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Para Feliciano Falcão, pela mão de Zélia e Sá de Miranda
Ela acendia o lume ou cozinhava
contava as viagens que faziam
pintava nas paredes desenhava
de madrugada enquanto outros dormiam
ele lia e relia e deslumbrava
com aquela humildade comovente
de quem sabia e nunca duvidava
que a beleza entrevista é para sempre
os dois à vez citavam Vidas Secas
que dois tão meio a meio inseparáveis
dividiam os corpos e as cabeças
por causas nunca vãs nunca mudáveis
hoje que o sol é grande e o amor também
enquanto o tempo é mágoa estamos vivos
sem cura e desarmados como quem
a grilheta da morte fez cativos
J. M. Martinho
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