Cortesia da Revista Cultural de Portalegre
nº 15 (Nova Série) 2008
Com a devida vénia a João Vasconcelos Gonçalves, a Maria Silvestre Vicente e a Vitaline Cardoso Ferreira, publico a Conclusão do excelente trabalho «Paisagem medieval: Nisa, Alpalhão e Montalvão, nos finais da Idade Média», publicado na Revista a Cidade nº 15 (Nova Série) págs. 43-65, 2008. O meu obrigado!
«Cruzando a informação da gravura de Duarte D'Armas - retrato do momento da paisagem observada, imbuída da forma de ver do autor - com a do Tombo dos bens de uma entidade religiosa, a Ordem de Cristo - que nos dá uma imagem sincrónica, por ser este género de documentação elaborada num curto espaço de tempo, balizado entre um a dois anos -, conseguimos uma metodologia que mos permitiu aprender a paisagem urbana e rural das vilas de Nisa, Alpalhão e Montalvão, em finais da Idade Média.
Podemos, assim, caracterizar o espaço, como também inferir da mentalidade vigente, pela relevância dada aos diversos espaços religiosos, ao espaço político/defensivo do castelo, ao espaço social do aglomerado urbano, que se ordena a partir e em redor dos anteriores e ao longo das vias de acesso.
A evolução das modalidades contratuais, determinada pelos visitadores para uma mais rentável gestão de bens da Ordem, pode significar um período de pacificação em que o povoador perdeu parte da sua importância como tal, prevalecendo a sua função rentabilizadora da parcela de terra que lhe era aforada. O estado de decrepitude do castelo de Montalvão parece atestá-lo.
As vilas, com o seu casario agrupado de casas predominantemente térreas e seus agregados agrícolas, celeiros, palheiros e quintais, não diferem muito dos casos estudados em zonas similares, pela estrutura, pelas dimensões, pelos materiais e pelo uso e vivência dos espaços.
Também aqui, o castelo e a igreja servem de enquadramento ao núcleo yrbano e são factor importante, na vida da comunidade. O concelho tem, também ele, um lugar de destaque no ordenamento e organização da vivência do quotidiano.
As paisagens urbanas medievais acabam por odedecer, com algumas variantes, a um esquema que podemos reconhecer noutros pontos do território, demonstrando haver influências culturais comuns muito fortes. Além disso, há que considerar que as informações do passado que chegaram até nós passaram pelo crivo da pena do oficialato régio, que lhes conferiu uma uniformidade discursiva, só denunciada pela toponímia e antroponímia.
É partindo destes registos, pelas confrontações, pelas áreas, por alguma construção agrícola, pelos cursos de água, que vamos conseguindo visualizar e surpreender os homens, que, pelas suas fainas diárias, moldam os espaços.
Embora muito pouco permaneça hoje dos castelos e casas medievais, apesar de os dados que temos serem parcelares, podemos ainda passear por uma Rua Direita e sentir o ar e os cheiros, reconstituir os cantos e os segredos, reconhecer, no casario o perfil e as características desenhadas por Duarte D'Armas, bem como os materiais anotados no Tombo da Comenda. Assim, ainda hoje é possível uma aproximação que permite o encontro com essa época longínqua, mas sempre presente para o historiador».
Fortaleza de Alpalhão
Cortesia da Biblioteca de Nisa
Fortaleza de Montalvão
Cortesia da Biblioteca de Nisa
Fortaleza de Nisa
Cortesia da Biblioteca de Nisa
Fortaleza de Nisa, lado norte
Cortesia da Biblioteca de Nisa
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