sábado, 1 de dezembro de 2012

“Azulejo sábio” e Poesia. Alexandre O’Neill. «Se é que nele algo mais que não seja o meu desejo de “mostrar uma realidade” e envolver nele os poemas… É a acção e os factos que não inventei. Uma questão entregue ao critério…»

Pavões
jdact e cortesia de wikipedia

Os Amantes de Novembro
Ruas e ruas dos amantes
sem um quarto para o amor
amantes são sempre extravagantes
e ao frio também faz calor.

Pobres amantes escorraçados
dum tempo sem amor nenhum
coitados tão engalfinhados
que sendo dois parecem um.

De pé imóveis transportados
como uma estátua erguida num
jardim votado ao abandono
de amor juncado e de outono.


Há Palavras que nos Beijam
Há palavras que nos beijam
como se tivessem boca.
Palavras de amor, de esperança,
de imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas que beijas
quando a noite perde o rosto;
palavras que se recusam
aos muros do teu desgosto.

De repente coloridas
entre palavras sem cor,
esperadas inesperadas
como a poesia ou o amor.

(O nome de quem se ama
letra a letra revelado

no mármore distraído
no papel abandonado).

Palavras que nos transportam
aonde a noite é mais forte,
ao silêncio dos amantes
abraçados contra a morte.
Poemas de Alexandre O'Neill, in 'No Reino da Dinamarca'

JDACT