terça-feira, 3 de julho de 2012

Numismática Ammaiense. Notas preliminares. Sofia Borges, Joaquim Carvalho, Sérgio Pereira. «A importância e a singularidade das construções postas a descoberto, umas de carácter público […] a presença de um elevado número de moedas ou numismas exumadas, originárias das mais diversas oficinas de cunhagem do império romano»


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Introdução
«O testemunho mais representativo e extraordinário da romanização do Norte Alentejano é, certamente, a cidade romana de Ammaia. Localizada junto de importantes recursos hídricos, a antiga urbe cresceu e expandiu-se por uma área aproximada de 22 hectares, cuja área central é actualmente formada pela Quinta do Deão e Tapada de Aramenha, na freguesia de S. Salvador de Aramenha, concelho de Marvão, distrito de Portalegre.
Ignorada pelas autoridades competentes, a cidade permaneceu adormecida até 1994, ano em que ganhou vida um dos maiores projectos arqueológicos, a nível nacional, graças à determinação de Carlos Melancia, Jorge de Qliveira, não excluindo a colaboração de algumas instituições públicas, nomeadamente, a Câmara Municipal de Marvão e a Universidade de Évora. A constituição da “Fundação Cidade de Ammaia” foi o passo seguinte rumo à prossecução deste empreendimento turístico-arqueológico.
Concluído o levantamento topográfico e a imprescindível marcação das quadrículas, a partir de Outubro de 1994, iniciaram-se os primeiros trabalhos arqueológicos. Uma equipa qualificada, conjuntamente com alguns operários de arqueologia locais e muitos jovens nacionais e estrangeiros puseram mãos à obra e desde então têm escavado em diferentes áreas, criteriosamente seleccionadas.
A importância e a singularidade das construções postas a descoberto, umas de carácter público, outras simplesmente domésticas, é complementada pela recolha de vestígios móveis, resultantes da ocupação da cidade, na época romana. A quantidade e diversidade das cerâmicas recolhidas transmite-nos a importância funcional que teriam no quotidiano familiar. Porém, merece especial destaque a presença de um elevado número de moedas ou numismas exumadas, originárias das mais diversas oficinas de cunhagem do império romano.

Assim, com este contributo, pretendemos apresentar e divulgar o potencial numismático da actual colecção da “Fundação Cidade de Ammaia”, de ora em diante FCA, na sua vertente quantitativa, qualitativa e importância documental. Tentaremos, ainda, analisar a sua forte concentração, ou quase inexistência, em certas áreas específicas já escavadas. Assim, não tencionamos atribuir a este estudo um carácter exclusivamente científico. Em primeiro lugar consideramos pertinente elaborar uma breve síntese do trabalho efectuado, até ao momento, resultante do esforço e da boa vontade de muitos anónimos, aqui recordados, dignos amigos da “Ammaia”.


 
Áreas de intervenção
Privilegiando os sectores A, B e D, foram seleccionadas cinco áreas de intervenção:
  • a Porta Sul,
  • o Peristilo,
  • o Forum,
  • o Balneário do Forum,
  • o Edificio da Quinta do Deão.
A existência de vestígios à superfície, bem como questões de ordem técnica determinaram a preferência daquelas áreas. A intervenção na área, a que mais tarde denominámos Porta Sul, permitiu pôr a descoberto uma das portas da cidade, provavelmente, a mais importante, de onde seguiria uma via em direcção à capital da província, “Emerita Augusta (Mérida)”. Esta entrada terá sido, num dado momento, monumentalizada com a construção de duas torres circulares, um arco, conhecido por Arco da Aramenha, e uma imponente praça pública. As torres ladeavam uma das portas da cidade e eram, ao mesmo tempo, o ponto de partida da muralha, limite do perímetro urbano. Do arco que fora construído entre as duas torres, apenas se conservaram vestígios do arranque do mesmo e a soleira da porta. Daqui partia um dos eixos principais da cidade, o “cordus maximus”, que dividia em duas partes, simétricas, uma praça pública, pavimentada com lajes, de granito quadrangulares. Para nosso gáudio, o lado direito da praça, para quem entra na cidade, permaneceu praticamente intacto, do lado oposto apenas restaram algumas lajes “in situ”». In Sofia Borges, Joaquim Carvalho, Sérgio Pereira, Numismática Ammaiense, Notas preliminares, Ibn Maruán, Revista Cultural, nº 9/10, Marvão, 1999-2000, Edições Colibri, CM de Marvão.

Cortesia de E. Colibri/JDACT