Cortesia de meioambiente
Com tantas espécies a mudar de lugar, é inevitável que as alterações humanas ao ambiente acabem por bloquear o seu caminho.
«A chegada precoce da actividade primaveril é uma pista essencial para as alterações climáticas. No mundo das aves, o «Common murre», ave marinha do Hemisfério Norte, vulgarmente denominada "Airo", começou a pôr os seus ovos em média 24 dias mais cedo por década, ao longo do período de estudo da sua nidificação. Na Europa, numerosas espécies de plantas têm estado a germinar e a florescer 1,4 a 3,1 dias mais cedo por década, enquanto parentes suas na América do Norte têm estado a fazê-lo 1,2 a 2 dias mais cedo. As borboletas europeias estão a surgir 2,8 a 3,2 dias mais cedo por década, enquanto as aves migratórias chegam à Europa 1,3 a 4,4 dias mais cedo por década.
Do mesmo modo que algumas espécies mudam rapidamente em resposta às alterações climáticas, outras ficam para trás. Um alimento essenciul para um predador pode chegar tarde demais ou poderá deslocar-se demasiado para Norte, o que impede que esse predador possa usá-lo.
As lagartas da traça, próprias do Inverno europeu, comem apenas folhas de carvalho tenras. Mas carvalhos e traças guiam-se por sinais diferentes que os avisam da chegada da Primavera. Um clima agora mais quente faz com que os ovos da traça comecem a romper mas as traças guiam-se pelos dias curtos e frios de Inverno para saírem dos ovos.
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A Primavera é mais quente agora do que era há 25 anos, mas a quantidade de diuas frios de Inverno não se alterou. Como resultado, as traças de Inverno agora saem dos ovos até três semanas antes das primeiras folhas de carvalho nascerem. Como as lagartas só sobrevivem dois ou três dias sem alimento, o seu número é agora muito menor. As que conseguem sobreviver crescem geralmente mais depressa porque a competição por alimento é maior, o que significa que as aves têm menos tempo para as encontrar.
De acordo com o que foi exposto, parece provável que o processo de selecção natural acabe por resultar numa alteração do período de incubaçao da traça, mas não sem antes ocorrerem mortes em massa de lagartas precocemente saídas do ovo e, no mínimo durante algumas décadas, esta será sem dúvida uma espécie rara.
E as aves, aranhas e insectos que se alimentam das traças, sobreviverão? Se não conseguirem sobreviver, isso será mais um exemplo de como em toda a parte as alterações climáticas do planeta estão a fazer colapsar a rede delicada da vida.Ao longo das últimas décadas, as salamandras em fase de reprodução têm entrado nos charcos europeus mais cedo do que o habitual, mas o mesmo não acontece com as rãs. Isto significa que os girinos das salamandras já estão bem adultos quando os das rãs saem dos seus ovos, possibilitando às salamandras alimentarem-se de grandes quantidades de girinos de rã, o que está a ter impacto sobre o número de rãs. Alguns répteis estão nitidamente mais ameaçados de forma directa pelo aquecimento global, porque o sexo das crias é determinado pela temperatura a que os ovos são incubados. Para a tartaruga pintada norte-americana, temperaturas mais elevadas provocarão um menor índice de nascimento de machos. Se as temperaturas de Inverno subirem ligeiramente acima dos níveis actuais, isso poderá gerar uma população só de fêmeas.
Cortesia de tudolevaapericia
Um impacto muito diferente das alterações climáticas foi recentemente detectado no Lago Tanganica, em África, uma das mais antigas e profundas massas de água fresca do mundo. Localizado mesmo a sul do Equador, acolhe uma enorme variedade de espécies únicas. À semelhança da maioria dos lagos, é composto por diferentes camadas de ágUa, sendo a camada superior a mais quente. Isto pode evitar a mistura das camadas superiores ricas em oxigénio com as inferiores, ricas em nutrientes. As plantas nas camadas que apanham luz solar podem morrer por falta de nutrientes, e as que ficam nas camadas mais profundas podem morrer por falta de oxigénio. No passado, esta sobreposição de camadas era interrompida sazonalmente pelas monções de Sueste que agitavam as águas do lago e estimulavam a variedade espectacular de vida nele contida.
Desde os meados da década de 1970, contudo, a alteração do clima aqueceu as suas camadas superficiais de tal maneira, que as monções já não são suficientemente fortes para misturar as águas. Inevitavelmente, o plâncton, do qual depende a maior parte da vida existente no lago, diminuiu agora para menos de um terço da sua abundância de há 25 anos.
O espectacular caracol «Tiphoboia horei», existente apenas neste lago, perdeu dois terços do seu «habitat»;actualmente vive apenas a 100 metros ou menos de profundidade, sendo que há 25 anos aventurava-se três vezes mais fundo. Estas mudanças, avisam os cientistas, ameaçam colapsar todo o ecossistema do lago. Em todo o mundo as superftcies dos lagos estão a aquecer, impedindo as suas águas de se misturarem e ameaçando a base da sua produtividade». In Tim Flannery, O Clima está nas Nossas Mãos, História do Aquecimento Global, Oficina do Livro-Estrela Polar, 2008, ISBN 978-972-8920-93-0.
Cortesia de Oficina do Livro/JDACT