Estátua de Viriato em Viseu
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Pouco se conhece sobre a vida de Viriato. Não se sabe a data nem o local exacto onde nasceu e a única referência à localização da sua tribo nativa foi feita pelo grego Diodoro da Sicília (~ 80 - 20 a. C., autor, historiador e filósofo grego da Sicília, do tempo de Júlio César e Augusto, escreveu História Universal) que afirma que ele era das tribos Lusitanas que habitavam do lado do oceano. Viriato pertencia à classe dos guerreiros, a ocupação da elíte, a minoria governante. Ele era conhecido entre os romanos como dux do exercito Lusitano, como adsertor, protector, da Hispania, ou como imperator provavelmente da confederação das tribos Lusitanas e Celtiberas.
Outros estudos indicam que Viriato seria um aristocrata proprietário de cabeças de gado, um estudo de Pastor Muñoz. Tito Lívio descreve-o como um pastor que se tornou caçador e depois soldado, dessa forma teria seguido o percurso da maioria dos jovens guerreiros, a iuventos, que se dedicavam a fazer incursões para capturar gado, à caça e à guerra. Na tradição romana os antepassados mais ilustres eram pastores, e Viriato é comparado àquele que teria sido o pastor mais ilustre que se tornou no rei de Roma, Rómulo. A ideologia do rei-pastor, o pastor que se tornou rei, está presente na tradição de várias culturas para além da grega e da romana. A metáfora do rei-pastor de Homero era frequentemente usada para dar ênfase às funções e deveres de um rei. Havia quem pensasse que Viriato tinha uma origem obscura no entanto Diodoro da Sicília também diz que Viriato «demonstrou ser um príncipe».
«Viriato, o lendário defensor das liberdades lusitanas, seria um aristocrata e não um simples guardador de rebanhos, segundo uma nova biografia, assinada por um historiador espanhol. Em declarações à Agência Lusa, o autor do livro, o professor Maurício Pastor Munoz, da Universidade de Granada, afirmou que Viriato "pertencia a um dos clãs aristocráticos dos lusitanos, e não era um simples guardador de rebanhos, antes proprietário de cabeças de gado". Por outro lado, Viriato destacou-se ao tornar-se no primeiro líder «capaz de unificar alguns clãs e definir um território, na Península Ibérica». Aos clãs lusitanos, juntaram-se outros grupos, mas Viriato conseguiu não só a unificação como ter reinado tranquilo, sem cisões internas durante oito a dez anos. O chefe lusitano causou preocupações a Roma pois «podia ser tomado como exemplo por outros povos sob o domínio das águias romanas, daí o nome de Viriato estar constantemente na boca dos senadores romanos». Viriato assumiu protagonismo entre 155-139 antes de Cristo durante as guerras lusitanas, sendo eleito seu líder em 147. No ano seguinte derrota os romanos em duas batalhas. Em 140 antes de Cristo, Viriato assina um tratado de paz com o Império Romano e é considerado «amigo do povo romano», sendo assassinado no ano seguinte. Pastor Muñoz apaixonara-se pela figura de Viriato desde os tempos de estudante em Mérida, que Roma tornara capital da Província da Lusitânia. Dedicou-lhe dois anos e meio de investigação para publicar esta biografia, decidindo «reanalisar as fontes clássicas» e «rever tudo o que se tem escrito sobre o herói lusitano ao longo dos séculos, incluindo a iconografia». Pastor Muñoz afirma que procura «abrir uma nova linha de investigação» e alertar para o facto «de que é necessário voltar a rever as fontes clássicas, para além de ler tudo o aquilo que se tem escrito». A forma como os artistas o têm retrato foi também objecto de estudo, assim como as fontes arqueológicas. «Viriato tem sido enredado ao longo dos séculos por vários mitos e lendas que são também essenciais de se estudar». Há um desfile de mitos e histórias, desde o século XVI, em torno de uma figura que é comum a Portugal e a Espanha. Pelo menos 60 localidades que afirmam ter sido o local de nascimento de Viriato ou onde a sua corte terá estado. Relativamente aos autores clássicos, entre eles, Estrabão, Cícero e Tito Lívio, não foram de todo isentos, reflectindo nele a sua visão do mundo. Os historiadores clássicos e os mais modernos «vestiram» Viriato com as roupagens das suas ideologias. Viriato é um herói comum a portugueses e espanhóis, a sua acção sentiu -se num território actualmente sob soberania dos dois países, logo tenho interesse em saber qual a reacção dos leitores e eruditos portugueses». In Ciencia Hoje, Maurício Pastor Muñoz.
Camões imortaliza Viriato nos Lusíadas, Canto VIII estrofe VI:
Este que vês, pastor já foi de gado
Viriato sabemos que se chama
Destro na lança mais que no cajado
Injuriada tem de Roma a fama,
Vencedor invencibil, afamado
Não tem co'ele, nem ter puderam
O primor que com Pirro já tiveram.
Os Lusíadas, VIII, 6
Fernando Pessoa também comenta Viriato:
Se a alma que sente e faz conhece
Só porque lembra o que esqueceu,
Vivemos, raça, porque houvesse
Memória em nós do instincto teu.
Nação porque reincarnaste,
Povo porque ressuscitou
Ou tu, ou o de que eras a haste-
Assim se Portugal formou.
Teu ser é como aquella fria
Luz que precede a madrugada,
E é já o ir a haver o dia
Na antemanhã, confuso nada.
«Se a alma... etc- a nação portuguesa representa, segundo Pessoa, a memória colectiva do instinto de identidade e independência personificado por Viriato. Povo porque ressuscitou (...) o de que eras a haste- somos um povo porque renasceu (após a presença romana, nórdica e islâmica) o espírito nacional de que Viriato foi a origem. Fernando Pessoa tem uma predilecção pelo uso, literal ou simbólico, do termo «antemanhã», isto é, o periodo antes do alvorecer quando começa a despontar uma luz muito ténue. Aqui o poeta compara Viriato à antemanhã da nacionalidade portuguesa». In Historia.
A morte de Viriato de José de Madrazo
Cortesia de wikipedia
Os Lusitanos homenageavam Viriato com os títulos de Benfeitor, (Grego: evergetes), e Salvador, (Grego: soter), os mesmos títulos honoríficos usados pelos reis da dinastia ptolemaica. Ele foi descrito como um homem que seguia os princípios da honestidade e trato justo e foi reconhecido por ser exacto e fiel à sua palavra nos tratados e alianças que fez. Diodoro disse que a opinião geral era de que ele tinha sido o mais amado de todos os líderes lusitanos. Viriato era, segundo a teoria avançada por Schulten, oriundo dos altos Montes Hermínios, actual Serra da Estrela, embora nenhum autor da antiguidade o tenha mencionado.
A obra literária mais importante que sobre Viriato se escreveu no século XX em Portugal foi publicada em 1984 e é seu autor João Aguiar. É a mais importante, não só pela fidelidade histórica aos documentos antigos, à arqueologia e aos estudos etnográficos da época em que se insere a acção, mas principalmente porque tem sido uma das mais lidas: em dez anos teve quinze edições. Tem por título A Voz dos Deuses e apresenta-se sob a forma de romance histórico.
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