sábado, 5 de maio de 2012

Notas acerca das Origens de Portalegre. Uma questão de Geografia Humana. «O arrabalde da Devesa ou do Rossio, que é actualmente o arrabalde mais antigo, desce desde o largo das igrejas, que é hoje o largo da Sé, onde nasce uma longa rua direita que passa por debaixo do arco dessa Porta da Devesa, a porta que é a insígnia da cidade, e que vem terminar no local onde todos os caminhos se encontram, o Rossio…»


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«Quando nos debruçamos sobre a leitura dum mapa da região de São Mamede de imediato comprovamos que a cidade de Portalegre se encontra num cruzamento de caminhos importantes que dela se afastam para Norte (Marvão e Castelo de Vide), para Poente (Fortios, Alpalhão, Alter, Nisa, Crato) e para Sul (Monforte, Arronches, Alegrete) e que, para Nascente, a Serra de São Mamede, com a sua cumeada orientada de noroeste para sueste, que é também a orientação da nossa fronteira com a Espanha, parece ter impedido o aparecimento e o desenvolvimento de qualquer povoação importante nessa direcção e que ela constitui como que uma muralha natural que isola Portalegre da outra aba da Serra. De resto, se atentarmos com mais demora, reparamos que Marvão, Castelo de Vide, Alpalhão, Crato, Monforte, Arronches, Campo Maior e Alegrete se dispõem segundo um arco de circulo que vem de Norte, a Poente e a Sul e que estas povoações distam uns 20 - 25 kms de Portalegre. Ora, essa é a distância que, acompanhado ou não de muares, a pé ou em carruagem de tracção animal, se costuma percorrer durante um dia solar.
E se depois fomos analisar as curvas de nível da Serra e da região de Portalegre, verificamos que, além de não existir nela nenhum povoado importante, de facto a Serra de são Mamede tem a configuração de uma robusta muralha natural definindo uma zona geológica, geográfica, c1imática, cultural e histórica própria. No seu declive, já muito próximo  da cidade de Portalegre essa muralha foi reforçada por um forte castelo quadrangular, infelizmente abandonado e nunca estudado, que é o Atalaião, que parece vigiar as terras vizinhas da Espanha e do qual se domina a planura que se estende para Oeste e para Sul e do qual se avista maís duma dezena de povoações importantes, antigas e actuais: Abrantes, Montalvão, Alter, Nisa, Crato, Estremoz, Monforte, etc.
E se em seguida percorrermos as calçadas das ruas estreitas e tortuosas da velha Vila e assim medirmos o perímetro dos muros da defesa fechada a mando do rei Dinis I em 1920, logo concluímos que encontrámos uma povoação tipicamente moçárabe e que, como tal, parece querer continuar. Além da muralha extensa que a cerca, apercebemos que a vila depressa se prolonga para os arrabaldes que transbordaram para lá das suas portas mas, neste aspecto, das portas que estão viradas para a Serra. E que a Vila desde sempre esteve profundamente ligada à serra.
O arrabalde da Devesa ou do Rossio, que é actualmente o arrabalde mais antigo, desce desde o largo das igrejas, que é boje o largo da Sé, onde nasce uma longa rua direita que passa por debaixo do arco dessa Porta da Devesa, a porta que é a insígnia da cidade, e que vem terminar no local onde todos os caminhos se encontram, o Rossio, local ameno, frondoso, rico de água, convidativo ao repouso do caminhante. Junto à porta de Alegrete fica o arrabalde do Corro ou de S. Francisco onde ainda no século XIII se edificou o convento dos frades mendicantes (1229) que, como sempre, foi construído fora dos muros. A porta do Postigo, aparentemente de menor importância, está virada para a Serra e para a ermida de S. Cristóvão, o orago dos caminhantes, dá passagem aos moradores da rua do Cano, da rua dos Clérigos, da Corredoura e da Mouraria». In Caria Mendes, Notas acerca das Origens de Portalegre. Uma questão de Geografia Humana, Faculdade de Medicina de Lisboa, Actas do I Encontro da História Regional e Local, Setembro de 1987.

Cortesia do CRAP/ESEP/JDACT