segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

A Carta de Osberno. O Cerco de Lisboa. «O rei português recebeu a ajuda decisiva de um grande contingente de cruzados do norte da Europa que participavam da Segunda Cruzada, e depois da captura de Lisboa foi escrita uma carta, chamada actualmente “De expugnatione Lyxbonensi”, a qual narra com muitos detalhes a história do cerco»

Pintura de Roque Gameiro
Cortesia de portaldahistoria

«Osberno é um personagem histórico associado ao cerco de Lisboa em 1147, em que a cidade foi conquistada aos mouros pelo rei Afonso Henriques. O rei português recebeu a ajuda decisiva de um grande contingente de cruzados do norte da Europa que participavam da Segunda Cruzada, e depois da captura de Lisboa foi escrita uma carta, chamada actualmente “De expugnatione Lyxbonensi”, a qual narra com muitos detalhes a história do cerco. A narração associada a Osberno, assim como outra carta mais curta do cruzado Arnulfo, são excepcionais como registos contemporâneos desse evento essencial da história das cruzadas e da Reconquista cristã na Península Ibérica.
A carta começa com uma fórmula abreviada de saudação:
  • Osb. de Baldr. R. salutem.
As ambiguidades do latim medieval fazem com que seja difícil saber quem foi o autor e quem o destinatário. Tradicionalmente a carta é atribuída a Osb. de Baldr. e é dirigida a R.; porém também é possível que tenha sido escrita por R. e dirigida a Osb.. Este Osb. é justamente Osberno (ou Osberto) de Bawdsey (Suffolk, na Inglaterra). R. é identificado por alguns como um presbítero inglês chamado Raul. A qualidade do latim da carta e as referências eruditas religiosas indicam que o autor era um religioso culto.
A narração associada a Osberno, de imenso valor histórico, faz parte do Códice 470 da Biblioteca do colégio do Corpo de Cristo, da Universidade de Cambridge e está adaptada para português moderno em várias edições.


Da carta do cruzado sobre a conquista de Lisboa
«Carta do cruzado R. com base nas traduções referenciadas na lista de fontes. Com a pregação da segunda cruzada por São Bernardo de Claraval, em 1146 na basílica de Vézelay, com intenção de enviar um grande exército para defesa dos territórios francos na Palestina atacados pelos turcos seljúcidas, uma parte das forças de cruzados, que do Nordeste da Europa se dirigiam por mar para o Médio Oriente, foram aliciados a ajudarem o mais recente rei da Cristandade, D. Afonso Henriques, a combater os infiéis. Este é o relatório que o cruzado R[aul] mandou a Osb[erto] de Baldr[eseia] (Bawssey), que é a interpretação mais recente, ou que Osb[erto] de Baldr[eseia] mandou a R. Como escreveu Alfredo Pimenta, «o autor, fosse Osberno ou fosse R., parece ter sido padre; era inglês ou normando; e entrou com certeza na conquista de Lisboa. E isso é o que importa acima de tudo». In Portal da História, Portugal, Dicionário Histórico.

O Cerco de Lisboa por Afonso Henriques
Quadro de Joaquim Braga (1793-1853)
Cortesia de portaldahistoria

O Cerco de Lisboa, com início a 1 de Julho de 1147 e que durou até 25 de Outubro, e foi um episódio integrante do processo de Reconquista cristã da península Ibérica, culminando na conquista desta cidade aos mouros pelas forças de D. Afonso Henriques (1112 - 1185) com o auxílio dos Cruzados em trânsito para o Médio Oriente. Este episódio constituiu o único sucesso da Segunda Cruzada.

Após a queda de Edessa, em 1144, o Papa Eugénio III convocou uma nova cruzada para 1145 e 1146. O Papa ainda autorizou uma cruzada para a Península Ibérica, embora esta fosse uma guerra desgastante de já vários séculos, desde a derrota dos Mouros em Covadonga, em 718. Nos primeiros meses da Primeira Cruzada em 1095, já o Papa Urbano II teria pedido aos cruzados ibéricos (futuros Portugueses, Castelhanos, Leoneses, Aragoneses, etc.) que permanecessem na sua terra, já que a sua própria guerra era considerada tão valente como a dos Cruzados em direcção a Jerusalém. Eugénio III reiterou a decisão, autorizando Marselha, Pisa, Génova e outras grandes cidades mediterrânicas a participar na guerra da Reconquista.
A 19 de Maio zarparam os primeiros contingentes de Cruzados de Dartmouth, Inglaterra, constituídos por Flamengos, Normandos, Ingleses, Escoceses e alguns cruzados Germanos. Segundo os historiadores, perfaziam no total 164 navios, valor este provavelmente aumentado progressivamente até à chegada a Portugal. Durante esta parte da Cruzada, não foram comandados por nenhum príncipe ou rei; a Inglaterra estava em pleno período de ‘anarquia’. A frota era dirigida por Arnold III de Aerschot (sobrinho de Godofredo de Louvaina), Christian de Ghistelles, Henry Glanville (condestável de Suffolk), Simon de Dover, Andrew de Londres, e Saher de Archelle.

A armada chegou à cidade do Porto a 16 de Junho, sendo convencidos pelo bispo do Porto, Pedro II Pitões, a tomarem parte nessa operação militar. Após a conquista de Santarém (1147), sabendo da disponibilidade dos Cruzados em ajudar, as forças de D. Afonso Henriques prosseguiram para o Sul, sobre Lisboa.

Batalha de Sacavém
Cortesia de wikipedia

As forças portuguesas avançaram por terra, as dos Cruzados por mar, penetrando na foz do rio Tejo; em Junho desse mesmo ano, ambas as forças estavam reunidas, ocorrendo as primeiras escaramuças nos arrabaldes a oeste da colina sobre a qual se erguia a cidade de então, hoje a chamada ‘Baixa’. Após violentos combates, tanto esse arrabalde, como o a leste, foram dominados pelos cristãos, impondo-se dessa forma o cerco à opulenta cidade mercantil.
Bem defendidos, os muros da cidade mostraram-se inexpugnáveis. As semanas se passavam em surtidas dos sitiados, enquanto as máquinas de guerra dos sitiantes lançavam toda a sorte de projécteis sobre os defensores, o número de mortos e feridos aumentando de parte a parte.
No início de Outubro, os trabalhos de sapa sob o alicerce da muralha tiveram sucesso em fazer cair um troço dela, abrindo uma brecha por onde os sitiantes se lançaram, denodadamente defendida pelos defensores. Por essa altura, uma torre de madeira construída pelos sitiantes foi aproximada da muralha, permitindo o acesso ao adarve. Diante dessa situação, na iminência de um assalto cristão em duas frentes, os muçulmanos, enfraquecidos pelas escaramuças, pela fome e pelas doenças, capitularam a 24 de Outubro. Entretanto, somente no dia seguinte, o soberano e suas forças entrariam na cidade, nesse meio tempo violentamente saqueada pelos Cruzados.
Decorrente deste cerco surgem os episódios lendários de Martim Moniz, que teria perecido pela vitória dos cristãos, e da ainda mais lendária batalha de Sacavém.

Alguns dos Cruzados estabeleceram-se na cidade, de entre os quais se destaca Gilbert de Hastings, eleito bispo de Lisboa. Lisboa tornou-se capital de Portugal em 1255». In Portal da História, Wikipédia.

Cortesia de Portal da História/JDACT