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«Quando, em 1921, Leonardo Coimbra deu à publicação, na curiosa e meritória “Colecção Lilás”, o estudo crítico sobre “O Pensamento Filosófico de Antero de Quental, o seu nome já se encontrava firmado noutras obras de projecção filosófica, dado que entretanto corriam impressos a sua tese “O Criacionismo (1912)” e os ensaios filosóficos “A Morte (1913)”, “O Pensamento Criacionista (1915)”, “A Luta pela Imortalidade (1918)” e “A Alegria, a Dor e a Graça (1920)”. Daí que, ao tratar da ideação filosófica de Antero, Leonardo Coimbra vai fazê-lo confrontando-a com o seu próprio ‘sistema’, quer dizer, empreendendo essa abordagem e interpretação à luz daquele ‘corpo de doutrinas filosóficas’ que, desde 1912, expunha socraticamente “na terra mais antifilosófica do planeta” sob a designação de “Criacionismo”.
Como particular incidência, a crítica das ideias filosóficas de Antero de Quental na linha das teses leonardistas, após a exposição geral dos escritos fundamentais do autor das “Prosas”, o confronto das tendências contrárias expressas pelo seu pensamento e a identificação de noções e problemas morais e filosóficos propostos na corrente da sua razão ideal e razão suficiente.
Cortesia de institutocamoes
Por consequência, “O Pensamento Filosófico de Antero de Quental” vale também e demais quer intertextualmente quer no plano interpretativo como uma das exposições privilegiadas da filosofia de Leonardo Coimbra, sobretudo quanto à explicitação das problemáticas do Uno e do Múltiplo, do Ser e do Devir, do Mal e da sua redenção, no vértice, da Verdade do ser e do Ser da Verdade.
Se esta evidência decorre implícita da leitura e reflexão que hemos de fazer desta obra, sinal de imperativo atendimento ocorre pela sapiente advertência de José Marinho, ao confirmar sem intenção recensória que ‘é este um dos livros capitais de Leonardo Coimbra. Obra única do autêntico pensamento interpretativo em Portugal, representa ela o grau mais elevado de compreensão atingido perante qualquer pensador português’.
Só por si, comprova-o a profundidade a que Leonardo Coimbra levou a crítica dos anseios e apelos metafísicos expressos por Antero, vendo-o não somente na imanência de “um homem que era um santo”, mas numa alter idade procedente da sua apetência como “namorado da Verdade, a quem não bastam os fantasmas de névoa e sonho da Poesia, como não bastam os esqueletos da ciência, e quer dar aos primeiros a solidez dos segundos e a estes a seiva, a vida interna e fremente daqueles”.
Leonardo Coimbra, ao meditar e ao discernir, dentro de uma hermenêutica criacionista, as ideias filosóficas de Antero, fá-lo sabendo que o pensamento do autor de “A Filosofia da Natureza dos Naturalistas” recebeu, por influência directa ou indirecta, induções da filosofia alemã, da ‘crítica de Kant e do subsequente idealismo, principalmente o de Hegel e Schelling, da preponderância da mecânica e das ciências da natureza, do dinamismo de Leibniz e do cientismo da forma positivista de Comte’». In Leonardo Coimbra, O Pensamento Filosófico de Antero de Quental, Guimarães Editores, Lisboa, 1991, ISBN 972-665-372-X.
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