(1739-1816)
Matto, Alverca
Cortesia Diocese de Faro
D. Francisco Gomes Avelar nasceu no lugar do Matto, Termo de Alverca, hoje Freguesia da Calhandriz corria o ano de 1739. Cedo demonstrou capacidades que o levariam a distinguir-se na sua vida. Aos 14 anos partiu para Lisboa e em 1757 iniciou os estudos nas aulas públicas dos Oratorianos, Congregação para a qual entrara e onde mais tarde assumiu funções de Professor na Casa das Necessidades, ensinando Sagrada Escritura, Retórica, Filosofia e Moral, e batendo-se pela renovação didáctica e pedagógica do ensino.
Em 1786 a convite do ex-Núncio Apostólico em Lisboa, o seu amigo e confessor, Cardeal Ramuzzi, parte para Roma onde permanecerá até ao regresso a Portugal 2 anos depois. Em Roma, travou conhecimento com os dois pintores portugueses Domingos António Sequeira e Francisco Vieira Portuense, dos quais obteve quadros com que depois ornamentou a sua residência episcopal em S. Brás. No Vaticano D. Francisco Gomes entrará em contacto com os meios intelectuais da Cúria Papal e tomará conhecimento dos novos cânones estéticos familiarizando-se com o trabalho desenvolvido pelos artistas da Academia Clementina.
Na Cidade Eterna encontram-se grandes intelectuais iluministas que procuram definir o modelo civilizacional europeu dando origem a uma nova consciência da História. Definem-se estilos e correntes artísticas, estuda-se a antiguidade clássica e os seus autores, arquitectos e teóricos como Serlio e Palladio, é neste ambiente intelectual que o futuro Bispo do Algarve irá desenvolver uma especial sensibilidade pela protecção e valorização do património histórico.
Regressado a Portugal em 1788 D. Francisco Gomes irá em breve colocar em prática as novas ideias que recolheu em Roma. Em 1788 foi escolhido pela Rainha D. Maria I para Bispo do Algarve, quando D. José Maria de Melo renunciou a essa mitra. Em 26 de Abril de 1789 é Sagrado Bispo do Algarve, Diocese que veio encontrar em situação de profunda ruína arquitectónica. É sabido que o Terramoto de 1755 causou sérios danos em algumas das principais igrejas do Algarve, nomeadamente a antiga Sé de Silves, a Igreja Matriz de Nossa Senhora do Castelo em Tavira ou a Matriz de Aljezur, templos que beneficiaram de uma reconstrução feita segundo projecto do arquitecto italiano Francisco Fabri que manteve os elementos pré existentes integrando-os num projecto renovado. Fabri, um jovem e brilhante arquitecto seria igualmente o autor do Seminário de São José e da nova porta de entrada da cidade, o Arco da Vila!
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De facto a D. Francisco Gomes se deve o Largo da Sé que hoje conhecemos pois foi neste período que se definiu como praça rodeada de edifícios eclesiásticos e com a Sé Catedral ao meio. Mas para além da preocupação pela recuperação dos antigos templos do Algarve, o Bispo promoveu também a compra de várias obras de arte, nomeadamente pinturas de alguns importantes pintores italianos assim como de portugueses que trabalhavam em Itália e portanto se encontravam já familiarizados com o novo gosto da época, o estilo neoclássico. Destacam-se «O Menino entre os Doutores» de Marcelo Leopardi, que foi executada para a Capela do Seminário e que se encontra no Museu Municipal a necessitar de restauro e os «Doutores da Igreja» conjunto de quatro telas da autoria do pintor português Vieira Portuense.
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A importância do Bispo D. Francisco Gomes do Avelar para a historia de Faro é inegável, a este ilustre prelado devemos a entrada da cidade num período de modernidade e renovação que permitiu ultrapassar a destruição causada pelo terramoto de 1755 e reafirmar de novo a Faro como Capital do Algarve, contudo o seu legado parece ter sido esquecido e o resultado está tristemente à vista neste nosso centro histórico cada vez mais degradado e alvo de indignidades que nem é necessário referir. In Jorge Carrega
O hospital da Misericórdia de Faro é obra sua, assim como outros hospitais do bispado. Nas Caldas de Monchique mandou construir novas acomodações. Fundou o museu lapidar do Infante D. Henrique e reformou o ensino, fazendo com que se lhe reunissem as escolas públicas de educação secundária que o Estado mantinha em Faro. Quando em 1807 os Franceses invadiram o Algarve, assim como todo o reino, conseguiu, com a sua grande prudência e tacto, evitar maiores calamidades, e quando no ano seguinte o grito da Independência se levantou em Olhão, D. Francisco Gomes de Avelar foi eleito Presidente da Junta que se instalou em Faro. Enquanto o Conde de Castro-Marim não assumiu a capitania geral e ainda quando recolheu à Corte, foi o Bispo D. Francisco que exerceu o governo supremo do Algarve.
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Cuidou das fortalezas do Guadiana, para acautelar e inutilizar qualquer tentativa dos Franceses que ocupavam a Andaluzia, tendo tomado disposições de toda a ordem para dar segurança à guarnição militar do Algarve. Quando as circunstâncias mudaram, procurou livrar-se dos encargos políticos e militares que tinha assumido e conseguiu assim que fosse nomeado um comandante de armas para o Algarve, que foi o inglês John Austin, conservando, porém, o prelado as atribuições de capitão-geral e o título de Governador até à data da sua morte.
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Chamam-lhe ainda hoje o Bispo Santo, e quando, em 1863, se abriu o subterrâneo sepulcral ou cripta da Sé de Faro onde se encontrava sepultado, para nele darem entrada os restos mortais do bispo D. Carlos Pereira, o povo entrou no local e apropriou-se. quase violentamente, de tudo quanto do seu cadáver ainda restava, passando a venerar essas recordações como autênticas relíquias. D. Francisco Gomes tem no Algarve várias ruas e praças com o seu nome.
Cortesia do Turismo do Algarve/Diocese do Algarve/Jorge Carrega/JDACT