quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Poesia. Almeida Garrett. Romanceiro. «Roupas de seda que leva alvas de neve que cega como os picos do Gerês, quando em Janeiro lhe neva, cinto cor de violeta que à sombra desabrochou»

Cortesia de oscoped 

Adozinda
I
Onde vás tão alva e linda,
mas tão triste e pensativa,
pura, celeste Adozinda,
da cor da singela rosa
que nasceu ao pé do rio?
Tão ingénua, tão formosa
como a flor, das flores brio
que em serena madrugada
abre o seio descuidade
a doce manhã de Abril!
- Roupas de seda que leva
alvas de neve que cega
como os picos do Gerês
quando em Janeiro lhe neva
cinto cor de violeta
que à sombra desabrochou;
cintura mais delicada
nunca outro cinto apertou.
Anéis louros do cabelo
como o sol resplandescentes 
folgam soltos; dá-lhe o vento,
dá no véu ligeiro e belo,
véu por suas mãos bordado,
de um santo ermitão fadado
que vinha da Palestina;
passou pelo povoado,
foi-se direito ao castelo
pediu pousada, e lha deram
porque intercede a menina:
que o pai soberbo e descrido,
- «nessa gente peregrina,
disse, quem sabe o que vem?»
Mas pede Adozinda bela,
tal virtude e formosura,
quem lho há-de negar a ela?
Não pode o pai nem ninguém.

Poema de Almeida Garrett, in «Romanceiro»

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