sexta-feira, 26 de novembro de 2010

A Bela Poesia: «Como passar o tempo?... E diverti-me desta maneira trágica e segura: Dantes, a descansar de luta insana, fui, talvez, flor no poético balcão...»

Cortesia de oblogdochuck

Libertação
Menino doido, elhei em roda, e vi-me
Fechado e só na grande sala escura.
(Abrir a porta, além de ser um crime,
Era impossível para a minha altura)

Como passar o tempo?... E diverti-me
Desta maneira trágica e segura:
Pegando em mim, rasguei-me, abri, parti-me,
Desfiz trapos, arames, serradura...

Ah! meu menino histérico e precoce!
Tu, sim! Que tens mãos trágicas de posse,
E tens a inquietação da Descoberta!

O menino, por fim, tombou cansado;
O seu boneco aí jaz esfarelado...
E eu acho, nem sei como, a porta aberta!
José Régio

Cortesia de muraldosescritores

A Janela de Garcia de Resende
Janela antiga sobre a rua plana...
Ilumina-a o luar com o seu clarão...
Dantes, a descansar de luta insana,
Fui, talvez, flor no poético balcão...

Dantes, da minha glória altiva e ufana,
Talvez... Quem sabe?... Tonto de ilusão,
Meu rude coração de alentejana
Me palpitasse  ao luar nesse balcão...

Mística dona, em outras Primaveras,
Em refulgentes horas de outras eras,
Vi passar o cortejo ao sol doirado...

Bandeiras! Pajens! O pendão real!
E na tua mão, vermelha, triunfal,
Minha divisa: um coração chagado!...
Florbela Espanca

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