jdact
Tenho Tanto
Sentimento
Tenho tanto sentimento
que é frequente persuadir-me
de que sou sentimental,
mas reconheço, ao medir-me,
que tudo isso é pensamento,
que não senti afinal.
Temos, todos que vivemos,
uma vida que é vivida
e outra vida que é pensada,
e a única vida que temos
é essa que é dividida
entre a verdadeira e a errada.
Qual porém é a verdadeira
e qual errada, ninguém
nos saberá explicar;
e vivemos de maneira
que a vida que a gente tem
é a que tem que pensar.
Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"
que é frequente persuadir-me
de que sou sentimental,
mas reconheço, ao medir-me,
que tudo isso é pensamento,
que não senti afinal.
Temos, todos que vivemos,
uma vida que é vivida
e outra vida que é pensada,
e a única vida que temos
é essa que é dividida
entre a verdadeira e a errada.
Qual porém é a verdadeira
e qual errada, ninguém
nos saberá explicar;
e vivemos de maneira
que a vida que a gente tem
é a que tem que pensar.
Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"
jdact
Tomamos a
Vila depois de um Intenso Bombardeamento
A criança loura
jaz no meio da rua.
Tem as tripas de fora
e por uma corda sua
um comboio que ignora.
A cara está um feixe
de sangue e de nada.
Luz um pequeno peixe
- Dos que bóiam nas banheiras -
à beira da estrada.
Cai sobre a estrada o escuro.
Longe, ainda uma luz doura
a criação do futuro...
E o da criança loura?
Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"
jaz no meio da rua.
Tem as tripas de fora
e por uma corda sua
um comboio que ignora.
A cara está um feixe
de sangue e de nada.
Luz um pequeno peixe
- Dos que bóiam nas banheiras -
à beira da estrada.
Cai sobre a estrada o escuro.
Longe, ainda uma luz doura
a criação do futuro...
E o da criança loura?
Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"
jdact
Teus Olhos
Entristecem
Teus olhos entristecem
nem ouves o que digo.
Dormem, sonham esquecem...
Não me ouves, e prossigo.
Digo o que já, de triste,
te disse tanta vez...
Creio que nunca o ouviste
de tão tua que és.
Olhas-me de repente
de um distante impreciso
com um olhar ausente.
Começas um sorriso.
Continuo a falar.
Continuas ouvindo
o que estás a pensar,
já quase não sorrindo.
Até que neste ocioso
sumir da tarde fútil,
se esfolha silencioso
o teu sorriso inútil.
Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"
nem ouves o que digo.
Dormem, sonham esquecem...
Não me ouves, e prossigo.
Digo o que já, de triste,
te disse tanta vez...
Creio que nunca o ouviste
de tão tua que és.
Olhas-me de repente
de um distante impreciso
com um olhar ausente.
Começas um sorriso.
Continuo a falar.
Continuas ouvindo
o que estás a pensar,
já quase não sorrindo.
Até que neste ocioso
sumir da tarde fútil,
se esfolha silencioso
o teu sorriso inútil.
Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"
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