Cortesia de deltarascunhos
Com a devida vénia a Ágora 2002, Portugália, Nova Série, Vol. XXIV, 2003.
O nome de Viriato
«No corpus epigráfico peninsular, o nome Viriato e congéneres, como Viranus, Vironus, Vironicus e Virotus, encontra-se atestado numa série de inscrições latinas, escritas sob o domínio romano, mas reportando-se a indivíduos de onomástica indígena, obviamente pré-romana.
Segundo os dados actuais, conta-se 41 referências antroponímicas e 4 designações gentílicas, concentradas na área reconhecida como indo-europeia.
Cortesia de wikipedia
A variante mais corrente é Viriatus-i, um tema em –o- da segunda declinação, que aparece testemunhado em 9 casos, 6 em nominativo e 3 em genitivo. A outra variante só foi conhecida em 1887, pela forma do genitivo Viriatis que foi explicado por Hubner como peregrine formatus, sendo hoje testemunhado por 5 inscrições com formas em nominativo e genitivo da terceira declinação.
Estes dados talvez ajudem a compreender a decomposição do indo-europeu visível, em ambiente de mescla de povos no Ocidente peninsular, na ulterior corrupção da declinação latina nessa zona, podendo pensar-se que a orientação desta mudança morfológica estaria determinada pela língua do substrato, isto é, pela língua que continuava, com maior ou menor vitalidade, a ser falada pelas populações.
Cortesia de agora2002
Dados arqueológicos, sobretudo relacionados com as primitivas formas de incineração, de que os funerais de Viriato representam talvez a expressão de maior visibilidade, mas já reconhecidas na região entre 1250 e o ano 1000 a. C., convergem para o entendimento deste conjunto de inovações como características de elementos indo-europeus protoceltas, de preferência a outros esquemas interpretativos.
Viriatus seria aquele que usava viriae (nome celtibérico, viriolae, em celta, segundo Plínio, XXXIII, 40); nome comum que, depois, se tornou próprio. Esta interpretação, já defendida por Leite de Vasconcelos em vários passos da sua obra, e que é hoje corrente, foi recentemente retomada por Vilatela, invocando a importância do braço armado como um conceito fundamental na ideologia de muitos povos antigos.
Cortesia de porviseu
As inscrições gravadas em estátuas transmitem uma onomástica indígena circunscrita, no âmbito da celtização, ao conjunto linguístico lusitano-galaico. Vincula conceitos e instituições típicas dos castrejos segundo um esquema tradicional de nomes relacionados com as comunidades de linhagem, que podem ajudar a compreender o significado de Viriato.
Um guerreiro, de S. Julião de Caldeias, Braga, chamava-se Malceinus, nome céltico de provável função patronímica, que quer dizer «filho da montanha», e a etimologia do nome de seu pai Dovilo pode relacionar-se com a ideia de «força», ambos quadrando bem com a geografia e a história dos povos pré-romanos.
Cava de Viriato
Cortesia de geocaching
Outra inscrição, atribuída à estátua do guerreiro do Castro de Rubiás, na Galiza, pertenceria a um Ladronus, com significado específico de guerrilheiro, tal como latro, não deixando de ser curioso verificar que o nome de seu pai Verotus = Virotus se aproxima o nome de Viriatus que, deste modo, poderá alcançar contextos mais esclarecidos. Fica-se com a impressão de que o «nome» e o «renome» estão aqui ligados, como acontece na generalidade das comunidades dominadas por uma certa hierarquia. Conceito que forma expressão de função e sobretudo de virtude típica, como coragem, força e celebridade, de uma sociedade guerreira». In Portugália, Nova Série, Vol. XXIV, 2003, O nome de Viriato, Armando Coelho Silva, Comunicação apresentada em Ágora 2002, El debate peninsular Viriato, Mérida, Junta da Extremadura, Novembro 2002.
Continua.
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