Évora
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Retrato de Reino de Portugal.
«O reino de Portugal é uma pequena parte da província da Espanha, situada na ponta extrema do mar oceano, a que antigamente chamavam Lusitânia. Confina ao levante com os reinos de Castela, ao poente com o Oceano, ao norte com a Galiza, e ao meio-dia em parte com o Oceano e em parte com a Andaluzia. Tem o seu rei próprio, o qual não somente é senhor do Reino, mas também tem muitas ilhas, cidades, castelos e fortalezas na Mauritânia Tingitana, na Etiópia, na Arábia, na Pérsia e nas Índias, tanto orientais como ocidentais.
Porém, tratando primeiro das coisas do Reino, diremos que se divide em seis províncias, a que chamam comarcas, Alentejo, Estremadura, Entre-Douro-e-Minho, Trás-os-Montes, a Beira e o Algarve, embora este último se designe também com o nome de reino. Em seu torno e de circunferência tem 285 léguas, 135 de costa marítima e 150 de terra. A sua figura é longa e estreita, contendo em si dezasseis cidades e muitas vilas grandes, além de muitos outros castelos que, na totalidade, passam do número de 470.
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Destas cidades, três são com dignidade arquiepiscopal, Lisboa, Évora e Braga, esta última não somente tem o espiritual mas é também sede do temporal, e nove são com bispados, Miranda, o Porto, Coimbra, Lamego, a Guarda, Elvas, Portalegre, Leiria e Viseu (no século XVI tinham sido criados os bispados de Miranda do Douro 1545, Leiria 1545, Portalegre 1549 e Elvas 1570). Restam cinco cidades sem bispado as quais são Bragança, Tavira, Lagos. Faro e Silves, as quatro últimas no reino do Algarve, do qual tira o nome um outro bispado com todas elas juntas (a transferência da sé episcopal, de Silves para Faro, fora decretada pelo papa em 1539, mas só efectivada em 1577).
Passam pelo Reino muitos rios, dois deles famosíssimos, que são o Tejo e o Douro: aquele passa junta às muralhas de Lisboa e desemboca no mar duas léguas longe dela; este faz o mesmo à cidade do Porto e entra no mar a meia légua dali. São estes dois Portos muito seguros e muito amplos, ainda que muito mais o de Lisboa, no qual se navega com toda a sorte de embarcações, por grandes que sejam, até mais de cinco léguas para o interior, e com outros barcos pequenos até pouco menos de 24 léguas.
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Os outros rios não são tão grandes, mas não deixam de levar grande quantidade de água e, na maior parte, são navegáveis, muito ou pouco. Além destes dois grandes portos, há o de Setúbal, muito grande e com capacidade para qualquer número de embarcações e, no Algarve, outros três, Tavira, Lagos e Vila Nova de Portimão, sem falar de outros mais pequenos e de algumas praias agradáveis das quais não deixam de servir-se os navegantes.
Pode dizer-se que o Reino, no seu conjunto, está situado na mais bela parte do mundo, não por beleza que tenha em si, mas por se encontrar no meio de muito grandes reinos, tanto para as antigas como para as modernas navegações». In Portugal Quinhentista, Ensaios, A. H. Oliveira Marques, Quetzal Editores, Referências, Lisboa, 1987.
NOTAS:
De facto, a representação geográfica incorrecta da época fazia confinar Portugal, a sul, parcialmente com a Andaluzia. Veja-se, por exemplo, o mapa de Fernando Álvares Seco, de 1561, publicado com comentários por Alves Ferreira, Custódio de Morais, Joaquim da Silveira e Amorim Girão, O Mais Antigo Mapa de Portugal, (1561), sep, do Boletim do Centro de Estudos Geográficos, Universidade de Coimbra, Faculdade de Letras, 1957.
O perímetro de hoje é de 2046,75 km (832 km de costa marítima e 1214,75 km de fronteira). A fronteira terrestre variou, para menos, com a perda de Olivença no século XIX.
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