jdact
«Em 1458, Salomão Maçoude, ferreiro fazedor de armas, obtinha deste monarca
a isenção de pagamento de direitos reais e de impostos à comuna, da prestação
de serviços a esta, além da isenção de aposentadoria. Mestre Moisés Tobi, físico,
Judas Tobi, discípulo nesta arte, mestre Vidal, cirurgião e Isaac Francês,
também cirurgião recebiam autorização para se poderem deslocar em besta muar de
sela e freio.
Elvas destacava-se sem dúvida na região, seguindo-se-lhe Castelo de Vide,
Arronches, Fronteira, Crato e Portalegre apenas com um. Na sua generalidade
eram físicos ou cirurgiões e mercadores. Mais raros eram os privilégios
concedidos a artesãos.
Pelo que conhecemos, podemos dizer que eles se identificavam também com
a oligarquia, como rabi Sad, rabi José Amigo, servidor de Afonso V, mestre
Abraão, físico e cirurgião e rabi em 1475-78 ou Salomão Penço, físico e rabi em
1486, em Elvas.
Os judeus destas comunidades, à semelhança do seus correligionários, pagavam
anualmente ao rei o serviço real. No final de trezentos e no início de
quatrocentos, João I acrescentar-lhes-ia o serviço novo das 300 000 libras e a
peita ferreira para os ferreiros de Ceuta. Além destes, contribuíam nos
tributos extraordinários, como os pedidos e empréstimos ao rei.
Ignoramos a totalidade do valor do serviço real, velho e novo, e das rendas
das judiarias da região em questão. Os cálculos conhecidos não são os totais,
na sua generalidade, pois só sabemos a quantia dos direitos reais doada e não a
sua soma o que leva a certos paradoxos como, por exemplo, a superioridade do
total conhecido da comuna de Olivença, sobre a de Évora, sendo esta a segunda
comunidade do reino.
O rei João I desenvolveria a prática já incipientemente iniciada por
seu irmão da doação aos seus servidores dos direitos reais das comunas do reino.
Em 1384, o serviço e cabeças dos judeus de Elvas eram concedidos a Gil
Fernandes, escudeiro e, o serviço real de Avis a Rodrigo Afonso, criado do
Mestre de Avis. Em 1390, as cabeças e serviços de Elvas passavam para Fernão
Lopes de Abreu e as rendas da judiaria, em 1390, eram doadas a Álvaro Gonçalves,
alcaide da vila. João Falcão, cavaleiro da casa do infante Pedro, recebia em 1433
o serviço novo das comunas de E1vas, Campo Maior e Juromenha o qual seria confirmado
por Afonso V em 1450. O mesmo fidalgo obteria, em 1436, o direito do genesim de
Elvas. O serviço real desta comuna era doado pelo rei Duarte I a Gonça1o
Rodrigues de Abreu. Os direitos reais dos judeus do almoxarifado de Portalegre,
com excepção do serviço novo que reverteria para o rei, caberia a Gonçalo de
Sousa, fidalgo da casa do infante Henrique e alcaide do castelo de Marvão, etc.
etc..
Desconhecemos o seu quantitativo global e até a sua evolução, ao longo
do século XV. À data da expulsão, a comuna de Portalegre beneficiava dois
fidalgos: Diogo da Silva de Meneses, usufruidor de 61.066 reais e 7 pretos das
rendas da judiaria, e João Tavares, cavaleiro da casa real e recebedor de 25.256
reais do serviço novo desta comuna. Jaime, duque de Bragança e Afonso Vasques
de Brito, conselheiro do rei e seu caçador mor, usufruíam as rendas da judiaria
de Sousel, no valor de l5.660 reais. Àquele pertenciam ainda as rendas da
judiaria de Alter, avaliadas em 6500 reais. As rendas da judiaria de Castelo de
Vide pertenciam a Duarte de Me1o, alcaide-mor da vila e valiam 14.200 reais.
Campo Maior rendia a Rui Gomes da Silva, fidalgo e seu alcaide-mor, a quantia
de 11.493 reais. João Gomes tinha as rendas da judiaria de Alegrete, no valor
de 8000 reais. O genesim dos judeus de Cabeço de Vide pertencia a Brianda do
Carvalhal, ama da rainha Leonor. Rui de Abreu, alcaide-mor de Elvas, recebia as
rendas das judiarias de Elvas, Juromenha e Vila Boim, ro valor de 113.333 reais.
Manuel I comprometera-se no édito de expulsão das minorias judaica e moura
a indemnizar os beneficiários destas rendas e direitos. Assim o fez utilizando
para isso as sisas, dizimas e direitos dos almoxarifados. O total gasto com as
judiarias da actual região de Portalegre orçou os 275.013 reais aproximadamente».
In Maria Ferro Tavares, Judeus e Cristãos Novos no distrito de Portalegre,
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, Acta do
I Encontro da História Regional e Local, Setembro de 1987.
Cortesia da FCSHUNL/JDACT