Cortesia de memoriarecenteeantiga
Paradoxos Biográficos
Referências introdutórias
«Francisco Lopes Vieira de Almeida nasceu a 9 de Agosto de 1888, em Castelo Branco, vindo a falecer em Cascais a 20 de Janeiro de 1962. Realizou os seus estudos superiores na Faculdade de Letras de Lisboa, onde se licenciou, em 1910, com uma tese intitulada História (Significado e Função). Após adquirir alguma experiência como professor liceal, ingressou, em 1915, na categoria de assistente do grupo de História da instituição onde se formara, transitando para a Secção de Filosofia, em 1922, na sequência de concurso, para o qual apresentou uma dissertação com o sugestivo título de A Impensabilidade da Negativa, trabalho cuja complexidade, sobrepondo-se, claramente, à diminuta extensão, segundo o cânone académico vigente, reflectia a pujança de um pensamento peculiar no panorama iniversitária nacional.
Não seria, ainda, a sua obra-prima, lugar que caberia a Pontos de Referência, publicada, na versão definitiva, em 1961, mas estabelecia, já, um roteiro filosófico e modo próprio de percorrê-lo, que a tornam indispensável para a compreensão do percurso do filósofo português. Talvez que, aliás, para quem pretendesse apenas uma breve, mas representativa, aproximação ao pensamento de Vieira da Silva, bastasse a consideração, a par destas duas obras, daquela que intitulou, em 1943, Introdução à Filosofia. Desde 1988 que a sua Obra Filosófica está reunida em 3 volumes, numa edição crítica de Joel Serrão e Rogério Fernandes. Esta compilação é precedida de 2 amplas leituras propostas pelos editores que oferecem importante contributo para a análise de um conjunto constituído por 52 textos de teor variado, sobre Gnosiologia e Epistemologia, Lógica e Filosofia da Linguagem, Conhecimento Histórico e Sociológico, Psicologia, Filosofia da Arte, ao qual ninguém negou a extrema dificuldade.
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Em 1930, obtinha a cátedra, tendo exercido, igualmente, as funções de director da Secção de Filosofia, de 1936 a 1940. Leccionou uma quantidade surpreendente de diciplinas, das quatro Histórias da Filosofia à Filosofia em Portugal, da Teoria do Conhecimento à Psicologia Geral, da Moral à Pedagogia e Didáctica, sem que, como defendeu Francisco da Gama Caeiro, fosse legítimo «considerá-lo um burocrata do ensino, que ele nunca foi, nem quis ser». Uma visão panorâmica da obra filosófica ressaltará, outrossim, uma nítida implicação dos caminhos aparentemente erráticos do magistério, porquanto nela se encontram registos de reflexões sobre as diferentes áreas disciplinares.
Esta amplidão teve, decerto, o seu papel na reputação intelectual que alcançou, ao lado da mestria de conferencista. Todavia, cabe ponderar se a marca cultural mais duradoura não terá sido a de, enquanto catedrático de Lógica, ter introduzido os estudos de lógica formal em Portugal.
Ora, com um historial de uma tal envergadura, apostado, como assumidamente esteve, em afinar a filosofia em Portugal por um vector de modernidade, o pensamento de Vieira de Almeida mereceria, decerto, constituir objecto de uma série de estudos aprofundados. Todavia, toda a bibliografia secundária se reduz a uma entrada de enciclopédia, a um volume da Revista da Faculdade de Letras, que recolhe as intervenções do colóquio comemorativo do centenário do seu nascimento, de que apenas 9 textos, dos 18, tratam do autor, se bem que todos eles se revelem indispensáveis, e uma dissertação de mestrado sobre o pensamento estético, para lá das menções circunstanciais.
Cortesia de wikipedia
Terá «o persistente equívoco», nas palavras de Sottomayor Cardia, de que houvesse cultivado um positivismo lógico, dificultado a recepção da sua filosofia, ou dever-se-á ao prodomínio das perspectivas ontológicas que criticara o esquecimento em que caiu, ou será a radicalidade metodológica da polémica por si cultivada, sem a promessa de uma solução sistemática, que acaba por motivar o aparente desinteresse?
Este ensaio está, assim, animado pela expectativa de poder contribuir para a divulgação de um pensamento filosófico peculiar que, por entre a variedade de temas e de problemas, se vai determinando segundo uma fórmula unificadora que a própria prática do filosofar permite progressivamente identificar 7». In Luís Manuel Bernardo, O Essencial sobre Vieira de Almeida, Imprensa Nacional Casa da Moeda 2008, ISBN 978-972-27-1688-8.