segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Hoje, só Poesia. Maria Manuel Cid. «Se o meu cantar é condão, eu digo qu’a gente canta porque nos saem p'la garganta as mágoas do coração...»


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Em vez de chorar eu canto
Esta voz amargurada,
Nascida dentro de mim,
Embora não seja nada,
É tristeza repassada
Duma amargura ruim...

Mata o desprezo qu’a vida
Nos faz sentir por alguém,
Torna a saudade esquecida,
Dando à alma já perdida,
A crença que lhe faz bem....

E quando a alma pergunta
Se o meu cantar é condão,
Eu digo qu’a gente canta
Porque nos saem p'la garganta
As mágoas do coração...

Por isso é triste o meu fado,
Por isso lhe quero tanto...
E porque sou desgraçado,
Ao sentir-me amargurado,
Em vez de chorar... eu canto...

Cegueira
Se tenho guardado a vida
Que tanta vez me ofertaste,
Não estava agora perdida
A minha, que não guardaste...

Fui louca por te não crer,
Fui louca por desprezar-te,
Mais louca por não saber
Qu'o meu destino era amar-te...

E tanto corri às cegas
Que fui ter à tua porta,
Agora és tu que me negas,
O amor que me conforta...

A tua terna afeição
Foi tanta vez desprezada
que desfiz teu coração...
Não podes dar-me mais nada.

Olho o tempo mais além...
E da vida, o que me resta?...
Deitei fora todo o bem,
Só guardei o que não presta...
Poemas de Maria Manuel Cid, in «Poesia»

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