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A poesia oral
«Tudo começou pela linguagem. Entre os mais antigos vestígios humanos, contam-se os poemas escritos e compilados nos “Vedas”, em sânscrito, uma língua que desceu com os Arianos das vertentes ao sul dos Himalaias, seguindo o curso do Indo e do Ganges.
Mas antes de serem fixados por escrito em sânscrito, os “Vedas” conheceram ao longo de milhares de anos uma existência oral que se foi transmitindo de geração em geração até à invenção da escrita.
Outras tradições orais conheceram durante milénios a mesma forma de transmissão. O poeta era ao mesmo tempo um cantor ou um recitador profissional, capaz de reter na memória milhares de versos. Era o que acontecia com os ‘aedos gregos’ a quem devemos os poemas atribuídos a Homero e que se fixaram por escrito em grego, um dos idiomas de origem indo-europeia, como o dos “Vedas”.
A forma como hoje conhecemos a “Ilíada” e a “Odisseia” é a forma escrita e emendada pelos escribas gregos. O mesmo aconteceu com os outros poemas da mesma fase cultural, correspondente a diversas épocas cronológicas, tal como a “Chanson de Roland”, poema dos Francos, e o “Cantar de Mio Cid”, que os jograis de Espanha entoavam ou cantavam ainda no século XII da nossa era. Este cantar constava de perto de quatro mil versos.
A poesia ainda se canta ou recita. O verso é a forma em que, durante milhares de anos, se conservaram os textos importantes. As leis em latim tinham o nome de “carmina”, plural de “Cármen”, que significa verso. Mas a transmissão oral tem inconvenientes que os Latinos resumiram num provérbio:
- “verba volant, scriptamanent” (as palavras faladas voam, as escritas ficam).
A escrita traz uma alteração qualitativa à fala. E como se petrificasse a palavra e a despersonalizasse.
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Anula o sujeito falante em proveito da mensagem comunicada. Os grandes mestres de sabedoria da humanidade, Cristo, Sócrates e Buda, não deixaram uma palavra escrita; o impacte que causaram foi-nos transmitido pelos seus discípulos. E, já em tempos recentes, J. J. Rousseau (século XVIII) dizia que os livros só ensinam a falar do que se não sabe, o que talvez signifique que aquilo que se aprende pela leitura importa pouco.
A escrita
Conhecem-se vários tipos de escrita na Europa, mas todos são alfabéticos: os sinais visíveis reproduzem sons que formam palavras, às quais correspondem a conceitos que estão na mente e que se referem a coisas ou a processos. Este tipo de escrita nasceu na Fenícia.
Além desta, há a escrita figurativa, que reproduz esquematicamente o objecto referido ou parte dele. Na medida em que esta escrita se desenvolve num mundo religioso, os conceitos, têm uma relação com o sagrado, fora da qual não se entendem. -É o caso da escrita hieroglífica dos antigos egípcios.
A escrita fonética (que se formou a partir dos hieróglifos egípcios) é a mais abstracta de todas, exceptuando as escritas particulares de cada ciência, que exigem o conhecimento delas. A escrita que usamos correntemente no Ocidente traduz a linguagem natural, não especializada, mas é altamente abstracta, isto é, afastada das coisas referidas no discurso falado». In Cultura, António José Saraiva, Difusão Cultural, 1993, ISBN 709-972-154-7.
Cortesia de Difusão Cultural/JDACT