quinta-feira, 8 de julho de 2010

Manuel Teixeira Gomes: Sétimo Presidente da Primeira República Portuguesa. «A política longe de me oferecer encantos ou compensações converteu-se para mim, talvez por exagerada sensibilidade minha, num sacrifício inglório. Dia a dia, vejo desfolhar, de uma imaginária jarra de cristal, as minhas ilusões políticas»

(1860-1941)
Vila Nova de Portimão
Cortesia de museudapresidencia
Manuel Teixeira Gomes foi o sétimo Presidente da Primeira República Portuguesa de 6 de Outubro de 1923 a 11 de Dezembro de 1925. Aos dez anos foi enviado para o Seminário Maior de Coimbra e posteriormente matriculou-se em Medicina, na Universidade de Coimbra. Cedo desistiu do curso, contrariando a vontade do pai. Muda-se então para Lisboa, onde pertence ao círculo intelectual de Fialho de Almeida e João de Deus. Mais tarde, conhecerá outros vultos importantes da cultura literária da época, como Marcelino Mesquita, Gomes Leal e António Nobre.
Cortesia de museudapresidencia
Graças à sensibilidade do pai, que decide continuar a apoiar financeiramente a vida boémia do filho, permite a Teixeira Gomes desenvolver uma forte tendência para as artes, nomeadamente na literatura, não deixando contudo de admirar a escultura e a pintura, tornando-se amigo de mestres como Columbano Bordalo Pinheiro ou Marques de Oliveira. Fixado no Porto, aí conheceu Sampaio Bruno, tendo sido nesse período que começou a colaborar em revistas e jornais, entre eles O Primeiro de Janeiro e Folha Nova.
Republicano, vai exercer após o 5 de Outubro de 1910, o cargo de ministro plenipotenciário de Portugal em Inglaterra. Em 11 de Outubro de 1911 apresenta as suas credenciais ao rei Jorge V do Reino Unido, em Londres, cidade onde então se encontrava a família real portuguesa no exílio.
Cortesia de museudapresidencia
Eleito Presidente da República a 6 de Agosto de 1923, viria a demitir-se das suas funções a 11 de Dezembro de 1925, num contexto de grande perturbação política e social. A sua vontade em dedicar-se exclusivamente à obra literária, foi a sua justificação oficial para a renúncia.
A 17 de Dezembro, embarca no paquete holandês «Zeus» rumo a Oran, na Argélia, num auto-exílio voluntário, sempre em oposição ao regime de Salazar, nunca regressando em vida a Portugal. Morre em 1941 e só em Outubro de 1950 os seus restos mortais voltaram a Portugal, numa cerimónia que veio a tornar-se provavelmente na mais controversa manifestação popular ocorrida na já então cidade de Portimão, nos tempos do Salazarismo, onde estiveram presentes as suas duas filhas, Ana Rosa Teixeira Gomes Calapez e Maria Manuela Teixeira Gomes Pearce de Azevedo.

Principais obras literárias
  • Cartas sem Moral Nenhuma (1904);
  • Agosto Azul (1904);
  • Sabina Freire (1905);
  • Desenhos e Anedotas de João de Deus (1907);
  • Gente Singular (1909);
  • Cartas a Columbano (1932);
  • Novelas Eróticas (1935);
  • Regressos (1935);
  • Miscelânea (1937);
  • Maria Adelaide (1938);
  • Carnaval Literário (1938).
«A política longe de me oferecer encantos ou compensações converteu-se para mim, talvez por exagerada sensibilidade minha, num sacrifício inglório. Dia a dia, vejo desfolhar, de uma imaginária jarra de cristal, as minhas ilusões políticas. Sinto uma necessidade, porventura fisiológica, de voltar às minhas preferências, às minhas cadeiras e aos meus livros».

Cortesia de museudapresidencia

Percurso político:
Democrata e republicano desde muito jovem, colaborou assiduamente no diário A Luta de Brito Camacho, de quem também era amigo pessoal. Após a implantação da República é convidado para exercer o cargo de ministro de Portugal em Londres. Em Abril de 1911, segue para a capital inglesa, apresentando credenciais ao rei Jorge V, em 11 de Outubro. Substituir o marquês de Soveral e enfrentar o facto de que a família real portuguesa residia em solo inglês, não constituíam, à partida, factores de bom augúrio para início de carreira, mas Teixeira Gomes, através de uma acção diplomática adequada, cedo soube grangear a simpatia, amizade e a confiança das autoridades britânicas. É de salientar a sua acção na problemática das negociações anglo-germânicas acerca da divisão das colónias portuguesas e a colaboração prestada aos governos de Portugal, acerca da entrada de Portugal na Grande Guerra, a ser solicitada pelo Estado inglês. Esta colaboração custou-lhe o ódio dos sectores não guerristas, tais como Brito Camacho, e a destituição do cargo durante o consulado de Sidónio Pais. Em 1919, depois da morte do caudilho, desempenha o cargo de ministro de Portugal em Madrid, mas a breve trecho é reempossado nas suas antigas funções em Londres. Em 1922, é nomeado delegado de Portugal junto da Sociedade das Nações, desempenhando as funções de um dos seus vice-presidentes. Em 6 de Agosto de 1923, é eleito Presidente da República, cargo de que toma posse em 5 de Outubro do mesmo ano. 
Manuel Teixeira Gomes foi eleito Presidente Da República na sessão do Congresso de 6 de Agosto de 1923, após um acto eleitoral muito renhido, em que o resultado final só foi conhecido ao fim do terceiro escrutínio.

Cortesia de carlossafotografia
Cortesia da Presidência da República Portuguesa/JDACT