Cortesia de edicoescolobri/cmportalegre
Dr. Feliciano Falcão. Um Homem de Cultura
«Conheci-o nos meus tempos do liceu.
Meu pai, Adelino Santos, nutria por ele uma profunda amizade e uma ilimitada admiração, que depressa me contagiou.
Como fruto dessa arnizade, que era recíproca, foi o Dr. Feliciano Falcão quem «levou» meu pai para a Tertúlia do Central, onde, depois do jantar, em torno de José Régio, confraternizavam personalidades de reconhecido valor, no campo da cultura, como Arsénio da Ressurreição, Firmino Crespo, Renato Torres, João Tavares, Ventura Reis, entre muitos outros e por onde passaram David Mourão Ferreira, Eugénio Lisboa, Ruy Serrão, quando aqui prestaram serviço militar e José Maria Rodrigues da Silva que aqui foi subdelegado do INTP.
Meu pai considerava o Dr. Feliciano Falcão a pessoa mais culta de Portalegre e dizia mesmo que, em Portugal, deveriam existir muito poucas personalidades com uma bagagem cultural tão vasta, abrangendo os ramos mais diversificados, que abordava com fluência de linguagem, capacidade de expressão, exprimindo sempre profundos conhecimentos.
Lembro-me de meu pai referir que as discussões com José Régio eram, por vezes, bem acaloradas, pois as suas tendências políticas eram muito diferenciadas e que em Literatura (portuguesa e estrangeira), Arte (especialmente Pintura), Cinema e Filosofia batiam-se de igual para igual, mas que em Música o Dr. Feliciano Falcão tinha conhecimentos superiores, mais parecendo, por vezes, um erudito crítico musical.
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Ocorre-me até, uma vez, ter meu pai referido a minha mãe, que era professora de piano, os nomes de compositores, de intérpretes e de títulos de obras de música clássica mencionados pelo Dr. Feliciano Falcão nas conversas de café, demonstrando conhecê-los profundamente, o que deixava minha mãe estupefacta com tais conhecimentos musicais!
É curioso que homens de cultura que conheceram José Régio em Portalegre e que tiveram contactos com o Dr. Feliciano Falcão, por vezes até bem breves, a ele se referem com admiração. Foi o caso, por exemplo, do escritor Eugénio Lisboa, que menciona tal facto em escritos seus e do escritor Vergílio Ferreira, que, em conversas no restaurante onde ambos almoçávamos quase diariamente, me disse que conhecera «de passagem» o Dr. Feliciano Falcão e que este lhe causara uma profunda impressão.
Pessoalmente, porém, tocou-me especialmente o apoio, o interesse e o incentivo que sempre proporcionou a todos os que fundámos o AMICITIA, Grupo Cultural de Portalegre, no já distante ano de 1957. Posso mesmo afirmar que, fora do nosso âmbito (nessa altura éramos todos jovens!), foi sempre a pessoa que mais nos apoiou, mas sem nunca interferir nas nossas ideias, sem nunca nos procurar influenciar ou orientar nas nossas iniciativas e nas nossas realizações, que, porém, sempre acompanhou de muito perto e com a maior atenção.
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Entusiasmava-se com as nossas realizações, em especial com a 1ª (e a única?!) Grande Exposição de Arte Moderna de Portalegre e ria-se gostosamente de alguns dos nossos lemas, como deixem-nos errar por nós próprios ou a modéstia foi abolida no Amicitia, pois, dizia, eles exprimiam o espírito que verdadeiramente devia nortear a juventude!
Acima de tudo, guardo do Dr. Feliciano Falcão a imagem do homem austero, bom e solidário, preocupado com a Sociedade e com o Mundo e de uma probidade intelectual muita acima do normal, do médico analista competentíssimo e afâvel, dotado de um trato pessoal excepcional, que cativava os amigos e todos os que com ele tiveram a felicidade de privar». In Augusto de Azeredo Costa Santos, Feliciano Falcão Memória Viva, coordenação de António Ventura.
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