sábado, 19 de maio de 2012

História e Mistérios dos Templários. Pedro Silva. «Conforme relato de um cronista muçulmano, esse massacre aconteceu na mesquita de al-Aqsa, na qual suas vítimas eram "imãs e estudantes muçulmanos”, homens devotos e ascetas que abandonaram suas terras de origem para viverem na Terra Santa em piedade e reclusão»


Cortesia de ediouro

Nascimento da Ordem
«Ao tratarmos da notável história dos Templários é necessário que se compreenda a Idade Média no século XI, no tempo das Cruzadas. O homem medieval era essencialmente religioso e, na Europa Ocidental, um fiel servidor de Deus e da Igreja. Embora estivesse sob o domínio do Senhor Feudal, esse homem não se autodefinia como um inglês, francês ou alemão, mas como cristão, tão grande era o domínio universal da fé. Como as nações ainda não existiam, não poderia existir também igrejas nacionais. Para a Igreja Romana, as Cruzadas representaram a expansão do cristianismo. O combate ao infiel muçulmano e a reconquista da Cidade Santa de Jerusalém foram incentivados pela Igreja. O papa Urbano II estava preocupado com os ataques e molestamentos dos cristãos que eram oprimidos ao se dirigirem à Cidade Santa. Exortou-os, então, a lutarem contra os inimigos de Cristo e prometeu a todos os que se empenhassem nessa causa a concessão de indulgências. O uso da violência incentivado pelo Papa foi defendido por São Bernardo, abade de Clairvaux, o qual refutou as críticas dos clérigos ortodoxos, segundo as quais o derramamento de sangue era vedado àqueles que desejassem ingressar em ordem clerical. Eis a sua exortação dirigida aos Cavaleiros do Templo:
  • Na verdade, os cavaleiros de Cristo travam as batalhas para seu Senhor com segurança, sem temor de ter pecado ao matar o inimigo, nem temendo o perigo de sua própria morte, visto que causando a morte, ou morrendo quando em nome de Cristo, nada praticam de criminoso, sendo antes merecedores de gloriosa recompensa. Assim, sendo, por Cristo! E então, Cristo será alcançado. Aquele que em verdade, provoca livremente a morte de seu inimigo como um ato de vingança mais prontamente encontra consolo em sua condição de soldado de Cristo. O soldado de Cristo mata com segurança e morre com mais segurança ainda. Serve aos seus próprios interesses ao morrer e aos interesses de Cristo ao matar! Não é sem razão que ele empunha a espada! É um instrumento de Deus para o castigo dos malfeitores e para a defesa do justo. Na verdade, quando mata um malfeitor, isso não é um homicídio, mas um malicídio [sic] e ele é considerado um carrasco legal de Cristo contra os malfeitores.

Urbano II, 1099
Cortesia de wikipedia

Com essa doutrina, as célebres Cruzadas passaram a ser apoiadas por todos os líderes máximos da Igreja contra os infiéis muçulmanos. Existia na Idade Média uma ideia de bravura que vinha directamente de ordens religiosas como as dos Jom-Vikings, cuja disciplina era mantida à custa de mil provações e tinham como maior ambição a morte em combate. Corroborando essa ideia, a Igreja tentou incuti-la em seus fiéis. Um guerreiro cristão deveria ser piedoso, afável, solícito e preferir a morte à desonra, porque esta carecia de defesa própria. Votos de castidade, bênção de armas e promessas de descanso eterno, caso morressem na defesa de um ideal, eram algumas das indulgências concedidas ao cavaleiro cristão. O Papa Gregório VII criou, até mesmo, um exército papal chamado Militia Sancti Petri, com o objectivo de disputar uma guerra santa.
Quando em 1099, os cavaleiros das cruzadas reconquistaram Jerusalém, a Cidade Santa por excelência, bem como outros lugares santos, em regiões próximas ao Oriente, numa guerra sangrenta, na qual setenta mil pessoas morreram e que durou três dias, recobrou-se a fé cristã. Conforme relato de um cronista muçulmano, esse massacre aconteceu na mesquita de al-Aqsa, na qual suas vítimas eram "imãs e estudantes muçulmanos, homens devotos e ascetas que abandonaram suas terras de origem para viverem na Terra Santa em piedade e reclusão". Desde então, deram-se início as conquistas religiosas, por meio de armas, por todo o Oriente. E isso só foi possível por causa do papa Urbano II, mentor fundamental dessa estratégia, ao solicitar a defesa intransigente da cidade de Jerusalém. Em 1100, Balduíno I sucedeu ao seu irmão, tornando-se rei e senhor da Cidade Santa. Havia o perigo constante exercido pelos muçulmanos em promover novas guerras e invasões a Jerusalém e ataques aos peregrinos que se dirigiam a ela. Com o sistema de arrecadação de tributos desestabilizado, todo o sistema de defesa existente enfraqueceu-se.

A reconquista cristã
Cortesia de wikipedia

Havia cerca de quatrocentos anos que o reino tentava se libertar do domínio muçulmano, mas, devido a todos esses factores negativos, nunca o território fora considerado totalmente cristão. Durante os anos seguintes, vários conflitos irromperam em locais que se mantiveram em permanente alerta, a fim de defenderem as possessões que, de repente, podiam ser conquistadas pelo inimigo. Mesmo as mais imponentes fortalezas não resistiram às vagas sucessivas de exércitos sedentos de vingança. Jerusalém estava isolada ao redor de territórios controlados pelos mouros e se tornara cobiçada por causa da sua importância histórico-religiosa, que, mesmo durante o domínio muçulmano, nunca deixara de ser o local preferido de peregrinação cristã». In Pedro Silva, História e Mistérios dos Templários, Rio de Janeiro, Ediouro, 2001, ISBN 85-00-00757-5, PDF.

Cortesia de Ediouro/JDACT