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Breve historial sobre as cheias no Tejo.
«Perdem-se nos alvores dos tempos as inundações do rio Tejo. A partir do neolítico, com a sedentarização do Homem e a «descoberta» da agricultura, verificamos que os locais onde a presença humana mais se acentua são precisamente junto do Tejo ou dos seus afluentes, por serem os locais que possuem os terrenos mais férteis. Esta fertilidade ocorre sempre após as cheias.
No período romano, a ocupação agrícola é também feita junto do Tejo. Abundam várias estações arqueológicas, que denotam o uso agrícola dos locais em questão.
Ao longo dos tempos sempre houve cheias, infelizmente os registos não abundam, para que possamos compreender e analisar estas intempéries e os seus efeitos nas povoações ribeirinhas.
Jorge Custódio refere que em meados do séc. XVIII, o memorial de Santa Iria (Ribeira de Santarém), datado de 1644, como um local que, para além da função devocional, possui uma outra função que é medir as cheias e que em Benavente se comprou um farol que era utilizado em tempos de cheias «conhecer as cheias para as controlar e poder usá-las ao serviço da agricultura parece ser um desiderato essencial nos tempos antigos».
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O memorial de Santa Iria garantia uma função suplementar: a medição das cheias. A vara era utilizada com frequência para medir a altura das cheias no porto de Tancos no séc. XVIII. Anunciar a cheia, quando começava e quando acabava deveria ser uma das funções dos municípios em articulação com os responsáveis das Lezírias e Pauis. Em Benavente comprou-se um farol para o tempo de cheia, invernada e tempestade de escuro, no qual se deveria manter acesso em luz de azeite durante a época, para se saber e comunicar.
Em meados do séc. XIX, existem referências das medidas de protecção das povoações ribeirinhas afectadas pelas cheias, que para o efeito construíam diques, canais e fossas de drenagem, de modo a regularizar o leito do rio Tejo. Eram trabalhos feitos pelos valadores que consistiam na abertura e consertos de valas de contenção das terras para manter a prática agrícola.
As condições de trabalho dos valadores eram penosas. com o auxílio de uma pá curta e estreita, retiravam a lama das valas abertas até ao cimo do valado, onde enchiam cestas de madeira ou de verga, transportando-as para locais que necessitassem desta terra.
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É a partir do séc. XIX que começam a surgir com maior frequência os relatos/documentos sobre as cheias do Tejo e as catástrofes a elas associadas.
Em 1876, decorreu aquela que é conhecida como a maior cheia no Tejo de que há memória. Na escala hidrométrica de Vila Velha de Ródão, a cheia de 1876 registou 25,40 m e atingiu 10 000 m3 de água em Tancos. Inúmeras povoações ficaram isoladas, os campos alagados durante semanas, sendo incalculáveis as mortes e prejuízos em várias regiões.
No séc. XX, as maiores cheias do Tejo ocorreram em 1936, 1940, 1941,1942 1969,1970, 1978 e, a 11 e 12 de Fevereiro de 1979, aconteceu a maior cheia do séc. XX.
Existem algumas descrições das cheias e dos prejuízos que causaram no Ribatejo. A cheia de 1936 provocou «uma invasão tumultuosa das águas na Lezíria Grande, onde toda a terra foi alagada. Na estrada do Cabo - Porto Alto a água chegou a atingir 1 m de altura».
No que respeita à cheia de 1941 «foi o ano do Ciclone, o vendaval de 15 Fevereiro transformou a Lezíria em leitos do Tejo e Sorraia com o cortejo de estragos que foi o maior de que há memória desde a fundação da Companhia das Lezírias».
Em 1979, a água no caudal do Tejo tomou proporções nunca vistas, inundou os campos e isolou povoações durante semanas». In As Cheias em Salvaterra de Magos, CM de Salvaterra de Magos, Março de 2010.
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