terça-feira, 28 de setembro de 2010

Centenário da República: A revolução foi proclamada por todo o povo antes ainda de decidida a última acção, ou se saber quem alcançaria a vitória. A adesão unânime à República foi verdadeiramente um plebiscito de espontaneidade e entusiasmo

Cortesia do centenáriodarepública

Com a devida vénia, publico algumas palavras.
http://www.centenariorepublica.pt/ 
http://mnsr.imc-ip.pt/

Diário da Revolução.

Cortesia de aorodardotempo
Testemunho de José Relvas, Lisboa, Rua da Esperança
03 OUT 1910, 20h 30min
Às 8,30 horas estavam no segundo andar da casa da Rua da Esperança, reunidos numa pequena sala, os chefes civis e militares. Só Afonso Costa se sentara numa poltrona, ao canto da casa, na sombra. Todos estavam de pé, projectando-se os primeiros círculos de luz mais intensa do candeeiro de suspensão em Cândido dos Reis e nos oficiais(…). O Directório, que estava representado por mim e Inocêncio Camacho, José Barbosa, Cupertino Ribeiro e Eusébio Leão, aguardava silencioso as palavras decisivas dos oficiais revolucionários(…).
Fonte: Machado Santos, A Revolução Portuguesa 1907-1910, (prefácio de Joel Serrão) Lisboa, Assírio e Alvim, Janeiro de 1982, p. VIII.

Cortesia de lugaronde
Testemunho de Raul Brandão
04 OUT 1910
Morte de Miguel Bombarda
Mataram o Dr. Bombarda. Espalha-se na cidade que foram os padres que instigaram um tenente a assassiná-lo. É falso, mas há correrias no Rossio e o “Portugal” foi apedrejado. Toda a gente acredita num crime planeado, toda a gente se insurge contra o facto brutal – toda a cidade republicana se transforma num vulcão. No Rossio juntam-se grupos de gente taciturna e desesperada: - Mataram-no! Mataram-no! – ouve-se. À uma hora da noite o Machado Santos à frente dum bando de populares atira-se ao portão de Infantaria 16.
Fonte: Machado Santos, A Revolução Portuguesa 1907-1910, (prefácio de Joel Serrão) Lisboa, Assírio e Alvim, Janeiro de 1982, p. XIII.

Testemunho de Raul Brandão
Lisboa, campo de batalha
04 OUT 1910, 22 h30 min
Às dez e meia da noite sei mais notícias: os navios bombardearam o Paço; as tropas fiéis à monarquia estão encurraladas no Rossio. “Toda a noite ouço o estampido do canhão, (…), para depois cair sobre a cidade um silêncio mortal, um silêncio pior. Que se passa? Distingo o assobio das granadas, e de quando em quando um despedaçar de beiral que cai à rua. E isto dura até à madrugada. De manhã as tropas do Rossio rendem-se e os marinheiros desembarcam na Alfândega.
Fonte: Machado Santos, A Revolução Portuguesa 1907-1910, (prefácio de Joel Serrão) Lisboa, Assírio e Alvim, Janeiro de 1982, pp. XIV- XV.

Cortesia de filsergiosimoes
Testemunho de Machado Santos
Rotunda
04 OUT 1910, noite
Os populares que estavam desarmados foram-se entretendo na construção de teóricas barricadas. Tudo servia, guaritas, madeiramento de obras, fios telegráficos, troncos de arvores, chapas de zinco, etc..
(…) granadas das baterias de Queluz começam a chover na Rotunda (…) o acampamento responde ao fogo do inimigo e o Quartel de Artilharia 1, com duas peças, defendia-se galhardamente; ao mesmo tempo uma viva fuzilaria envolvia por completo a Rotunda.
Fonte: Machado Santos, A Revolução Portuguesa 1907-1910, (prefácio de Joel Serrão) Lisboa, Assírio e Alvim, Janeiro de 1982, pp. 78- 79.

Cortesia de exlibris-exlibris
Testemunho do Marquês do Lavradio

04 OUT 1910, tarde
Expectativa
Durante toda essa longa noite, o Ministério deixa o Rei isolado e sem conhecimento do que se está passando. Só pelas 2 horas da tarde do dia 4, o Governo se lembra do Rei para lhe dizer que vá para Mafra. Todos pensámos que em Mafra estava organizada uma defesa, por isso que, quando nos encontrávamos no Buçaco e houvera o projecto de um movimento, fora para ali que o Teixeira de Sousa mandara seguir El Rei, o que não teve lugar por o movimento ter sido abafado. Afinal, em Mafra, nada estava organizado, e o comandante da Escola Prática declarava que não tinha gente nem meios suficientes para defender Sua Majestade.
Já a República fora proclamada em Lisboa, quando El-Rei recebeu em Mafra, para assinar, o decreto de suspensão de garantias!
Fonte: Memórias do Sexto Marquês do Lavradio, Lisboa, Edições Ática, 1947, pp.153-154.

