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«Um vasto matagal entresachado», assim definiu o historiador Costa Lobo, o Portugal do século XV. Era um exagero, baseado numa frase isolada do seu contexto, da Crónica de D. Duarte, de Rui de Pina. Mas tinha o seu fundo de verdade. Florestas e brenhas cobriam grande parte do País, convertendo-se em óptimo refúgio de feras e de animais bravios. Aqui e além vislumbrava-se um montículo de casas, centro periférico de alguns campos arroteados que lhe sustentavam a população.
É verdade que o Minho, a Estremadura ou certas zonas litorais nortenhas e algarvias escapavam um pouco a esse panorama desolador. Aí existia dispersão de povoamento, aldeias ainda mais pequenas mas casais espalhados pelos vales, pelas faldas das montanhas e pelas raras planícies.
A população era escassa:
- um milhão de habitantes ou pouco mais, distribuindo-se irregularmente de norte a sul, atingindo máximos e mínimos de densidade onde ainda hoje os atinge, não excedendo na média os onze habitantes por quilómetro quadrado. Houve, é certo, subidas e descidas ao longo dos três séculos do Portugal medieval.
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O milhão de base pode ter sido suplantado entre os meados do século XIII e os meados do século XIV, quando a paz e a prosperidade do Reino se sucederam aos tempos árduos da Reconquista; mas baixou também desde a Peste Negra de 1348, ou mesmo antes, para só se recompor uma centúria mais tarde.
De norte a sul, o panorama da aglomeração populacional apresentava-se de maneira muito diferente. Até à linha do Tejo, com excepção de Braga, de Guimarães, do Porto, de Coimbra e da Guarda, não existiam praticamente cidades, e as próprias vilas eram pequenas e mal cuidadas. Os grandes núcleos de habitantes encontravam-se no sul, herdeiro das tradições romana e islâmica:
- Leiria, Santarém, Tomar, Torres Vedras, Lisboa, Almada, Setúbal, Estremoz, Elvas, Olivença, Évora, Beja, Mértola. Lisboa, onde a corte e a administração pública se foram gradualmente fixando, avultou também entre as demais cidades.
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Tão importante como Guimarães, Coimbra ou Santarém no século XII, Lisboa destacava-se já claramente cem anos depois, para alcançar três vezes mais habitantes do que qualquer outra desde os finais do século XIV. A expressão de que «Portugal é Lisboa» encontramo-la já esboçada por essa altura. E isto apesar da preferência concedida por muitos monarcas a várias cidades, vilas e aldeias, onde chegavam a passar mais tempo do que na capital.
Entre as diversas regiões do país as comunicações eram escassas e assentavam quase exclusivamente nas condições do solo. Se este era plano, com facilidade de traçar veredas de terra batida, atalhos ou estradas, se havia rios navegáveis ou linha de costa pouco distante, os, transportes faziam-se com relativa regularidade e rapidez. pelo contrário, florestas e matagais, serranias, rios acidentados isolavam quase por completo certas áreas do Reino, como certas aldeias e distritos, obrigando-as a viver vida aparte.
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Mas a facilidade de comunicações não era bastante para diluir os propósitos localistas e o espírito de bairro que animava todos, os, municípios durante a Idade Média, ajudando a travar o surto de uma consciência nacional, que só a unidade de língua e a necessidade de defesa contra o Castelhano puderam ao fim cimentar.
Portugal vivia principalmente da agricultura: cereais, vinho, azeite onde se dava, constituíam a trilogia do lavrador português. Exportava-se quase somente vinho, às vezes algum azeite, muito raramente trigo, porque nem um nem o outro chegavam em regra para alimentar a população. Nas zonas litorais, a pesca e o sal desempenhavam lugar de relevo, tanto na nutrição comum como na prática do comércio. O sal enriquecia cópia de mercadores lisboetas, setubalenses e aveirenses que o exportavam com bons lucros para os países nórdicos». In A Sociedade Medieval Portuguesa, Aspectos de Vida Quotidiana, A. H. Oliveira Marques, Esfera dos Livros, 6ª edição 2010, ISBN 978-989-626-241-9.
Cortesia de Esfera dos Livros/JDACT