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Descoberta a Imprensa, a arte do livro expandiu-se. O frade conventual que realizava um livro de horas num ano de trabalho, era substituido pelos tipógrafos e impressores que tiravam centenas, em alguns casos, milhares de exemplares, em papel de linho branco. É em pergaminho a primeira tiragem especial de que temos notícia na arte portuguesa de imprimir. O bibliófilo que a encomendou e pagou foi o rei D. Manuel em 1513. Antes digamos que toda a dinastia de Avis, desde D. João I e D. Duarte, a D. Afonso V e D. João II, no tempo do qual se encontra firmada a arte tipográfica em Portugal.
A indústria do papel encontramo-la em Portugal nos começos do século XV. Em 1411, Gonçalo Lourenço entra na posse de dois moinhos perto de Leiria. É escrivão da puridade de D. João I e, no Ribatejo, tinha moagens de pão. Pede ao rei para, nesses moinhos, fazer papel. No privilégio, o mesmo rei diz que «ele quer fazer, nos ditos assentamentos onde estiveram os ditos moinhos, artefícios e engenhos de fazer ferro, serrar madeira e pisar burel e fazer papel ou outras algumas coisas que se façam com artefício de água», citado por Artur Anselmo em «Origens da Imprensa em Portugal».
Valentim Fernandes, homem dos sete ofícios, tabelião e investigador, mas que exerceu sobretudo a arte de impressor, é encarregado por D. Manuel, pouco depois de 1510, de imprimir as «Ordenações». Divide o trabalho com João Pedro de Cremona, mas quando o livro II não estava concluído, o rei teria manifestado o desejo de possuir um exemplar em pergaminho de todos os livros da Ordenações, por isso ao contratar os serviços de João Pedro de Cremona, recomendou-lhe Fernandes que fizesse uma tiragem especial em pergaminho destinada a D. Manuel. Este exemplar em pergaminho diz Deslandes, encontra-se no Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Cortesia de in bibliomanias.
O Livro de Horas de D. Manuel é um dos mais importantes manuscritos iluminados produzidos em Portugal no século XVI.
Foi decorado em parte por António de Holanda, entre c. 1517 e c. 1538. Possui 303 folhas em pergaminho e 58 iluminuras de página inteira. Está preservado no Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa.
Livro de horas é um tipo de manuscrito iluminado comum à Idade Média. Cada livro de horas contém uma coleção de textos, orações e salmos, acompanhado de ilustrações apropriadas, para fazer referência a devoção cristã. Na sua forma original o livro de horas servia como conteúdo de leitura litúrgica para determinados horários do dia. Os livros de horas estão entre os manuscritos medievais mais belos e ricamente ilustrados.
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Iluminura ou miniatura é um tipo de pintura decorativa, frequentemente aplicado às letras capitulares no início dos capítulos dos códices de pergaminho medievais. O termo aplica-se igualmente ao conjunto de elementos decorativos e representações imagéticas executadas nos manuscritos, produzidos principalmente nos conventos e abadias da Idade Média. A sua elaboração era um ofício refinado e bastante importante no contexto da arte medieval.
No século XIII, «iluminura» referia-se sobretudo ao uso de douração e portanto, um manuscrito iluminado seria, no sentido estrito, aquele decorado com ouro ou prata.
O Livro de Horas de D. Manuel, executado na primeira metade do século XVI, é um dos mais interessantes manuscritos iluminados jamais realizados em Portugal.
Tal como se encontra referido no inicio desta explanação, foi encomendado pelo rei D. Manuel I. O trabalho começou em 1517 e a sua execução ter-se-á prolongado por duas décadas. Foi terminado durante o reinado de D. João III. Apesar de ser possível a identificação de três ou quatro autorias para as iluminuras contidas neste manuscrito, a mais significativa contribuição deve-se muito provavelmente a António de Holanda, um pintor de origem flamenga que se tinha instalado em Portugal, e fora responsável pelo relançamento técnico e artístico da oficina real. Aceita-se, desta forma, que o principal autor do livro terá sido o mesmo artista que realizou, alguns anos antes (aproxidamente em 1510), o Breviário de D. Leonor, mulher de D. Manuel.
