sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Jaime Batalha Reis: Figura eminente da Geração de 70. O companheiro mais próximo de Antero de Quental nos tempos do Cenáculo da Travessa do Guarda-Mor em Lisboa. Acompanhou todo o percurso dos Vencidos da Vida com quem intensamente se relacionou. Agrónomo, diplomata, crítico e geógrafo, reuniu um vastíssimo arquivo literário

(1847-1935)
Lisboa
Cortesia de purl
«Jaime Batalha Reis nasceu  numa família de pai liberal. Matriculou-se no Instituto Geral de Agricultura onde se formou em agronomia.
Uma noite, prestes a acabar o curso, tomou conhecimento com Eça de Queiroz na Gazeta de Portugal, um encontro que se converteu em amizade para a vida inteira. Esta relação ampliou-lhe o círculo de amigos, juventude intelectual e boémia, o núcleo que ficou conhecido como «Geração de 70». Mas foi principalmente o encontro com Antero de Quental, por volta de 1868, que lhe veio permitir colmatar algumas fragilidades culturais e desenvolver os conhecimentos filosóficos.

Cortesia de museudochiadoipmuseus
O brilho da carreira estudantil deram-lhe a esperança de ser convidado para a carreira docente. Mas isso não iria acontecer, talvez pelas opiniões expressas numa dissertação em que defendera as teorias de Darwin. Especializou-se no estudo da nova moléstia da vinha, a filoxera, e começou a colaborar em revistas e jornais. Esta actividade, porém, não o afastava das suas preocupações literárias e artísticas. Foi em 1869 que Eça, Antero e Batalha Reis inventaram, num delírio criativo, «o poeta satânico» Carlos Fradique Mendes e das poesias publicadas uma, «Velhinha», era da autoria de Jaime Batalha Reis.

Cortesia de purl
Encontrou o amor da sua vida. Chamava-se Celeste Cinatti e para conseguir a estabilidade económica resolveu concorrer à carreira consular. Apesar das esperanças que alimentara, não conseguiu provimento, pois ficou em terceiro lugar. Voltou por isso a intensificar a sua actividade profissional.

Propriedade de Jaime Batalha Reis nos arredores de Torres Vedras
Cortesia de memoriasimagens

Antero e Batalha Reis, tornados inseparáveis, passaram a conviver com Eça de Queirós, José Fontana, Augusto Fuschini, Manuel de Arriaga, Oliveira Martins, Augusto Machado, Guerra Junqueiro, organizando o programa das «Conferências Democráticas do Casino Lisbonense» ou  «Conferências do Casino». Depois das intervenções de Antero, Augusto Soromenho, Eça de Queirós e Adolfo Coelho, a continuação das palestras foi proibida por uma portaria assinada pelo Marquês de Ávila e Bolama. Esta interrupção não permitiu que Jaime Batalha Reis fizesse a sua prelecção que versava sobre o «Socialismo». A atitude do governo, seria reforçada pela publicação de dois folhetos dirigidos a Ávila e Bolama, um de Antero de Quental e outro de Jaime Batalha Reis, que começando por afirmar
  • «Eu sou socialista» terminava dizendo, o que V. Exª fez obriga-me a descrer ou da sua ilustração ou da sua probidade. Eu descri da ilustração. Todos os actos da vida de V.Exª me autorizavam a fazê-lo.

Leque de namoro entre Jaime Batalha Reis e Celeste Cinatti, 
Leque de pau de buxo escrito a lápis de ambos os lados
Cortesia de purl

Os anos de 1874 e 1875 serão preenchidos pela elaboração de um projecto também muito caro a Antero de Quental e Oliveira Martins, a publicação de uma revista que reunisse a colaboração de intelectuais portugueses e espanhóis. Depois de muitos contratempos, que Batalha Reis ultrapassou com a habitual tenacidade, o 1º número da Revista Ocidental saiu em Fevereiro 1875, e foi nas suas colunas que Eça de Queirós publicou a 1ª versão de «O Crime do Padre Amaro». Além de Eça, nela colaboraram Batalha Reis, Antero, Oliveira Martins, Adolfo Coelho, Sousa Martins, Maria Amália Vaz de Carvalho, intelectuais e políticos espanhóis como Pi y Margall, Fernandez de los Rios, Rafael de Labra, Canovas del Castillo. Porém, as dificuldades de coordenar a colaboração, e a falta de financiamento, situação crónica neste tipo de publicações, derrotou o projecto, que não ultrapassou o mês de Julho.

«A povoação reduzia-se então a poucas casas espalhadas sobre as arribas, como se sabe muito pito­rescas, altas e de estratos viva­mente coloridos, donde, para no­roeste, se avista Peniche, ao lar­go a Berlenga.»
 (Jaime Batalha Reis, Gazeta de Torres, 5/5/1929)
Cortesia de lugaronde

A par da actividade profissional, nunca descurou o interesse pela cultura portuguesa colaborando em jornais e revistas com crónicas sobre ópera, pintura e literatura. Nesse âmbito participou na comissão executiva do Centenário de Camões e foi delegado da Sociedade de Geografia nas comemorações de Calderón de la Barca.


Em 1882, quando já era professor catedrático de Microscopia e Nosologia Vegetal no Instituto Geral de Agricultura, viu-se finalmente provido na carreira consular, recebendo a nomeação para 1º cônsul em Newcastle, onde estivera Eça de Queirós que, entretanto, passara para a cidade de Bristol.
Jaime Batalha Reis, abandonou a docência e a agronomia, mantendo-se na carreira diplomática perto de 30 anos, até se aposentar em 1921.

Cortesia de vedrografias2

A actividade como cônsul em Inglaterra centrou-se na defesa dos nossos interesses em África, estudando a fundo, para o bom desempenho dessa função, história e geografia. O reconhecimento, a nível oficial, do domínio dessa problemática valeu-lhe a nomeação, como perito, para a Conferência Anti-Esclavagista, que se realizou em Berlim de 1889 a 1891. No âmago desta actividade recebe a notícia do suicídio de Antero de Quental. O texto que escreveu para o In Memoriam do seu amigo:
  • «Anos de Lisboa: algumas lembranças», será uma peça fundamental para a biografia do poeta e um importante testemunho sobre a geração a que pertenceu, enviado de Newcastle quatro dias antes da morte do seu outro amigo Oliveira Martins.

Supomos que foi principalmente graças a este texto e ao que veio a escrever sobre Eça, prefaciando as Prosas Bárbaras, que o nome de Jaime Batalha Reis voltou a ser reconhecido como um dos activos elementos desta Geração.
Depois da Implantação da República, Bernardino Machado chamou-o a Lisboa para participar na remodelação do ministério. É enviado como ministro plenipotenciário a S. Petersburgo, desempenha comissões em Paris e Londres. No final do ano de 1913 é enviado de novo à Rússia como representante de Portugal, sendo apanhado no vórtice da Revolução de 1917 e envolvido nos acontecimentos diplomáticos que então ocorreram. Só em 1818 conseguiu sair por Murmansk.
Aposentou-se em 1821, retirando-se  para Turcifal, afim de se dedicar à sua «filosofia», que no dizer do amigo Viana da Mota se chamaria Explicação do Universo. Seria a filha Beatriz quem, após a sua morte, em 1935, organizou pacientemente o Espólio, oferecendo-o depois à Biblioteca Nacional». In Maria José Marinho, Centro Virtual Camões, Instituto Camões.

Morre aos 88 anos de idade.

Cortesia de purl

Cortesia de Maria José Marinho/Centro Virtual Camões, Instituto Camões/Infopédia/wikipédia/JDACT