Testemunho de Paiva Couceiro
Ao nosso sempre Pai e comandante do grupo a cavalo podemos nós felizmente dizer que o seu Grupo cumpriu honradamente o dever até ao fim.
Fonte: Memórias do Sexto Marquês do Lavradio, Lisboa, Edições Ática, 1947, pp.153-154.

Testemunho do Marquês do Lavradio
Exílio
Cheguei a Gibraltar no dia 11 e encontrei a Família Real num grande estado de abatimento, mas com enorme coragem e dignidade.
Fonte: Memórias do Sexto Marquês do Lavradio, Lisboa, Edições Ática, 1947, p.160.

Cortesia de embaixada-portugal-brasil
Testemunho de Aquilino Ribeiro
Lembro-me que foi o Matin, na madrugada de 4, o único jornal que anunciou a revolução em Lisboa. Um milagre da informação que fez pasmar as outras gazetas. Com o Serpa Pimentel, que me levou a casa a grande nova, abalei para a Cité Bergère, v. sabe, uma rua do Torna Atrás à mão direita de quem sobe dos boulevards a Rue du Faubourg de Montmartre. Era na hospedaria que tomara o nome da impasse, que estava instalado o nosso estado-maior.
Fonte: Aquilino Ribeiro, Um escritor confessa-se, Lisboa, Bertrand Editora, 2008, pp.322-323.

Testemunho de José Relvas
Proclamação da República
Às 9 horas da manhã de 5 de Outubro era proclamada a República Portuguesa pelos revolucionários que do Rossio se tinham dirigido para a Câmara Municipal, a casa que fora conquistada pelos republicanos nos últimos anos da Monarquia. Ali se encontraram os representantes do Directório: Inocêncio Camacho, Eusébio Leão, José Barbosa, Malva do Vale e José Relvas(…).
A Praça do Município regorgitava, cheia pela multidão que ali acorrera logo depois de pacificada pela confraternização do Rossio. Foram proclamados os membros do Governo Provisório: Presidente, Teófilo Braga; Interior, António José de Almeida; Justiça, Afonso Costa; Finanças, Basílio Teles; Guerra, Correia Barreto; Marinha, Amaro de Azevedo Gomes; Obras Públicas, António Luís Gomes e Estrangeiros, Bernardino Machado. (…).
Fonte: José Relvas, Memórias Políticas, Lisboa, Terra Livre, 1977, p.151.

Cortesia de histgeoalfandega
Testemunho de António José de Almeida
Batalhou-se durante três dias, mas batalhou-se honrosamente e aqueles que pegaram nas espingardas saíram dessa luta com as mãos tão puras de sangue que, voltando a seus lares podiam tomar ao colo as crianças que encontravam no berço.
Fonte: Discursos do Dr. António José de Almeida (Presidente de Portugal) durante a sua estada no Rio de Janeiro, de 17 a 27 de Setembro de 1922, por ocasião das festas comemorativas do 1.º centenário da Independência do Brasil, Rio de Janeiro, Jacinto Ribeiro dos Santos, 1922, p.36.

Testemunho de Aquilino Ribeiro
"O 5 de Outubro em Paris", 4 OUT 1925
“No dia 5 confirmou-se o nosso palpite: a revolução, que se aguentasse mais trinta horas, teria fatalmente de vencer. (…) Nunca o nome de Portugal, como naquele dia, foi tão soprado nos boulevards. Nas parangonas, nas conversações, nas vozes supreendidas ao passar, o estribilho era Portugal e sempre Portugal. Recapitulava-se a sua história, citavam-se as suas belezas naturais, com a mais calorosa simpatia e aprazimento pela revolução. O reconhecimento da República pôde demorar, mas desde a primeira hora o grande público francês esteve com ela de alma e coração.”
Fonte: “O 5 de Outubro em Paris”. Carta de Aquilino Ribeiro publicada pelo jornal O Popular, em 4 de Outubro de 1925. Publicado em RIBEIRO, Aquilino, Um escritor confessa-se, Bertrand Editora, Lisboa, 2008, pp.324-325.

Cortesia do centenáriodarepública

Cortesia das Comissão Nacional  para as Comemorações do Centenário da República/JDACT