Tal como se verificou ao nível da pintura, a iluminura, que tinha conhecido um significativo incremento em Portugal durante o século XV, atingiu um elevado nível de maturidade técnica e estética durante o reinado de D. Manuel, para o qual muito contribuiu a importação de grande número de obras de arte. Esta importação de pinturas ou de manuscritos, geralmente provenientes da Flandres (um dos centros europeus com quem Portugal mantinha as mais intensas relações comerciais e culturais), era acompanhada pela vinda de artistas que orientavam as oficinas nacionais, introduzindo ou solidificando o gosto flamengo. Entre estes contavam-se os pintores António de Holanda, Olivier de Gand e Cristovão de Utrecht.
A origem flamenga de António de Holanda, assim como a enorme influência artística de algumas cidades nórdicas, como Gant e Bruges, explicam o carácter nórdico de grande parte das pinturas do «Livro de Horas de D. Manuel». Esta obra é caracterizada por uma gramática que sintetiza a tradição gótica com as experiências modernas, mais naturalistas e realistas que constituem o renascimento setentrional, tornando muito dificil a separação formal entre estilo gótico, manuelino e renascentista.
Moedas do século XVI
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As páginas iluminadas podiam conter ilustrações associadas a texto manuscrito ou apresentar exclusivamente imagens. Estruturadas e organizadas por grelhas geométricas (em forma de cintas douradas) que definiam distintos campos pictóricos, as imagens organizavam-se em sucessão, através duma lógica narrativa associada às descrições contidas no texto.De entre as folhas mais interessantes deste livro contam-se as que descrevem o funeral de D. Manuel e que, através de cuidadas representações perspécticas e dum refinado modelado e cromatismo, apresentam um conjunto de paisagens urbanas de Lisboa, cujas estruturas arquitectónicas cruzam elementos manuelinos e renascentistas.
Para além do valor artístico, esta obra de arte assume um inegável interesse histórico-documental pela forma como retrata e descreve muitas situações da vida do tempo.
Concluído durante o reinado de D. João III, num período de plena ascensão da imprensa, esta obra representa simultaneamente o apogeu e epílogo do livro manuscrito iluminado em Portugal. In Infopédia. Porto: Porto Editora, 2003-2010, Livro de Horas de D. Manuel.
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Livro de Horas, dito de D. Manuel (Fólio 130 - Ofício dos mortos), atribuído a António de Holanda (1480-1557), Portugal, 1517-1538, Têmpera e ouro sobre pergaminho; A 14 x L 11 cm; Transferência do Palácio das Necessidades, Lisboa, 1915; MNAA inv. 14/129v Ilum.
Neste fólio assiste-se ao cerimonial fúnebre da quebra dos escudos que envolvia a nobreza e a alta burguesia, procurando transmitir ao povo, por uma via quase teatral, os sentimentos de pesar e luto pela morte do rei. Nesta cerimónia um juiz ia quebrando, com grande aparato, os escudos de diversas casas nobres através de um percurso ao longo da zona central de Lisboa. Esta rigorosa representação leva-nos até à Lisboa do ano de 1521 (ano da morte de D. Manuel) e mostra-nos uma zona típica da cidade mercantil da época dos Descobrimentos, a Rua Nova dos Mercadores. Local privilegiado para as transacções comerciais onde se instalavam os homens de negócios dos mais diversos países dando origem a um comércio florescente. Era também nesta artéria lisboeta que se situavam as oficinas de gravadores, ourives, joalheiros e douradores, bem como as casas de escambo, versão quinhentista dos actuais cambistas.
O Livro de Horas de D. Manuel, pelo facto de ilustar o seu Ofício dos mortos com cenas relacionadas com o enterro e serviços fúnebres deste rei, demonstra que foi, em parte, executado durante o reinado de D. João III seu filho e sucessor.
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