Meu Be«be»zinho lindo:
Não imaginas a graça que te achei hoje á janella da casa de tua irmã! Ainda
bem que estavas alegre e que mostraste prazer em me ver (Álvaro de Campos).
Tenho estado muito triste, e além d'isso muito cansado - triste não só por
te não poder ver, como também pelas complicações que outras pessoas teem
interposto no nosso caminho. Chego a crer que a influência constante,
insistente, hábil d'essas pessoas; não ralhando contigo, não se oppondo de modo
evidente, mas trabalhando lentamente sobre o teu espírito, venha a levar-te
finalmente a não gostar de mim. Sinto-me já differente; já não és a mesma
que eras no escriptorio. Não digo que tu própria tenhas dado por isso; mas dei
eu, ou, pelo menos, julguei dar por isso. Oxalá me tenha enganado...
Olha, filhinha: não vejo nada claro no futuro. Quero dizer: não vejo o que
vãe haver, ou o que vãe ser de nós, dado, de mais a mais, o teu feitio de
cederes a todas as influencias de familia, e de em tudo seres de uma opinião
contraria á minha. No escriptorio eras mais dócil, mais meiga, mais
amorável.
Enfim...
Amanhã passo há mesma hora no Largo de Camões. Poderás
tu aparecer à janella?
Sempre e muito teu
Cortesia de I. Camões/JDACT