segunda-feira, 11 de julho de 2011

Paulo A. Loução. Os Templários na formação de Portugal: O Cristianismo Primitivo. «Nada exerce tanta influência nas pessoas como o palavreado; quanto menos o entendem, mais o admiram... Os nossos padres e os nossos doutores disseram muitas vezes não o que pensavam, mas o que a necessidade e as circunstâncias os obrigaram a dizer»


Cortesia de wikipedia

O Cristianismo Primitivo.
«Mas a grande questão é que, nos nossos dias, desconhece-se quais terão sido os verdadeiros Evangelhos e quais os textos originais que vieram a incorporar o Novo Testamento. Como é do conhecimento geral, foi S. Jerónimo que compilou estes textos e os organizou na «Vulgata» por nós designada como Bíblia. Numa carta aos Bispos Chromatius e Heliodorus, fala de um Evangelho secreto de S. Mateus, «escrito em hebraico pelo próprio punho de S. Mateus». Segundo o mesmo S. Jerónimo, continha matérias que são mais para destruir (a igreja de Roma?) do que para edificar e era uma obra difícil (…) o próprio São Mateus, Apóstolo e Evangelista, não queria que fosse publicada abertamente. (….) era para ser usada pelos homens mais religiosos, iniciados. Este Evangelho, escrito em hebraico, infelizmente não chegou até nós porque exibia, evidentemente, diferenças de monta relativamente ao evangelho escrito em grego, hoje divulgado como genuíno.

«Recebi-o dos nazarenos, que o usavam em Beroea, na Síria, permissão para traduzi-lo», continua a afirmar S. Jerónimo, no fim do século IV. Os Nazarenos eram uma confraria iniciática, gnóstica, ligada ao cristianismo primitivo, um ramo dos Essênios, segundo madame Blavatsky.


Cortesia de wikipedia

S. Gregório de Nazianzeno escreveu as seguintes palavras ao seu amigo e confidente S. Jerónimo:
  • «Nada exerce tanta influência nas pessoas como o palavreado; quanto menos o entendem, mais o admiram... Os nossos padres e os nossos doutores disseram muitas vezes não o que pensavam, mas o que a necessidade e as circunstâncias os obrigaram a dizer».
No século IV havia uma grande diversidade de evangelhos. Realizou-se então o célebre Concílio de Niceia, no qual se definiu quais os evangelhos verdadeiros. Segundo Sabino, bispo de Heracleia «excepto Constantino, o imperador, e Eusébio Panfílio, esses bispos eram um conjunto de criaturas iletradas, simples, que não compreendiam coisa alguma»; e Papus, no seu Synodicom deste concílio, esclarece-nos como foram escolhidos os evangelhos verdadeiros: «colocámos promiscuamente todos os livros apresentados à escolha do concílio sobre a mesa da comunhão de uma igreja, os bispos pediram ao Senhor que os escritos inspirados fossem deixados sobre a mesa, ao passo que os espúrios ficassem sobre ela - e isso realmente aconteceu». O que não ficámos a saber é quem tinha a chave para entrar na câmara do concílio durante a noite. Estávamos na época dos concílios que analisavam se “a mulher tinha alma” (felizmente 'teve', por um voto, 'qual o tipo de carne angelical', 'qual o sexo dos anjos', e de muitas outras loucuras de um mundo imerso na superstição.


Cortesia de wikipedia

Constantino, o imperador que deu o primeiro grande passo para que a Igreja Cristã de Roma se tornasse a religião oficial do império, foi, como se sabe, um dos assassinos mais execráveis da história. Afogou a sua esposa em água fervente, massacrou o seu pequeno sobrinho, matou com as suas próprias mãos dois dos seus primos, assassinou o seu filho Crispus; tudo isto entre vários outros crimes, como afogar um velho monge num poço. Nenhum templo pagão aceitou purificá-lo, virando-se assim para os cristãos romanos que não deixaram de aproveitar esta oportunidade política. Tendo em conta estes factos e a pouca honestidade de Eusébio, a célebre visão de Cristo por Constantino merece-nos, historicamente, muito pouca credibilidade.

Sobretudo a partir desta época, a Igreja oficial do império foi aniquilando, pela injúria e pelas armas, todas as correntes cristãs que tivessem uma faceta gnóstica e pusessem em causa 'a fé única e verdadeira'. Este espírito de intolerância foi reafirmado de forma categórica no século XI através do «Dictatus Papae» (1075) que afirma, entre muitos outros itens do mesmo género, «que só a Igreja Romana foi fundada por Deus». Milhões de pessoas que não concordaram com esta asserção foram assassinadas pela Igreja Católica, nos séculos seguintes, entre os quais muitos Templários franceses. O grande problema é que a Igreja Católica, perdendo todo o contacto com o esoterismo cristão, desde muito cedo misturou religião (espiritualidade) com política (assuntos terrenos) utilizando muitas vezes, com interesses políticos imediatos, interpretações duvidosas das Escrituras». In Paulo Alexandre Loução, Os Templários na Formação de Portugal, Ésquilo, 9ª edição, 2004, ISBN 972-97760-8-3.

Cortesia de Ésquilo/JDACT