Lisboa no século XIX
Cortesias de geopedrados e auladeliteraturaportuguesa
Responso
Num castelo deserto e solitário,
toda de preto, às horas silenciosas,
envolve-se nas pregas dum sudário
e chora como as grandes criminosas.
Pudesse eu ser o lenço de Bruxelas
em que ela esconde as lágrimas singelas.
É loura como as doces escocesas,
duma beleza ideal, quase indecisa;
circunda-se de luto e de tristezas
e excede a melancólica Artemisa.
Fosse eu os seus vestidos afogados
e havia de escutar-lhe os seus pecados.
Alta noite, os planetas argentados
deslizam um olhar macio e vago
nos seus olhos de pranto marejados
e nas águas mansíssimos do lago.
Pudesse eu ser a Lua, a Lua terna,
E faria que a noite fosse eterna.
E os abutres e os corvos fazem giros
de roda das ameias e dos pegos,
e nas salas rossoam uns suspiros
dolentes como as súplicas dos cegos.
Fosse eu aquelas aves de pilhagem,
e cercara-lhe a fronte, em homenagem.
Poema de Césário Verde, in «O Livro de Cesário Verde»
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