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O Território
«A Espanha dos nossas dias é o resto de um continente terciário que, ligado à África por Gibraltar, fechava num lago o Mediterrâneo, e estendendo-se para Noroeste, em territórios depois submersos, ia talvez chegar à América.
Observe-se o mapa geológico da Península, e ver-se-á que, cingindo-a em duas metades quase iguais pelo meridiano de Madrid, se tem para Oriente uma Espanha terciária lacustre, para Ocidente um maciço de terrenos silúricos e graníticos principalmente. Foi esta circunstância que levou a geologia a reconhecer a necessidade da existência de uma Atlântida, na qual grandes rios terciários vinham, rumando a Sueste, entrar pela Biscaia e formar os lagos de então, hoje bacias do Ebro, do Douro, do Esla, e o planalto central da Castela, origem do Tejo, do Guadiana e do Jucar. Através das actuais províncias de Tarragona e Múrcia, o sistema lacustre da Espanha terciária vazava para o lago que então era o Mediterrâneo.
As revoluções que assinalaram a entrada da nossa idade geológica cindiram a Espanha da África pondo em comunicação o Mediterrâneo e o Atlântico, subverteram à Atlântida limitando a Espanha por Norte no Mar Cantábrico, e, secando as fontes que alimentavam os lagos interiores, erguendo contra o mar as barreiras cretáceas da Biscaia, deixaram a nu o fundo dos velhos lagos que são hoje campinas regadas por novos rios, cobertas de plantações e vilas.
Cortesia de enigmasdacris
A primeira bacia, outrora lacustre, hoje fluvial é, para quem vem de França, a do Ebro desde Logronho até Félix. Ladeiam-na por Norte os socalcos pirenaicos de Huesca, de Pamplona e Barcelona, cretáceos e terciários inferiores que vêm ao litoral morrer contra os afloramentos graníticos de entre Mataró e Gerona. Domina-a a cordilheira dos Pirenéus, sistema de montanhas graníticas, devónicas, silúricas, mosqueadas de rochas plutónicas, levantada como uma muralha desde o golfo da Gasconha sobre um mar, o Atlântico, até o golfo de Leão sobre outro mar, o Mediterrâneo. São os Pirenéus as portas da Espanha que a separam da Europa e apenas se abrem nos dois extremos: em Irun, em Perpinhão.
Pelo lado oposto a bacia lacustre do Ebro é limitada pelos terrenos secundários de Teruel e Catalayud, que vêm também acabar contra os terciários marinhos do litoral mediterrâneo. Desde Alicante até às bocas do Ebro, e daí até Barcelona, envolvidos em jurássicos e triássicos, em cretáceos, em silúricos estes documentos das revoluções geológicas fecham por leste a primeira bacia hidrográfica da Espanha. Pelas fronteiras cantábricas as montanhas cretáceas da Biscaia, prolongando os Pirenéus até Santander, defendem hoje do mar a bacia do Ebro dominada pela ilustre Saragoça.
Cortesia de skyscrap
Recebendo as águas da vertente sul dos Pirenéus, recebendo pelo Norte os tributos da cordilheira cantábrica, e do Poente as águas que descem dos montes de Oca, das alturas de Medina-Celi e da Serra de Molina, o Ebro atravessa de lado a lado a Península constituindo em favor do Aragão o sólido alicerce de uma nacionalidade, a última das que nos tempos modernos definitivamente se fundiram no corpo da monarquia espanhola. Ladeada ao Norte pelas montuosas regiões das Vascongadas e ao Sul pelo atormentado terreno da Catalunha, o Aragão, colocado entre os Pirenéus e o sistema das cumeadas que o dividem das Castelas, apresenta-se qual outra Lombardia, fechado dentro de um cinto de muralhas naturais.
Descendo para Ocidente, alonga-se a cordilheira que vem desde as fronteiras do Aragão até à costa do Oceano em Sintra, dividindo esta parte da Península em dois grandes sistemas de bacias orográficas, cuja superfície é proximamente igual. Nascem com as origens destas serras, a que chamamos espinha dorsal da Espanha, os seus dois principais rios ocidentais, o Tejo e o Douro. Somo-Sierra, Guadarrama, Alberche, Gredos, Jararrra, Estrela e Sintra, são os principais nomes que essa cordilheira toma na sua marcha, apenas urna vez interrompida pela curta bacia que o Alagon abre junto a Placência, logo seguida até o Atlântico a abraçar Lisboa, dominando a esplêndida bacia do Tejo». In Oliveira Martins, História da Civilização Ibérica, Guimarães Editores, Lisboa, 1994.
Cortesia de Guimarães Editores/JDACT