(continuação)
O Mistério Templário
«Devemos, contudo, esclarecer que uma escola esotérica não tem de ser
secreta no sentido de clandestina. No entanto, assim aconteceu com muitas lojas
secretas medievais, porque os tempos eram de obscuridade fanática no seguimento
de um corte dramático (que tem origem nos inícios do cristianismo) entre
a religião exotérica e os círculos esotéricos da cristandade.
Para Fernando Pessoa, a Ordem
do Templo constituiu, na Idade Média, a última esperança numa nova ligação
entre a instituição exotérica católica e os mistérios iniciáticos. No
entanto, autores muito estimáveis, entre os quais René Guénon, insistem que terá havido essa ligação, embora secreta.
Sem colocarmos em causa o valor desses autores, parece-nos que a imoralidade (significando
um estado de consciência longínquo dos arquétipos espirituais) que reinou
amiúde nos estados papais e as constantes perseguições impiedosas aos membros
de círculos esotéricos, instigadas directamente pelos altos dirigentes de Roma,
desmentem claramente essa asserção. Poderão dizer-no, que houve papas pertencentes
a um desses círculos. É provável que em certas épocas tal tenha acontecido.
Porém, infelizmente, esses casos representaram uma minoria.
Numa civilização como a egípcia as escolas esotéricas nada tinham de
clandestinas, estando perfeitamente integradas na estrutura organizativa do
Estado.
Muitos autores, não podendo deixar de se referir à actuação externa, à
qual chamam histórica, dos Templários, persistem em negar o fundo esotérico
da Ordem do Templo, que classificam de fantasias inverosímeis. Porém, se
tivessem real amor à verdade, parafraseando António
Telmo, facilmente constatariam que esse fundo existe e é denso. É claro que
muitos pseudo-esoteristas aventureiros têm dado liberdade à sua fantasia, mas
isso não invalida, de modo nenhum, a existência de um real fundo esotérico.
Vendedores de fantasias e historicistas formais talvez sejam os dois lados de
um mesmo estádio de consciência.
No processo que levou à extinção dos Templários, o advogado Raoul de Prestes afirmou ter ouvido do
templário Gervais de Beauvais o
seguinte:
- (...) havia na Ordem um regulamento tão extraordinário e sobre o qual deveria ser guardado um tal segredo que qualquer um teria preferido que lhe cortassem a cabeça a revelá-lo.
Também nos ficou a lenda coetânea sobre a adoração dos Templários a um
enigmático Baphomet, sobre o qual Fulcanelli
se referiu com acerto:
- Próclo diz textualmente que Métis (..) era o deus hermafrodita dos adoradores da Serpente. Sabe-se que os helenos designavam pela palavra Métis, a Prudência [etimologicamente saber andar no perigo], venerada como esposa de Júpiter Em suma, esta discussão filológica prova de maneira incontestável que Baphomet era a expressão pagã de Pan. Ora, como os Templários, os Ofitas [irmandade da Serpente, fraternidade gnóstica do Egipto do séc. II] tinham dois baptismos: um, o da água, ou exotérico: o outro, esotérico, o do espírito ou do fogo. Este último chamava-se baptismo de Meteu.
Segundo uma tradição maçónica, os Templários representavam o Christos
por uma serpente, isto em consonância com a tradição simbólica oriental, de
origem muito antiga que chamava nagas (serpentes) aos grandes
iniciados, e também em conformidade com a tradição dos gnósticos ofitas,
os adoradores da serpente. Em grego, ophis, a serpente, é praticamente um
anagrama de sophia, a sabedoria, só falta a letra A. Mas a ligação doutrinal dos
Templários às escolas esotéricas dos cristãos gnósticos, detentores do
cristianismo secreto, torna-se sólida através de várias evidências. Uma delas
assenta na existência de um selo templário secreto descoberto em França. Este
selo, que hoje se encontra no acervo dos Arquivos Nacionais de França,
tem a inscrição Secretum Templi e a
representação figurada do Abraxas,
uma palavra mística utilizada
pelos gnósticos, entre os quais Basílides,
o sábio gnóstico que fundou uma escola esotérica em Alexandria, no final do
século I d. C. O padre cristão Clemente
de Alexandria considerava-o um filósofo
dedicado à contemplação das coisas divinas, enquanto que outros líderes
do cristianismo nascente, ligados à facção literalista (exotérica), tais como Ireneu e Tertuliano, não se pouparam a esforços para o denegrir e difamar.
Por esta razão, parece-nos evidente que a extinção dos Templários deverá ter causas
profundas relacionadas com essa oposição entre o cristianismo literalista e o cristianismo
esotérico, cuja origem se encontra nos tempos iniciais dos diversos movimentos
cristãos.
Um símbolo que se encontra amiúde nas estelas funerárias e nos monumentos
templários é a estrela de cinco pontas, também designado pentagrama. É uma figura
tradicionalmente relacionada com propriedades mágicas, talvez devido às ondas
de forma que emite, por isso é vulgarmente representada nos talismãs da religiosidade
popular. Está relacionada com o número de ouro e com o 5, número que constitui a soma do primeiro par (2) e do primeiro ímpar (3),
em termos pitagóricos o 1, a
unidade, não é considerada nem par nem ímpar, ou seja, representa o andrógino,
aquele que realiza com êxito as bodas alquímicas, o iniciado que supera o
quaternário da personalidade. Os pitagóricos iniciavam as cartas aos seus
irmãos com o desenho de uma estrela de cinco Pontas». In Paulo Alexandre Loução, Dos Templários
à nova Demanda do Graal, O Espírito dos Descobrimentos Portugueses, Ésquilo,
Lisboa, 2005, ISBN 972-8605-26-9.
continua
Cortesia de Ésquilo/JDACT