O Tempo das Pirâmides
«O Egipto do tempo das pirâmides é o dos alvores da civilização faraónica.
Estende-se de 2700 a.C. até cerca de 1750 a.C. e corresponde, ao longo de quase
um milénio, ao intervalo a que os historiadores modernos chamaram o Império Antigo e o Império Médio. Um dos traços comuns a todo este período reside no
modo de inumação dos faraós: os seus túmulos são pirâmides de pedra monumentais
que se erguem no deserto como símbolos de um poder universal. Este dealbar do
Egipto faraónico não significa um começo vacilante. Pelo contrário, marca, para
aquela antiga civilização, uma idade de ouro que viria a ficar na memória dos
sucessores como apogeu e modelo a seguir.
Um pouco de história
Aproximadamente século e meio antes de 3000 a.C., na chamada época
tinita, o sistema faraónico está, já estabelecido: o monarca, por
direito divino, governa as duas terras, designação do Alto e do
Baixo Egipto, reunidos sob a sua autoridade. É a sua administração que organiza
o trabalho dos campos, começando a gerir a irrigação e a controlar a manutenção
dos canais. Para facilitar o exercício do poder, desenvolve-se a escrita, por
meio de ideogramas inspirados no mundo animal e vegetal das margens do Nilo.
Aqui e ali, no segredo dos santuários, os sacerdotes fazem oferendas aos
múltiplos deuses cuja intercessão permite manter a ordem cósmica e evitar o
regresso ao caos.
A população egípcia começa a formar um grupo social composto por
camponeses e artesãos, agrupa-se em aldeias nas duas margens do Nilo e vive da
caça, da pesca, da recolecção, da agricultura e da pecuária. A implantação
territorial faz-se em aglomerações instaladas fora das terras inundáveis mas
perto dos terrenos de cultivo: está em curso o aproveitamento das cheias do
Nilo, instigado pela necessidade de alimentar uma população cada vez mais
numerosa.
Estendendo-se por mais de 1000 quilómetros, entre o Mediterrâneo e o
coração de África, o Egipto é o berço de uma população originalmente heterogénea,
porque marcada pelas características próprias das diversas migrações que
conheceu no IV milénio. O cruzamento desses traços étnicos acabou por conduzir
a um tipo
egípcio notável e particularmente bem ilustrado na estatuária faraónica. Os
retratos feitos pelos escultores egípcios dão conta de uma população de
estatura mediana, com uma pele clara que o sol ardente tende a tisnar, e de
finas feições não negróides. O cabelo é negro e liso, por vezes ondulado mas
nunca crespo. Como é de esperar, quanto mais se avança para o interior de África,
mais a fisionomia tem tendência para exibir traços negróides, influência natural
do contexto geográfico.
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Entre 3000 e 1750 a.C., o vale do Nilo conhece um forte aumento demográfico, quando, já desde o início do IV milénio, uma agricultura cada vez mais bem coordenada veio tomar o lugar de uma economia de caça e recolecção. Calcula-se que em 3000 a.C. a população seja de 850 000 habitantes e que atinja os 2 milhões por volta de 1800 a.C. Os Egípcios deste período vivem na planície aluvial, com uma maior densidade entre Assuão e Quft, no Alto Egipto, e entre Faium e a ponta sul do Delta, no Baixo Egipto. Até uma época muito tardia, as regiões próximas do Mediterrâneo não atraem a população: o carácter essencialmente nilótico deste povo é, de resto, um dos seus traços constantes. O mar é uma porta para o desconhecido e causa temor, e o Delta um vasto pantanal de que apenas o centro é habitado, enquanto as franjas são deixadas para a criação de gado. A escassez de nascentes de água doce é um dos factores determinantes da fraca atracção exercida por esta zona. Em tais condições, podemos estimar a superfície do Egipto do tempo das pirâmides em aproximadamente 8000 km2». In Guillemette Andreu, L’Egypte au Temps des Pyramides, Hachette Littérature, 1999, A Vida Quotidiana no Egipto no Tempo das Pirâmides, Edições 70, Lisboa, colecção de História Narrativa, 2005, ISBN 972-44-1237-7.
Cortesia de Edições 70/JDACT