Cortesia de ass
Com a devida vénia a Ana Sofia da Silva (12 anos) publico o seu trabalho.
A Fabrica Robinson
«Historicamente,
podemos encontrar referências a uma unidade transformadora de cortiça na cidade
de Portalegre desde o ano de 1835. Segundo os registos, uma família inglesa de
nome Reynolds, explorava, nessa data, uma pequena fábrica de cortiça.
Por essa mesma
altura, outro cidadão da nação inglesa, George Robinson, começou a
interessar-se por um negócio similar, pelo que tentou documentar-se mais
profundamente sobre a matéria-prima que, desde há muito trabalhava em Halifax,
na Inglaterra.
Rapidamente, se
afeiçoou ao “modus vivendis” português e decidiu fixar-se com a família em
Portalegre. Nas traseiras da 1ª casa que adquiriu no sítio da Boavista,
instalou o primeiro núcleo de produção de rolhas.
Por volta de
1840 adquire aos seus conterrâneos Reynolds, o direito de exploração da unidade
que estes tinham instalado no edifício em ruínas do extinto Convento de São
Francisco.
Para fazer
progredir a sua actividade, este empresário adquiriu extensas áreas de montado,
e fez contratos locais, com 50 anos de duração, para tiragem de cortiça,
diversificando produções.
Este empresário
inglês introduziu em Portalegre um novo conceito de industrialização, instalando
nova tecnologia e novas máquinas, nunca vistas no sector corticeiro.
A pequena unidade
rapidamente se transformou num importante centro corticeiro.
Mas será o seu
filho, George Wheelhouse Robinson a figura mais marcante da história da fábrica
de cortiça de Portalegre. Inteligente, dinâmico e de uma formação técnica e
humana fora do comum para época, o jovem Robinson ficará para sempre associado
à historia industrial e social, desta pequena cidade do interior alentejano.
Introduz
profundas alterações tecnológicas (máquina a vapor, gerador eléctrico, novos
métodos de corte e brocagem de rolhas, etc.), racionaliza “lay-out’s”
produtivos, melhora produtividades.
Mas não se fica
por aqui, também expande o negócio e alarga a sua actividade industrial à Estremadura
Espanhola, adquirindo diversas fábricas em San Vicente de Alcântara.
Além de se
preocupar com a produção, este inglês preocupa-se sobretudo com a segurança dos
seus operários
No inicio do
século XX, a “Fábrica da Rolha” como então era conhecida, empregava mais de
2000 trabalhadores.
É o próprio
Wheelhouse que cria o primeiro sindicato operário da história da actividade
corticeira, mas também uma creche para os filhos dos operários e a cooperativa
de abastecimento operária, algo completamente inovador na nossa cidade.
Patrocina
algumas actividades de apoio aos mais necessitados.
Está na origem
da Associação de Bombeiros de Portalegre, fundada em 1899 e em 1903, funda a
sua própria Corporação de Bombeiros Privativos. Em termos fabris
nunca deixou de introduzir novas metodologias produtivas e entre 1910 e 1915
instala a primeira produção de aglomerados de cortiça para revestimento.No seu entendimento
a cortiça processada deverá permanecer fiel à sua origem 100% natural.
“A Queda” da
Robinson
Seguem-se anos
difíceis para a fábrica de Portalegre. A perturbação trazida à Europa pelos
ventos da 2ª Guerra Mundial e a postura “indiferente” do Governo de Salazar
terão tido o seu contributo no agudizar das dificuldades.
A fábrica chegou
a estar encerrada por um período de cerca de 3 anos. Em 1942, os herdeiros da casa
Robinson vêem-se obrigados de se desfazer da centenária fábrica.
Um grupo
português passa a comandar os destinos da fábrica, mas, respeitosamente,
conservará a denominação de origem. Num período de
10 anos, a centenária fábrica recupera a vitalidade produtiva e comercial e no
início dos anos 40, inicia-se na produção dos aglomerados puros expandidos, mais
conhecidos como aglomerado negro. As preocupações
de “qualidade” passam a ser uma regra básica para o desenvolvimento produtivo. Os anos 60
correspondem a um novo período áureo para a actividade da fábrica Robinson o
qual se prolongará pela década de 70.
A revolução de
Abril, traduziu-se em profundas alterações sociais vividas no Alentejo, deixando
marcas na actividade da velha corticeira.
Os sinais de
envelhecimento tornam-se cada vez mais evidentes: nas máquinas, nos edifícios e
na vontade dos homens.
Na década de 80 foram
anunciadas mudanças estruturais que acabam por não acontecer com a profundidade
desejada.
Os anos 90 veio
demonstrar que a velha forma de produzir, teria de ser acompanhada por um espaço
comercial no universo dos produtos corticeiros, pois só assim se viabiliza a
continuidade da actividade corticeira da Fábrica Robinson numa nova unidade a
implantar na zona industrial de Portalegre.
Para trás ficam
mais de 160 anos da história corticeira que interessa estudar e preservar do
ponto de vista social e arqueológico-industrial.
No emblemático Espaço Robinson, do Largo do
Jardim Operário, encontra-se agora um espaço multidisciplinar, denominada como
Fundação Robinson». In Ana Sofia Ferreira da Silva, Portalegre, 12 anos de
idade.
Cortesia da Autora/JDACT