quinta-feira, 8 de março de 2012

Poesia. Monólogos. Pedro Bandeira. «Não te deixes derrubar pela insignificância dos pequenos movimentos. Se jamais te faltar a coragem para afrontar os dias em que nada se passa, poderás sem receio esperar os tempos em que o mundo se vira»

banzeirotextual

Vou recitar
Meus senhores: vou recitar.
Cá por mim, quando recito,
tenho um costume esquisito,
gosto sempre de avisar...
Pode alguém querer ir embora!
Já disse e repito agora:
meus senhores: vou recitar!"

Ficam todos?... Muito bem.
Depois deste meu aviso
pensei eu que, de juízo,
não ficasse aqui ninguém!
Mas, sempre é bom reflectir...
Ainda é tempo de sair...
Ficam todos?... Muito bem!

Desculpemme esta demora
Mas eu tenho esta mania...
Vou começar a poesia:
é o último aviso agora!
Com que então não sai ninguém?
Ficam todos? Muito bem...
Pois então vou-me eu embora!

P'ra que foi esta chamada?
Sempre querem que eu recite?
Oh, que esquisito apetite
e que valente massada!
Mas ficam todos a ouvir?
Pois então podem sair
que eu hoje não digo nada! 


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