Cortesia de oscoped
Adozinda
I
Onde vás tão alva e linda,
mas tão triste e pensativa,
pura, celeste Adozinda,
da cor da singela rosa
que nasceu ao pé do rio?
Tão ingénua, tão formosa
como a flor, das flores brio
que em serena madrugada
abre o seio descuidade
a doce manhã de Abril!
- Roupas de seda que leva
alvas de neve que cega
como os picos do Gerês
quando em Janeiro lhe neva
cinto cor de violeta
que à sombra desabrochou;
cintura mais delicada
nunca outro cinto apertou.
Anéis louros do cabelo
como o sol resplandescentes
folgam soltos; dá-lhe o vento,
dá no véu ligeiro e belo,
véu por suas mãos bordado,
de um santo ermitão fadado
que vinha da Palestina;
passou pelo povoado,
foi-se direito ao castelo
pediu pousada, e lha deram
porque intercede a menina:
que o pai soberbo e descrido,
- «nessa gente peregrina,
disse, quem sabe o que vem?»
Mas pede Adozinda bela,
tal virtude e formosura,
quem lho há-de negar a ela?
Não pode o pai nem ninguém.
Poema de Almeida Garrett, in «Romanceiro»
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