sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Dos Templários à nova Demanda do Graal. Paulo A. Loução. «Um símbolo que se encontra amiúde nas estelas funerárias e nos monumentos templários é a estrela de cinco pontas, também designado pentagrama. Está relacionada com o número de ouro e com o “5”, número que constitui a soma do primeiro par “(2)” e do primeiro ímpar “(3)”. Os pitagóricos iniciavam as cartas com o desenho de uma estrela de cinco pontas»

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(continuação)

O Mistério Templário
«Devemos, contudo, esclarecer que uma escola esotérica não tem de ser secreta no sentido de clandestina. No entanto, assim aconteceu com muitas lojas secretas medievais, porque os tempos eram de obscuridade fanática no seguimento de um corte dramático (que tem origem nos inícios do cristianismo) entre a religião exotérica e os círculos esotéricos da cristandade.
Para Fernando Pessoa, a Ordem do Templo constituiu, na Idade Média, a última esperança numa nova ligação entre a instituição exotérica católica e os mistérios iniciáticos. No entanto, autores muito estimáveis, entre os quais René Guénon, insistem que terá havido essa ligação, embora secreta. Sem colocarmos em causa o valor desses autores, parece-nos que a imoralidade (significando um estado de consciência longínquo dos arquétipos espirituais) que reinou amiúde nos estados papais e as constantes perseguições impiedosas aos membros de círculos esotéricos, instigadas directamente pelos altos dirigentes de Roma, desmentem claramente essa asserção. Poderão dizer-no, que houve papas pertencentes a um desses círculos. É provável que em certas épocas tal tenha acontecido. Porém, infelizmente, esses casos representaram uma minoria.
Numa civilização como a egípcia as escolas esotéricas nada tinham de clandestinas, estando perfeitamente integradas na estrutura organizativa do Estado.
Muitos autores, não podendo deixar de se referir à actuação externa, à qual chamam histórica, dos Templários, persistem em negar o fundo esotérico da Ordem do Templo, que classificam de fantasias inverosímeis. Porém, se tivessem real amor à verdade, parafraseando António Telmo, facilmente constatariam que esse fundo existe e é denso. É claro que muitos pseudo-esoteristas aventureiros têm dado liberdade à sua fantasia, mas isso não invalida, de modo nenhum, a existência de um real fundo esotérico. Vendedores de fantasias e historicistas formais talvez sejam os dois lados de um mesmo estádio de consciência.
No processo que levou à extinção dos Templários, o advogado Raoul de Prestes afirmou ter ouvido do templário Gervais de Beauvais o seguinte:
  • (...) havia na Ordem um regulamento tão extraordinário e sobre o qual deveria ser guardado um tal segredo que qualquer um teria preferido que lhe cortassem a cabeça a revelá-lo.
Também nos ficou a lenda coetânea sobre a adoração dos Templários a um enigmático Baphomet, sobre o qual Fulcanelli se referiu com acerto:
  • Próclo diz textualmente que Métis (..) era o deus hermafrodita dos adoradores da Serpente. Sabe-se que os helenos designavam pela palavra Métis, a Prudência [etimologicamente saber andar no perigo], venerada como esposa de Júpiter Em suma, esta discussão filológica prova de maneira incontestável que Baphomet era a expressão pagã de Pan. Ora, como os Templários, os Ofitas [irmandade da Serpente, fraternidade gnóstica do Egipto do séc. II] tinham dois baptismos: um, o da água, ou exotérico: o outro, esotérico, o do espírito ou do fogo. Este último chamava-se baptismo de Meteu.
Segundo uma tradição maçónica, os Templários representavam o Christos por uma serpente, isto em consonância com a tradição simbólica oriental, de origem muito antiga que chamava nagas (serpentes) aos grandes iniciados, e também em conformidade com a tradição dos gnósticos ofitas, os adoradores da serpente. Em grego, ophis, a serpente, é praticamente um anagrama de sophia, a sabedoria, só falta a letra A. Mas a ligação doutrinal dos Templários às escolas esotéricas dos cristãos gnósticos, detentores do cristianismo secreto, torna-se sólida através de várias evidências. Uma delas assenta na existência de um selo templário secreto descoberto em França. Este selo, que hoje se encontra no acervo dos Arquivos Nacionais de França, tem a inscrição Secretum Templi e a representação figurada do Abraxas, uma palavra mística utilizada pelos gnósticos, entre os quais Basílides, o sábio gnóstico que fundou uma escola esotérica em Alexandria, no final do século I d. C. O padre cristão Clemente de Alexandria considerava-o um filósofo dedicado à contemplação das coisas divinas, enquanto que outros líderes do cristianismo nascente, ligados à facção literalista (exotérica), tais como Ireneu e Tertuliano, não se pouparam a esforços para o denegrir e difamar. Por esta razão, parece-nos evidente que a extinção dos Templários deverá ter causas profundas relacionadas com essa oposição entre o cristianismo literalista e o cristianismo esotérico, cuja origem se encontra nos tempos iniciais dos diversos movimentos cristãos.
Um símbolo que se encontra amiúde nas estelas funerárias e nos monumentos templários é a estrela de cinco pontas, também designado pentagrama. É uma figura tradicionalmente relacionada com propriedades mágicas, talvez devido às ondas de forma que emite, por isso é vulgarmente representada nos talismãs da religiosidade popular. Está relacionada com o número de ouro e com o 5, número que constitui a soma do primeiro par (2) e do primeiro ímpar (3), em termos pitagóricos o 1, a unidade, não é considerada nem par nem ímpar, ou seja, representa o andrógino, aquele que realiza com êxito as bodas alquímicas, o iniciado que supera o quaternário da personalidade. Os pitagóricos iniciavam as cartas aos seus irmãos com o desenho de uma estrela de cinco Pontas». In Paulo Alexandre Loução, Dos Templários à nova Demanda do Graal, O Espírito dos Descobrimentos Portugueses, Ésquilo, Lisboa, 2005, ISBN 972-8605-26-9.

continua
Cortesia de Ésquilo/JDACT