sexta-feira, 13 de julho de 2012

Elites Políticas Locais face ao '28 de Maio'. O Caso de Portalegre. Manuel Baiôa. «O principal visado pelas críticas de “A Plebe” era neste período o director do jornal “O Distrito de Portalegre” Severino Santana Marques, que pelo seu passado monárquico era tido como um elemento de pouca isenção política. A União dos Interesses Económicos era considerada uma ‘organização política disfarçada’»


Henrique José Caldeira Queirós. Senador eleito pelo Distrito de Portalegre, em 1925
Cortesia de antonioventura e jdact

«A historiografia portuguesa tem considerado o golpe militar de 28 de Maio de 1926 como um movimento  que aglutinou diversas elites políticas divergentes. Estas elites tinham apenas um objectivo comum, derrubar do poder o partido democrático. De facto, republicanos conservadores, liberais, monárquicos, fascistas e até sectores da esquerda republicana apoiaram o golpe militar. Este grupo heterogéneo tinha uma unidade muito ténue, que desapareceu quando atingiu o poder. As elites políticas apoiantes do 28 de Maio pertenciam a ‘famílias’ políticas muito divergentes quanto ao modelo político a implementar. Após o 28 de Maio, os diferentes grupos que apoiaram o golpe lutaram pela liderança do processo político.
Este enquadramento está relativamente bem estudado a nível central, e central, aqui, significa Lisboa. No entanto, a nível local praticamente nada se sabe.
Como Íoi acolhido o 28 de Maio? Quais as forças políticas que o apoiaram? Quem subiu ao poder apos o golpe? Estas são algumas questões que procuramos responder com este trabalho.

Confronto político em Portalegre no final da I República
Os grandes problemas políticos da I República persistiam ainda em 1925 e alguns deles tendiam para um agravamento:
  • A permanência constante do P.R.P. no governo, tinha levado a um desgaste político das figuras emblemáticas do partido. As constantes acusações de corrupção e a não resolução dos problemas sociais levaram a um ataque cada vez mais cerrado da oposição. Em simultâneo, constantes dissidências fragilizavam o maior partido da República;
  • Para os sectores mais conservadores a República linha cedido em demasia às reivindicações operárias, e por isso sentiam-se traídos pelo partido democrático. O operariado, pelo contrário, julgava que os avanços em termos sociais tinham sido diminutos;
  • Lentamente tanto à direita do P.R.P. como à esquerda deste, um vasto grupo heterogéneo uniu-se num objectivo comum, o derrube do partido democrático do poder.
Em Portalegre detectamos alguns sinais que vão ao encontro deste enquadramento geral. O partido democrático no final da República viu a sua liderança histórica no concelho e no distrito ser ameaçada por coligações políticas que o queriam afastar do poder. Nas eleições legislativas de 1925 os monárquicos conseguem eleger dois senadores no distrito de Portalegre, João Azevedo Coutinho (3885 votos) e Álvaro César de Mendonça (3289 votos), enquanto os democráticos apenas conseguem eleger o independente republicano, Henrique Caldeira Queirós (3502 votos). O prestigiado democrático Jorge Velês Caroço ficou à beira da eleição (3228 votos). Os outros candidatos obtiveram resultados pouco significativos.
Na eleição para a Câmara de Deputados no círculo de Portalegre Severino Santana Marques da União dos Interesses Económicos foi o mais votado (1957 votos). Este candidato concorreu na mesma lista (considerada por eles conservadora), com o candidato monárquico Mário Miranda Monteiro (1892 votos) que por dois votos não foi eleito. Os candidatos democráticos João José Camoêsas e o candidato Baltazar d'Almeida Teixeira obtiveram 1894 votos, sendo os dois eleitos. Os outros candidatos obtêm resultados muito distantes destas duas listas: António Correia, republicano independente e regionalista (892 votos); Bartolomeu Denis Soares, nacionalista (493 votos); Justiniano Augusto Esteves, radical (118 votos); António Casimiro Costa, republicano independente, (35 votos).

Hildeberto Botelho Medeiros, tenente e membro da 1a Comissão Executiva, após o ‘28 de Maio’
Cortesia de antonioventura e jdact

Como podemos verificar, os monárquicos e a aliança destes com a União dos Interesses Económicos (na eleição para a Câmara dos deputados) são os grandes rivais dos democráticos no distrito de Portalegre e no círculo de Portalegre.
Os democráticos têm plena consciência desta realidade. Mesmo antes das eleições, no seu órgão, “A Plebe”, referem que em ‘Portalegre há duas listas em luta. Duas listas apenas: a do P.R.P e a monárquica. Porque as outras ou são monárquicos disfarçados ou são de partidos que não ‘teem’ força apreciável no círculo’.
O principal visado pelas críticas de “A Plebe” era neste período o director do jornal “O Distrito de Portalegre” Severino Santana Marques, que pelo seu passado monárquico era tido como um elemento de pouca isenção política. A União dos Interesses Económicos era considerada uma ‘organização política disfarçada’. Já que segundo “A Plebe”, ao verificar que podia perder as eleições para o P.R.P, o "orgão monarquico (...) [O Distrito de Portalegre] sem o menor Rebuço sem o mais leve vislumbre de vergonha, sem respeito algum pelas afirmações anteriormente feitas, recomendaram com o maior descaramento a votação em chapa nos candidatos monarquicos e da união dos interesses’». In Manuel Baiôa, Elites Políticas Locais face ao '28 de Maio', O Caso de Portalegre, Ibn Maruán, Revista Cultural do Concelho de Marvão, Coordenação de Jorge Oliveira, nº 7, 1997.

Cortesia da CM de Marvão/JDACT