«Há, em Bernardo Marques, uma relação íntima não só sentimental e tão pouco
só crítica, como a Vila de Sintra, terra da permanência lírica do romantismo
português, e os seus arredores próximos, como terá havido outra, de idêntica
intensidade, julgo, com Lisboa. Da capital portuguesa, foi ele entre os os anos
trinta e cinquenta o seu maior criador de imagens; o celebrante e apaixonado
observador de uma Lisboa que tão bem soube olhar, por dentro da sua paixão
visível, como a sua cidade lindíssima, mas sempre indecisa entre a ascensão às
frustes glórias urbanas e a sã resistência bairrista, ou ingenuamente
provincial, a esses desígnios e políticas.
Com Sintra, porém, a sua relação possui certa ambiguidade quanto a mim:
soma-se nela a aproximação queiroziana, sem a qual só haveria uma Sintra que
não se entende, à entrega enamorada por outros encantos sem a qual, por sua
vez, haveria também uma Sintra desconhecida. A Sintra de Bernardo é a velha Vila,
são os palácios, o castelo dos Mouros e um certo tom social a que esta
privilegiada paisagem da Serra, verde-azul, ocre e doirada serve de fundo; mas,
a par, é ainda, e sobretudo, Colares, são outros sítios como a Eugaria, e aqui,
o Casal
da Serrana que foi a primeira habitação e atelier de Alfredo
Keil, músico e pintor de um lírico prolongamento final do romantismo (Serranaé também o título de uma ópera sua) antes de vir a ser, mais tarde, sua casa de campo e o atelier do fim da vida.
Distinguimos assim, nele, uma Sintra que possui, por um lado, uma tonalidade fin de siècle, literária e gostosamente crítica e, por outro, um comovido deslumbramento, uma entrega do olhar sem malícia cultural, a cativação humilde e experimentada da natureza». In Fernando de Azevedo, Bernardo Marques, Fundação Oriente, Casa Garden, Macau, 1991.
Distinguimos assim, nele, uma Sintra que possui, por um lado, uma tonalidade fin de siècle, literária e gostosamente crítica e, por outro, um comovido deslumbramento, uma entrega do olhar sem malícia cultural, a cativação humilde e experimentada da natureza». In Fernando de Azevedo, Bernardo Marques, Fundação Oriente, Casa Garden, Macau, 1991.
Cortesia de F. Oriente/JDACT