Cortesia de wikipedia
Como chegámos aqui?
«Em nosso entender, o povo português é fortemente religioso e portador de uma alma arcaica. Este último conceito merece ser aprofundado, pretendendo este capítulo introdutório confrontar, sob diversos ângulos, a cosmovisão do homem arcaico e a visão do mundo do homem racionalista «moderno». Esta confrontação afigura-se-nos imprescindível para sentirmos melhor a nossa essência e para nos compreendermos melhor a nós próprios; e também para tomarmos consciência da riqueza espiritual, natural, humana e patrimonial que o mundo português arcaico encerra, objectivo deste ensaio. Como é óbvio, este tipo de riqueza, não é exclusivo de Portugal, mas a nós compete-nos, «des-cobrir» os arquétipos nacionais, o que facilitará o reconhecimento - pela via «interna», espiritual, dos arquétipos e mitos de outras culturas, o que, considerando as idiossincrasias do português, proporcionará naturalmente verdadeiros encontros de culturas.
Cortesia de esquilo
O termo arcaico, na acepção que lhe damos, é um vocábulo mais simbólico do que racional. É necessário senti-lo, encontrando primeiramente dentro de nós a presença do homem arcaico. Este vive dentro de um círculo que é o cosmos, estando o caos fora dele. Isto explica a necessidade que sentem aqueles que vão viver para a cidade de voltarem ciclicamente à aldeia ou lugar «mítico» da origem, estando essa necessidade relacionada com a saudade. Esse círculo é composto tanto pela Natureza visível como pela Natureza invisível, as quais se interpenetram numa totalidade. O homem arcaico sente muito especialmente a Terra, que é a «mater» e, através dos seus cultos às inúmeras formas da Deusa-Mãe, que foram cristianizadas através das não menos diversas «Nossas Senhoras», recebe dela os seus favores e protecção. Ao ligarem-se com os seres que incorporam a sua mitologia (na actualidade: heróis, santos, santas, Nossas Senhoras, Cristo, Deus...), os objectos e lugares vinculados a uma teofania são «pontes» privilegiadas de comunicação, surgindo assim as pedras sagradas, as árvores divinizadas, os locais sagrados, todos eles cultuados e respeitados com zelo, por vezes durante muitos séculos.
Cortesia de esquilo
O psicólogo Jung (1875-1961) exerceu a sua profissão durante décadas, conhecendo milhares de pacientes. Além disso, viajou por diversas zonas do planeta com o objectivo de conhecer homens de diferentes culturas e desenvolveu, com base na sua ampla experiência, uma extensa obra que merece a atenção dos investigadores e amantes das ciências humanas. Freud deu um grande passo científico ao mostrar que a natureza psíquica do homem é muito mais complexa do que se pensava, trazendo à tona a dinâmica entre a consciência e o inconsciente, a líbido e os recalcamentos, e outros novos elementos. Apesar disso, não conseguiu escapar a uma psicologia redutora ao privilegiar o factor sexual como determinante na auto-realização humana. Adler, por sua vez, privilegiou o prestígio social, o que é interessante se pensarmos que Freud e Adler revelaram a cara e a coroa das grandes motivações do homem-exterior, da «persona», que significa «máscara» em latim, termo que , por sua vez, tem origem no étimo grego «prosopon», a máscara utilizada na tragédia grega. O homem-externo, o ego-inferior ou o Eu-animal, quando não disciplinado pelo homem-interior, é o carcereiro da alma e foge da experiência religiosa interna, verdadeira como o «Diabo foge da cruz», sendo o intelecto mecânico o seu grande aliado. Na sua interioridade vazia procura a satisfação sexual, na sua vida externa busca o prestígio-dinheiro-poder». In Paulo Alexandre Loução, Portugal, Terra de Mistérios, Abril de 2001, Editora Ésquilo 6ª edição, 2005, ISBN 972-8605-04-8.
Cortesia de Ésquilo/JDACT