhecidas, as vicissitudes das invasões sueva, visigoda e árabe, bem como as da reconquista cristã, Mas nos primeiros tempos da existência de Portugal ganhou relevo demográfico, tendo mesmo recebido um foral, que, embora desconhecido, se sabe ser anterior a 1232, pois nesta data as suas disposições foram ampliadas a idêntico diploma que os Templários, aos quais pertencia o senhorio da região, outorgaram ao Crato.
Meio século depois, quando já a povoação entrara em progressivo desenvolvimento, vieram interrompe-lo os reflexos da discórdia entre D. Dinis e seu irmão Afonso Sanches. Apesar de imediato em nascimento, nunca este infante aceitara que D. Dinis o preterisse na sucessão da Coroa, alegando ser o primogénito dos filhos de D. Afonso III nascidos após a legitimação pontifícia do casamento deste monarca com a rainha D. Beatriz, facto que não ocorria com D. Dinis. Esquecia Afonso Sanches, que o pontífice, legitimando em 1263 aquele matrimónio, simultaneamente legitimara os filhos já então havidos: D. Branca, o falecido D. Fernando, e D. Dinis. Mas, sem embargo disso, logo que este subiu ao trono (1279), o infante persistiu na sua vontade. Corria o ano de 1280, quando Afonso Sanches empreendeu fortificar Vide, que era uma das terras de seu senhorio, opondo-se D. Dinis a que o fizesse. Na sua rebeldia, apelou o infante para o auxilio dos moradores de povoações próximas, entre os quais os de Nisa. Estes escusaram-se, respeitando a autoridade do Rei. Enfurecendo-se o infante, foi com gente de guerra contra a povoação, que invadiu, destroçando-lhe as defesas, incendiando as habitações e dando morte a muitos dos moradores. Impressionado, D. Dinis, pelo sacrifício daqueles seus fieis súbditos, resolveu, à vista daquelas ruínas fundar uma nova vila em local próximo, que lhe pareceu mais propício, transferindo para ela o nome e a categoria municipal, e instalando ali os moradores da antiga povoação, a qual, com o andar do tempo, veio a dar-se a denominação de Nisa-a-Velha, para distingui-la da nova Nisa.
A seguir à fundação recebeu a recente vila ordens determinantes de D. Dinis (c.1290) para a construção de muralhas defensivas, que só ficaram terminadas seis anos depois. Dirigiu a sua construção o chefe dos Templários portugueses, então D. Frei Lourenço Martins. Nos começos do século XVI ainda todas essas edificações defensivas existiam, pois as desenhou Duarte d´Armas no seu Livro das Fortalezas e se descreveram minuciosamente em 1505, num termo referente aos bens da comenda de Nisa, publicado pelo Dr. Laranjo Coelho, constituindo-as o castelo com sua alterosa torre de menagem, a longa muralha torreada e uma barbacã, além das casas de moradia e armazéns correspondentes ao governo e serviço dele. Em 1827, segundo se lê noutro inquérito, publicado pelo mesmo historiador, já começara a fazer-se sentir a acção do tempo e da incúria agravando os estragos praticados em 1704 pelas tropas franco-espanholas, que nele estacionaram durante alguns dias em Junho de 1704, no decurso da primeira campanha da Guerra da Sucessão. Subsequentemente o desrespeito que acompanhou as investidas do progresso urbano, fez desaparecer quase tudo o que ainda restava, pois só perduram uns escassos lanços de muralha, onde se abrem duas portas, a da Vila, flanqueada de fortes torreões, e a de Montalvão, junto de uma outra torre.
O castelo da Amieira e os escassos restos do castelo de Nisa relembram que apoiaram a revolução nacional que se movimentava sob a égide do Mestre de Avis, D. João. Relembram, que foram das primeiras terras que patrioticamente o apoiaram na defesa da independência nacional.
Com a devida vénia e cortesia a castelosdeportugalvillamaria/JDACT
Sem comentários:
Enviar um comentário