Cortesia de 100luz
Beja presente
«Pax-Julia, assim se chamava no final do século I A. C. a sede de um dos três conventos jurídicos, o mais meridional, em que se dividiu a Lusitânia. A sua fama, bons terrenos de cultivo e criação de gado, pedreiras e minério, boas vias de comunicação, uma extensa região razoavelmente administrada, teriam sido, dadas as suas riquezas e cupidez humana, a causa de uma frequente instabilidade que não a deixou crescer e desenvolver como merecia. Em escavações arqueológicas, terminadas há alguns anos na rua dos Sembranos, pôs-se a descoberto, entre e sob os muros de um balneário romano, o que parece ser parte do troço de uma muralha de circuito menor, datável da Idade do Ferro, estrutura bélica, de “opus incertum”, que vem de certo modo provar a necessidade de defesa e controlo não só de uma colina, obviamente, mas de uma região, particularidade que não foi ignorada pela praxis romana. Afinal, já antes da Idade do Ferro, a cultura do Bronze (cerca de 1850 a 800 a.C.) , bem identificada pelas lápides funerárias exumadas em redor da colina bejense, pressupõe a ocupação do local desde tempos recuados da Pré-História.
Após as invasões bárbaras, tornou-se sede de bispado visigodo, com o nome de “Paca”, mantendo boa parte do poder e magnificência anteriores até que, no início do século VIII, caiu sob o domínio muçulmano. Nesta longa pausa o Islão encantou Beja, formosa e branca, conservou o seu grande perímetro amuralhado e foi mãe de gente letrada como «Almut'Amid» o paladino dos poetas andaluzes e rei de Sevilha.
Cortesia de 100luz
Tentativas sucessivas de conquista e reconquista pelos reis cristãos, reduziram-na, gradualmente, a escombros, ruínas de pedras vetustas e histórias lendárias. Gonçalo Mendes da Maia, "O Lidador", neto do rei de Leão e fronteiro-mor de D. Afonso Henriques, apesar da sua já provecta idade de 95 anos (? Jdact), alcançaria a vitória sobre o temível rei mouro Almoliamar nas cercanias de Beja, reconstituição iconográfica que o grande artista Jorge Colaço nos legou num dos seus mais belos painéis de azulejaria que transitou da alcáçova do castelo para o jardim público. Definitivamente na posse portuguesa a partir de 1234, é-lhe concedido foral por D. Afonso III, reconhecendo-a como uma das principais vilas do reino ...
Só com D. Manuel I, em 1521, Beja alcança de novo o estatuto de cidade, vindo o bispado a ser restaurado em 1770, mais de mil anos depois da sua extinção. A Torre de Menagem é o ex-libris da cidade, a sua altura (40 m) e a sua beleza fizeram dela o melhor monumento militar do género em portugal. É obra trecentista, de forte influência muçulmana, nao há duas faces iguais, “imperfeição”, diferença e desígnio que só a humildade do construtor mouro pratica, porque só Alá é perfeito. Contudo, a torre de menagem, dita de D. Dinis, mas que pela análise exterior da sua arquitectura mostra ser posterior, dos reinados de D. Fernando I e início da dinastia de Avis, e só uma pequena parcela do valioso património pacense construído. A sua fortificação, maioritariamente de fundação romana, actualmente conserva, com algumas portas coevas e outras modernas, cerca de 1. 700 m de perímetro, com 37 das 48 torres que teimosamente ainda possuía na segunda metade do século XIX, período conturbado pela instabilidade política que assolava o país, bastante lesivo para a cidade, no qual se perderam mais de metade dos seus monumentos.
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Próximo da alcáçova, com suas janelas mudéjares, e fora das portas romanas de Évora, a basílica de Évora, a basílica de S. Amaro preserva um interior de raiz paleocristã, visigótica, moçárabe ou islâmica. Não se sabe ao certo quando foi fundada, vindo o mistério da volumetria da abside e dos estilos e épocas diferenciados a que pertencem os diversos elementos arquitectónicos. As colunas com suas bases, fustes, capitéis e ábacos, associados a várias leituras de funcionalidade da capela-mor rivalizam entre si na datação do monumento, incerteza que uma prospecção arqueológica poderia muito bem resolver. Alberga, neste momento, como núcleo do Museu Regional de Beja, a colecção de arte visigótica pacense, a mais importante do país.
Um pouco mais longe a pequena ermida de S. André, mostra na sua simplicidade primeira os botaréus cilíndricos de coruchéus cónicos e alguns pequenos merlões chanfrados, característicos do estilo gótico manuelino-mudéjar ou alentejano, tal como o podemos observar, intramuros, na galilé da pitoresca igreja paroquial de S, Maria da Feira, construída pelo século XIII no mesmo local onde anteriormente foram, cada uma a seu tempo, a sé visigótica e a mesquita. Contemporânea da crise-revolução de 1383-1385 e a ela ligada, pelos acontecimentos narrados por Fernão Lopes, é a antiga Casa da Câmara que lhe fica defronte, ostentando quase à esquina, a torrinha branca, cilíndrica, já referenciada numa iluminura de António de Holanda e Simão Bening, desde o início do século XVI, recordando a almenara da qual o «muezin» chamava os fiéis à oração». In Leonel Borrela, Cartas de Soror Mariana Alcoforado, Edição 100Luz, 2007, ISBN 978-972-99886-7-7.
Cortesia de 100Luz/JDACT