terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Poesia. Eugénio de Andrade: «Assim se morre dizias tu, assim se morre dizia o vento acariciando-te a cintura. “Em cada dia que passa vemos o mundo tornar-se menor…”»

Cortesia de icicomup

Sobre a Palavra
Entre a folha branca e o gume do olhar
a boca envelhece

Sobre a palavra
a noite aproxima-se da chama

Assim se morre dizias tu
Assim se morre dizia o vento acariciando-te a cintura

Na porosa fronteira do silêncio
a mão ilumina a terra inacabada

Interminavelmente.
Eugénio de Andrade, in «Véspera da Água»


Sobre o Caminho
Nada

nem o branco fogo do trigo
nem as agulhas cravadas na pupila dos pássaros
te dirão a palavra

Não interrogues não perguntes
entre a razão e a turbulência da neve
não há diferença

Não colecciones dejectos o teu destino és tu

Despe-te
não há outro caminho.
Eugénio de Andrade, in «Véspera da Água»

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