Cortesia de esquilo
Como chegámos aqui?
«Durante a preparação da obra, percorremos amiúde o país ao encontro dos lugares onde os cavaleiros do Templo exerceram o seu domínio. Constatámos que muitos desses locais ainda hoje favorecem a paz espiritual e manifestam uma «energia do lugar» desde há muito ausente das grandes metrópoles, embora no caso português ainda existam certos «lugares e microclimas espirituais» dentro ou próximo das grandes cidades. Mas esses espaços tão caros aos Templários são, na maior parte das vezes, locais ricos em história pré-nacional, isto é, os Cavaleiros do Graal, que tanto contribuíram para a fundação do reino de Portugal no século XII, estabeleceram uma ligação com a corrente de vida humana que percorreu as terras da «Lusitânia» nos últimos milhares de anos. Continuámos a percorrer o território nacional, desta vez também por locais sem vestígios dos Templários, e demo-nos conta da existência de um Portugal telúrico, carregado de vida, alheio à poluição física e mental bem característica da civilização moderna. Mas o mais surpreendente é o facto de grande parte da população deste «Portugal Profundo», ainda viver, de forma atávica, numa certa harmonia com o espírito destes lugares e enquadrada numa cosmovisão religiosa do mundo, absolutamente natural para ela.
Cortesia de esquilo
Esta ligação com os lugares é mantida através de tradições, cultos e lendas, permanecendo ainda vivos imensos vestígios de uma integração «arcaica» do homem no cosmos, o que constitui um tesouro inestimável num mundo em fase acelerada de dessacralização, diríamos mesmo de bestialização da vida humana. Todavia, o homem é um ser religioso por natureza (mesmo os sistemas chamados ateus têm os seus ídolos e as suas mitologias) pelo que, actualmente, e como reacção natural, emergem violentamente as chamadas patologias do sagrado sob a forma de superstições religiosas, alimentadas por líderes «muito pouco religiosos», e por grupos espiritualistas que seduzem o homem-exterior em lugar de proporcionarem a emergência da alma interior, o que é naturalmente doloroso para os hábitos entrópicos da personalidade.
Cortesia de novaacropole
Com clarividência e alguma ironia, Carl Gustav Jung afirmou, em 1944: «Na realidade, não hesitamos em fazer as coisas mais absurdas a fim de escaparmos à nossa própria alma. Pratica-se o ioga indiano de qualquer escola, seguem-se regimes alimentares, aprende-se de cor a teosofia, rezam-se mecanicamente os textos místicos da literatura universal - tudo isto porque já não se consegue conviver consigo próprio e porque falta fé em que algo de útil possa brotar de nossa própria alma.
Pouco a pouco, esta última tornou-se aquela Nazaré da qual nada de bom se pode esperar. Vai-se portanto procurá-la nos quatro cantos da Terra: quanto mais distante e exótico, melhor». O eminente psicólogo colocou bem o dedo na ferida: o homem do terceiro milénio tem de restabelecer o diálogo com o seu inconsciente, tem de trazer à consciência o seu mundo mítico a fim de se auto-realizar, ou seja, deve levar a bom termo o seu processo de individuação, abrindo-se à sua interioridade e dimensão espiritual. Por isso, André Malraux afirmou: «o século XXI será espiritual ou não será!». In Paulo Alexandre Loução, Portugal, Terra de Mistérios, Abril de 2001, Editora Ésquilo 6ª edição, 2005, ISBN 972-8605-04-8.
Cortesia de Ésquilo/JDACT