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In Memoriam de MLAC
«No percurso, já longo, dos estudos garrenianos, cuja historiografia e periodização importa estabelecer, tem lugar especial Henrique Ferreira Lima (1882-l949).Era um daqueles espíritos inquietos a quem a curiosidade impõe uma multiplicidade de interesses que prejudica, ou inviabiliza, até, a obra de tomo. Deixou, entretanto, obra vasta, vasta e vária, e de modo algum restrita a Almeida Garrett. Pouca conhecida é, porém, no seu conjunto:
- porque sepultada (quase diríamos perdida), na sua maior parte, em periódicos e publicações avulsas, com separatas, quando as houve, de reduzida tiragem;
- porque os arrolamentos de seus escritos, com propósito total ou parcial, também não circulam.
De facto, afora alguns, poucos títulos, e passamos a ater-nos à matéria em objecto, são ‘trabalhos esquecidos’, seguindo a sugestão adequada de Braz de Oliveira para esta nótula.
Muito jovem ainda assistiu e viveu as comemorações do centenário (1899), e assim começou o interesse que, pela vida fora, se constituiu em verdadeiro cultos: obtendo manuscritos, libretos, traduções, iconografia e mais objectos relacionados com o primeiro romântico, ‘rica e valiosa Colecção Garrettiano’, de que a Câmara de Lisboa expôs ‘a melhor parte’ por ocasião do centenário da morte do homenageado. À mesma razão, ao mesmo culto, se devem os trabalhos, bastas dezenas, que foi produzindo. Escreveu sobre "A sobrinha do marquês”, sobre “Inês de Castro”, sobre “Frei Luís de Sousa”, “O Tio Simplício”, as “Viagens”; e sobre Garrett estudante nos tempos de Coimbra, Garrett enquanto actor, colonialista e jornalista; suas moradas na capital, seus inéditos e traduções, Garrett soldado; da sua influência e recepção no estrangeiro, suas andanças literárias e políticas, aspectos da sua versatilidade sentimental... - de tudo publicou escritos de valia.
São contributos que permitem enriquecer, e rever, a figura do ‘artista’, como o viu Moniz Barreto, em síntese vigorosa e arguta, contrapondo-o a Herculano, ‘um, poeta’, e a Castilho, ‘um literato’, e assim rever também um tanto da História Portuguesa. Havia nele, Garrett, algo de Chateaubriand, algo de naturalmente grande, no uso do sonho e também no desencanto; faceta esta, aliás, pouco lembrada (ou que o não é como devia) mas que interessa, e muito, a uma visão integral:
- o que aquele antigo soldado voluntário escreveu, e publicou, acerca do tempo começado em Évora Monte, com novos Brenos a berrar, pilhar, assassinar e enriquecer; era o “regabofe”, como dirá Oliveira Martins. Levedavam já Gouvarinhos e Abranhos...
Trabalhos esquecidos, repita-se, que bem vale segmentar e reunir, respondendo a uma ideia já antigas. Úteis seriam também para dois instrumentos de trabalho que entendemos prioritários: uma bibliografia passiva de Garrett; e um dicionário, no modelo dos que recentemente servem os estudiosos de Eça e de Camilo.
Dos arrolamentos apontados vem o indículo que se segue, conferido e completado quanto possível, mas não quanto baste. Não se considera a forma primitiva dos trabalhos, quando posteriormente desenvolvidos, nem os materiais inéditos que sobre o tema deixou». In Leituras, Revista da Biblioteca Nacional, Ferreira Lima, estudioso de Almeida Garrett, Trabalhos Esquecidos, Luís Farinha Franco, Fundação para a Ciência e a Tecnologia, 1999.
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