sábado, 16 de julho de 2011

A Bela Poesia. Luís de Camões. Sonetos. Primeiro período (1540-1547): Ciclo Idílico. «Quem diz que Amor é falso ou enganoso, ligeiro, ingrato, vão, desconhecido, sem falta lhe terá bem merecido que lhe seja cruel ou rigoroso»

Cortesia de casadecamoes

Quando da bela vista
«Quando da bela vista e doce riso
tomando estão meus olhos mantimento,
tão enlevado sinto o pensamento
que me faz ver naTerra o Paraíso.

Tanto do bem humano estou diviso
que qualquer outro bem julgo por vento;
assim que, em caso tal, segundo sento,
assaz de pouco faz quem perde o siso.

Em vos louvar, Senhora, não me fundo,
porque, quem vossas cousas claro sente,
sentirá que não pode merecê-las.

Que de tanta estranheza sois ao mundo
que não é de estranhar, Dama excelente,
que quem vos fez fizesse céu e estrelas».


Quem diz que Amor é falso
Quem diz que Amor é falso ou enganoso,
ligeiro, ingrato, vão, desconhecido,
sem falta lhe terá bem merecido
que lhe seja cruel ou rigoroso.

Amor é brando, é doce e é piedoso.
Quem o contrário diz não seja crido;
seja por cego e apaixonado tido,
e aos homens, e inda os deuses, odioso.

Se males faz Amor, em mim se vêm;
em mim mostrando todo o seu rigor,
ao mundo quis mostrar quanto podia.

Mas todas suas iras são de Amor;
todos estes seus males são um bem,
que eu por todo outro bem não trocaria.
Luís de Camões, in «Sonetos».

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